O Amapá, localizado no extremo norte do Brasil, encontra-se em uma situação singular e preocupante: é o único estado brasileiro sem ligação rodoviária com o resto do país. Essa condição de isolamento geográfico tem implicações profundas para o desenvolvimento econômico e social da região, além de levantar questões cruciais sobre soberania nacional e uso de recursos estratégicos.
Infraestrutura precária e projetos inacabados
A falta de conexão terrestre é exemplificada pela ponte sobre o Rio Jari, um projeto iniciado em 2001 que permanece incompleto após 23 anos. A obra já consumiu R$ 21 milhões dos cofres públicos, mas resume-se atualmente a enormes pilares no rio. Essa situação reflete um padrão de projetos de infraestrutura paralisados que afetam o desenvolvimento do estado.
O economista Charles Chelala, citado em uma reportagem do G1-AP, enfatiza a importância crítica da infraestrutura rodoviária para o desenvolvimento econômico do Amapá. De acordo com Chelala, a ausência de conexões rodoviárias com o resto do país é um obstáculo significativo para atrair investimentos.
De acordo com o economista, “quando uma empresa vai tomar uma decisão de onde investir, a questão da infraestrutura é fator decisivo.”
Esta falta de conectividade terrestre, na visão do economista, resulta em custos mais elevados para diversos produtos, impactando diretamente o custo de vida da população local.
Potencial portuário como alternativa
Em contraste direto com a visão de Chelala, o vice-governador do Amapá apresenta uma perspectiva diferente. Falando ao Diário do Amapá, Teles Júnior argumentou que, embora a falta de conexões terrestres seja um desafio, não é um fator determinante para o crescimento econômico do estado. O vice-governador enfatiza o potencial do setor portuário como uma alternativa viável e promissora para o desenvolvimento econômico.
Destacando a importância estratégica dos portos do Amapá, especialmente o Porto de Santana, Teles afirma:
“Temos um dos portos mais estratégicos do estado, a produção de grãos do Centro-Oeste e sul do Pará, que sai pelo Amapá, é um importante componente do faturamento do Porto de Santana.”
Ambas as perspectivas têm mérito:
- Infraestrutura Rodoviária: A melhoria das conexões terrestres poderia, de fato, reduzir custos logísticos e tornar o estado mais atrativo para investimentos diversos.
- Potencial Portuário: O fortalecimento do setor portuário pode alavancar a posição estratégica do Amapá como ponto de escoamento para a produção de outras regiões, gerando receitas e oportunidades de desenvolvimento.
Potencial econômico versus restrições ambientais
O ex-ministro da defesa e atual Deputado Federal, Aldo Rebelo, em declaração à Revista Sociedade Militar, aponta para um conflito entre o potencial econômico do estado e as restrições ambientais. De acordo com Rebelo, mais de 70% do território do Amapá é composto por reservas, limitando severamente as áreas disponíveis para cultivo e produção de alimentos.
A possibilidade de exploração de petróleo na Margem Equatorial surge como uma potencial alavanca para o desenvolvimento do estado. Jurandil Juarez, presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Amapá, em entrevista à CNN, defende veementemente essa exploração. De acordo com Juarez, “A gente não pode estar sentado em um pote de ouro, passando fome e sem futuro”. Além disso, argumenta Juarez, os recursos dos royalties poderiam ser investidos em infraestrutura vital para o estado.
Questões de soberania e interesses internacionais
Aldo Rebelo levanta preocupações sobre a influência de interesses internacionais nas decisões que afetam o Amapá. Rebelo afirma que órgãos como o IBAMA e a FUNAI são “dirigidos por interesses internacionais”. O deputado federal sugere, assim, que o Brasil não tem controle efetivo sobre seu próprio território e recursos naturais nessa região estratégica.