Coluna – O que dizem os generais – 5 de setembro de 2017
“Chegamos, assim, ao limiar da ordem política, econômica, social e jurídica. É hora, portanto, de reação, antes que o faça o instinto de sobrevivência coletivo”
Recebemos da equipe de comunicação social do Exército o belo texto do general de Exército Santa Rosa. O referido militar, a despeito de estar na reserva, é extremamente influente e formador de opinião no Exército Brasileiro. Ele recentemente foi convidado a participar junto de vários outros oficiais, como o General Heleno, de reunião com o comandante do Exército (VEJA AQUI). O objetivo foi discutir a situação atual do país.
No texto abaixo Santa Rosa tece algumas críticas sobre a excessiva nomeação de parlamentares para cargos no executivo federal. Fala também sobre o pouco espaço que o tema violência urbana encontra no parlamento. A exemplo do comandante do Exército o general Maynard Marques de Santa Rosa critica a subversão dos valores sociais e a cultura dos direitos sem deveres. Quem deseja entender a mente dos militares que hoje definem os rumos assumidos pela força terrestre não pode deixar de ler o texto a seguir.
Esquizofrenia social, de Maynard Marques de Santa Rosa
A transição atual é prolífica em extravagâncias que espelham interesses de todo o tipo, ensejando uma agenda surpreendente. A proposta de trocar o sistema presidencialista pelo parlamentarista, porém, é tema recorrente. Os políticos costumam culpar o presidencialismo dito de coalizão ou o semiparlamentarismo de tornar o Poder Executivo refém do Legislativo. Marotamente, omitem a causa da desarmonia: o parlamentar em função executiva.
Pelo certo, o senador ou o deputado, ao aceitarem cargo no Executivo, deveriam perder o mandato legislativo, em favor do princípio da independência dos poderes. Da mesma forma, esses políticos fingem esquecer que a soberania popular, fonte de todo o poder, escolheu o presidencialismo puro em dois plebiscitos recentes. Além disso, a proposta é inoportuna. Uma reforma que delega mais autoridade ao estamento político, no momento mais crítico de sua credibilidade, é insensatez.
Outra preocupação relevante é a violência urbana. Embora seja notória a crise geral de segurança pública, o tema não consegue espaço na agenda legislativa. A redoma psicológica em que se abrigam os legisladores no Congresso parece torná-los insensíveis ao sofrimento refletido no índice macabro de 60 mil homicídios ao ano, que supera o total de baixas somadas na Síria e no Afeganistão. A realidade social mostra que os códigos vigentes no País estão defasados. Uma explicação para o imobilismo seria a alienação ideológica.
Contudo, o distúrbio da insensibilidade não se restringe ao âmbito legislativo. A crise econômica e o desemprego de 14 milhões de pessoas não chegam a comover as corporações dos poderes públicos, responsáveis pela expansão de supersalários, que transcendem os limites legais. Sobre fenômeno similar, escreveu Alexis de Tocqueville, em “O Antigo Regime e a Revolução”, que as teses dos enciclopedistas eram temas da moda entre os nobres da França no século XVIII, durante os convescotes de Paris e os saraus da Corte de Versailles, como se não lhes afetassem a própria sobrevivência. Mais do que anomalia emocional ou moral, seria um sintoma de esquizofrenia social.
Outro aspecto contumaz da agenda subliminar é a chamada “teoria do gênero”. Inventada na Europa por pensadoras feministas, pretende alterar as leis da natureza, ao derrogar os sexos, como se o homem e a mulher fossem espécies diferentes dentro do gênero humano. O que surpreende é a assimilação do conceito pela grande mídia, que vem conseguindo inculcar tal aberração na sociedade, até alcançar a legislação governamental.
O fato é que o humanismo perdeu o rumo e transpôs os limites razoáveis, ocasionando um ambiente cada vez mais permissivo. O Brasil, por mais de quatro décadas, tem sido vítima de campanhas “construcionistas”, que subverteram os valores sociais e desnortearam o senso comum. O bombardeio populista e ideológico, a partir da Constituinte de 1988, consolidou uma cultura de direitos sem deveres e minou o princípio da autoridade. O resultado mostra-se nos indicadores de corrupção, violência e impunidade. Para agravar esse quadro, escasseiam-se as lideranças políticas.
Chegamos, assim, ao limiar da ordem política, econômica, social e jurídica. É hora, portanto, de reação, antes que o faça o instinto de sobrevivência coletivo, potencial criador de cenários escatológicos. A ordem social que repousa em base falsa torna a sociedade suscetível ao presságio bíblico: “Quando vierem as chuvas, subirem os rios, soprarem os ventos e a vierem açoitar, ela ruirá, e grande será a sua ruína” (Mateus, 7:25).
* A coluna “O que dizem os GENERAIS” traz até as “páginas” da Revista Sociedade Militar declarações e posicionamentos dos oficiais generais da ativa e reserva da Marinha, Exército e Aeronáutica. Ótimo espaço para aqueles que buscam entender o pensamento / comportamento / tendências dos militares das forças armadas brasileiras.