Nota do Editor de Revista Sociedade Militar I: Esse material foi publicado no site da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e mostra claramente que pelo menos parte da cúpula católica brasileira está atenta e começa a alardear entre os fieis a notícia de que caminhamos para o caos. Dom Aluízio, pouco antes de falecer, deixou um recado importante, que infelizmente tem sido ignorado.
Uma república socialista?
Se os serviços públicos são geridos por empresas particulares, ou pelo governo, é uma questão de eficiência. Não é de ideologia política. Mas não esqueçamos que os serviços públicos “gratuitos” alguém os precisa pagar. A passagem de ônibus eu posso pagar do meu bolso, diretamente para a companhia particular, que presta esse serviço. Ou eu entrego essa mesma contribuição ao governo, para que ele a administre. Não existe jantar gratuito. O socialismo sempre fascinou a mente humana, porque parece ser mais justo, e atender melhor à parte mais pobre da humanidade. Isto, precisamente, sempre foi o ponto fraco do capitalismo: não ter plano de salvação para os perdedores. Mas o socialismo carrega consigo uma mancha execrável. Não é capaz de respeitar o que é inerente ao ser humano, que é a sua liberdade. Como não conseguirá jamais se estabelecer com a concordância dos cidadãos, precisa se impor à força. As cabeças de quem pensa, e é cioso em permanecer livre, rolam inexoravelmente. Esse regime é o mais catastrófico da história, tendo assassinado mais de 80 milhões de rebeldes. Tornou-se uma mancha na história da humanidade.
No Brasil, alegremente estamos correndo para os braços das ditaduras. Sem pejo nenhum, e sem falsete no rosto dos nossos dirigentes, temos relações diplomáticas preferenciais com nações, onde as liberdades individuais são uma quimera. As visitas oficiais a certos países, de visceral princípio socialista, são uma constante. A importação de médicos estrangeiros (não quero duvidar de sua competência profissional), tem como objetivo acostumar nossa população com as belezas do socialismo. Os gastos financeiros com doações em favor de nações mais pobres (todas socialistas), são uma constante. Os Black Blocs, quebrando com grande satisfação os Bancos, mostram que já estão infectados com esse vírus, francamente anti-livre mercado. Os que querem os serviços públicos todos gratuitos, vivem de um delírio deplorável. Tudo está sendo feito à luz do sol. Os condutores da nação terão o direito de dizer: “eu avisei”. É muito provável que entre os condenados pelos crimes do mensalão, já se encontrem aqueles que, no futuro, serão os dirigentes da Nação.
Nota do Editor de Revista Sociedade Militar II: apenas 3 dias antes de Falecer o nobre Bispo publicou 0 texto abaixo. É como se tivesse medo de que o país caísse nas garras de um sistema que já deveria ter sido sepultado ha décadas. Não podemos ignorar esse recado póstumo de um brasileiro, gaúcho tão digno.
24 de abril de 2014. Valeu a pena fazer revolução?
O que moveu os agentes da Revolução de 31 de março, a intervir na sequência politico-histórica do Brasil, foi o medo de acontecer uma instalação de regime de governo, de cunho socialista e marxista. O medo vinha, com realismo, da ilha de Cuba. Nós como cristãos, praticamos uma inata aversão a esses regimes ateus, porque sabemos quanto a Igreja sofreu e sofre nos países comunistas: neles há necessidade de praticar o culto sob os olhos vigilantes do governo; de conformar-se com leis contrárias ao ensinamento de Jesus; de ver encarceramentos de seus líderes; de sofrer cerceamentos permanentes da liberdade. ”Foi para a liberdade que Cristo nos redimiu” (Gal 5, 1). Depois de 50 anos cabe-nos perguntar se aquele golpe revolucionário debelou os males que pretendia evitar.
Parece que os princípios de Hegel, de quebrar toda a estrutura social, para ver se aparece alguma coisa melhor do que esta sociedade, ainda conta com interesse em muitas escolas. Nelas permanece como sedução constante de uma “nova sociedade”. A idéia de Marx de jogar um grupo contra outro, através da luta de classes, continua em alta. Mesmo que suas profecias de união entre os proletários não se tenham jamais cumprido, nem a imposição sangrenta dos ideais comunistas tenha surtido resultados. Hoje parece que o método preconizado por Gramsci, de introduzir o socialismo entre todos, por métodos suaves mas furtivos, está na crista da onda. O meio é a ideologia e a educação a conta gotas, de modo que não se perceba a presença da poção venenosa.
Assim, ficamos em dúvida diante das intenções reais do nosso poder público, frente à amizade com regimes políticos estrangeiros; não entendemos se os médicos trazidos de países socialistas, vieram para ensinar ao povo que os indivíduos devem ser pagos parcimoniosamente em favor do grande partido; se eles vieram para mostrar que não se precisa de família; se a Comissão da Verdade não faz pesquisa seletiva; se a escolha de certos líderes é para ameaçar a legitimidade da economia de mercado; se o projeto nacional de educação, com sua tônica sobre gêneros, de fato quer fazer perecer a família; se o desejo de intervir nos meios de comunicação é para estabelecer a ordem, ou é para tomar conta daquilo que é diferente. O leitor veja se o futuro da liberdade hoje está garantido, ou se as nuvens escuras que se aproximam são prenúncio de tempestades. Não nos caberia um longo caminho de educação?
Dom Aloísio Roque Oppermann – Arcebispo Emérito de Uberaba (MG) Publicado inicialmente em:https://www.cnbb.org.br/OUTROS/DOM-ALOISIO-ROQUE-OPPERMANN/13598-UMA-REPUBLICA-SOCIALISTA
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