Ainda que sofrer o assédio sexual cada vez mais deixe de ser particularidade do sexo feminino, dentro das corporações militares o número de mulheres assediadas é grande. 40% das militares do sexo feminino declaram já ter sido assediadas pelo menos uma vez dentro do local de trabalho.
A pesquisa foi realizada especificamente dentro de setores ligados á segurança pública, não foram entrevistados militares das Forças Armadas brasileiras. O tema foi alvo de pesquisa realizada no fórum de segurança pública da Fundação Getúlio Vargas. Os dados são assustadores, Cerca de 40% das entrevistadas disseram já ter sofrido assédio moral ou sexual no ambiente de trabalho. O assedio geralmente é feito por um superior. Menos de 12% das assediadas denunciam o caso.
Entre os motivos de guardar segredo sobre o assunto se sobressai o medo de ter prejuízos no desenvolvimento da carreira. Principalmente dentro de corporações militares, onde as avaliações são feitas pelos superiores mais próximos, o conceito dado por estes – normalmente por critérios extremamente subjetivos – é o quesito considerado como mais importante para a ascendência funcional.
Essa semana algumas policiais resolveram enfrentar o medo de ter prejuízos à carreira e denunciaram o assédio sexual e moral na Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. O acusado é um oficial, um tenente.
“… esse tenente sempre passava por mim, pelo pátio da companhia e me elogiava. Falava assim: ‘seu sorriso alegra meu dia’, conta Katya F. de Queiros, soldado da Polícia Militar.
“Até que as conversas começaram a ficar mais ousadas”, conta Marcela Fonseca de Oliveira, também soldado da Polícia Militar.
“Na época, meu casamento foi totalmente abalado por isso. Passei muita dificuldade. Tive que voltar para casa dos meus pais. Minha vida foi totalmente destruída por causa disso”, relembra Katya.
Reportagem exibida no Fantástico diz que a única punição sofrida pelo policial foi o afastamento de local de trabalho, ele foi transferido para outro quartel.
Casos de abuso de superiores contra subordinados infelizmente são comuns em instituições militares, assim como em instituições civis. Assédio moral, assédio sexual, abuso de autoridade, perseguições, punições injustas, ameaças, transferências para locais piores por que o militar se negou a realizar favores para superiores são apenas alguns exemplos do que ocorre dentro de quartéis.
Nas instituições onde a hierarquia e disciplina são considerados valores fundamentais, indivíduos que destoam da maioria podem incorrer no erro de tentar usar os pilares institucionais como ferramenta para alavancar ações do tipo que foram narradas acima. Por isso, dentro das próprias instituições militares, inclusive forças armadas, é indispensável que se crie algum tipo de corregedoria, que seja gerida por pessoal neutro, seja acessível, receba e investigue denúncias e tenha liberdade para investigar realmente com isenção os casos denunciados pelos próprios militares.
O assédio sexual obviamente não é sofrido apenas por militares do sexo feminino. Uma pesquisa detalhada revelará que homens também são assediados por superiores do sexo feminino. Há também o assédio homossexual, tratado com mais discrição ainda pelas vítimas.
As militares que denunciaram o caso citado acima tiveram que se dirigir a uma instituição fora de seu setor de trabalho. Se houvesse uma assistência interna talvez o caso não tivesse chegado ao extremo em que chegou.
Robson A.D.Silva – Cientista Social – Revista Sociedade Militar
Dados de fontes diversas e: https://gazetaweb.globo.com/mobile/noticia.php?c=391559&e=3