Fim da DEMOCRACIA se MILITARES vencerem em 2018? Entrevista / Pesquisa para Trabalho de Conclusão de Curso Bacharelado em CS.
“… o Lugar de MILITAR é onde ele quiser… repito, somos cidadãos.”
Transcrição (com permissão) de áudio gravado para uma entrevista despretensiosa para um estudante de Marketing com um dos articulistas da Revista Sociedade Militar – Robson Augusto – Militar R1, Sociólogo, jornalista, arrisca, de forma informal, algumas previsões, faz comentários sobre militares candidatos, alianças e diz como devem ser as coisas se pelo uma parte dos militares que concorrerão em 2018 obtiverem êxito em seu projeto para 2018.
Fim da democracia! Diz uma revista famosa! O que acontece se os militares receberem a apoio da sociedade nas eleições de 2018?
R.Augusto. Essa frase está em um texto da Carta Capital, sobre um tweet do General Villas Bôas. Mas, já temos o apoio da sociedade e digo mais, na medida em que os militares forem mais e mais apoiados e ocuparem seu lugar na política as casas legislativas se tornarão muito mais democráticas e patriotas. Um exemplo: Cerca de 20% das cadeiras do congresso norte americano são ocupadas por ex-militares e isso certamente ajuda aquele país a ser uma democracia consolidada e reconhecida como exemplo para o mundo. A sociedade norte-americana tem os militares em alta conta e, obviamente, são grandes formadores de opinião. Dos membros da Guarda Nacional 67% votaram em Trump. 70% dos fuzileiros navais e 63% dos militares do Army escolheram o candidato republicano(1)… O voto dos militares foi relevante, mas suas declarações de apoio ao republicano talvez tenham sido mais importantes… Algo parecido pode ocorrer aqui no Brasil. Esse fator formador de opinião dos militares inegavelmente existe aqui… é algo muito forte e que nos últimos anos, na medida em que a classe política perdeu status, se potencializou… isso pode e precisa ser trabalhado estrategicamente… auxiliar o país a alcançar um novo horizonte.
Li algo aterrador numa revista essa semana, de uma historiadora com extremo ranço contra militares: “O papel dos militares não é na política, é nos quartéis. Eles não deviam fazer a política partidária!”… Essa pessoa está redondamente enganada… e se considera progressista… O militar é um cidadão e não só pode como deve participar da política, como candidato… como eleitor… como assessor, como conselheiro… como o que quiser. Vou parafrasear algo, para ódio de alguns… o Lugar de MILITAR é onde ele quiser… Repito… somos cidadãos. Portanto, falamos e agimos como bem entendermos. Digo mais, quem diz que não participa da política acaba o fazendo por omissão e acaba jogando a favor do lado oposto.
Quantos militares concorrerão em 2018?
R.Augusto – Prezado, jornais e sites dizem o número de militares que concorre em 2018 chega a 50. Ainda em 2014 o Blog do Montedo e Revista Sociedade Militar – pioneiros no que diz respeito a dar voz aos militares – já mencionaram algo em torno de 40 militares que se candidataram. Antes ainda, em 2012 o MONTEDO divulgou que 35 militares foram eleitos – entre prefeitos e vereadores. Portanto, militar na política não é algo tão novo assim. Eu arrisco dizer que o número de militares candidatos em 2018 será por volta de 100… Somente generais serão pelo menos 5 concorrendo…
Todos os militares apóiam Bolsonaro?
R.Augusto. Não. Nem todos apoiam BOLSONARO. Ha militares que o consideram um politico comum. Ele não é unanimidade, mas é verdade que tem a maioria. No Rio de Janeiro haverá candidatos militares que concorrerão pelo PCdoB. E eles têm o direito de fazer isso. Afinal, estamos um uma democracia e lutaremos sempre pelo direito que cada um tem de defender seus posicionamentos.
Quem financia a campanha dos candidatos militares?
R.Augusto. Sinceramente falando… o militar no geral é um cara duro, com um carro quase sempre velho e uma casa modesta… geralmente tem um ou alguns descontos de empréstimos consignados… Se esforça para bancar a escola dos filhos e pra pagar as contas em dia… e quando consegue isso já se sente feliz… A maior parte dos candidatos militares passou 3 décadas no quartel e não entende muito de conchavos políticos, não têm amigos influentes etc. Mas amam o Brasil, acreditam em pilares como família, verdade etc… e acham que podem ser bons administradores da coisa pública. Fazem o que se chama autofinanciamento de campanha, contando com amigos, parentes e colegas de trabalho. Poucos são os militares considerados “puxadores” de voto e – portanto – os partidos não são generosos com eles sua campanha. No máximo recebem alguns cartazes e santinhos e por isso têm que partir para o corpo a corpo mesmo… Acostumados a ser francos e diretos são meio desengonçados na política… somos vistos como diferentes, autoritários… até grossos.
Em relação ao candidato-militar Jair Bolsonaro, está mais que evidente que sua campanha receberá aporte de muita gente anteriormente desvinculada de qualquer partido político mas que acredita na necessidade de se colocar no governo um candidato conservador. Essa semana soube da inauguração de um outdoor em Belford Roxo… vi as fotografias… é em cima do muro de uma casa humilde… nenhum empresário, ninguém com muitos recursos… eles se uniram e pagaram o outdoor, foi isso… acho que essa coisa vai aumentar… estamos finalmente vendo a sociedade se politizar… sem corrupção, sem achaco, sem promessas de cargos em troca como fazia o antigo cabo eleitoral…
Clubes Militares e associações de militares têm seus candidatos?
R.Augusto. Se têm militares candidatos? Mais ou menos. Considero que ainda estamos bem desarticulados no que diz respeito a isso. Entre as ações dos comandos no pós 64 estava justamente afastar os clubes e associações militares do ativismo político. Todos sabemos do caos gerado pela associação de Marinheiros em 1964. Há história também lembra o discurso de Jango na associação de sargentos da PM. Parece que passou muito tempo, mas nas forças armadas o tempo corre de forma mais lenta… a política ainda é vista com desconfiança por grande parte da categoria.
Os conselhos e diretorias dos CLUBES são bastante reservados quanto a isso – Clubes recreativos de sargentos normalmente tem um presidente de confiança dos comandos militares… são nulos em relação à política. Quanto às associações, estas ainda lutam na verdade para legalmente existir… e contra a tendência que alguns têm de torná-las espécies de “sindicatos de militares”, o que é realmente complicado… se forem cooptados pela esquerda? ou por radicais de outra linha? Como fica? … a questão é complexa, não pode-se deixar a política partidária entrar nos quartéis.
Nas eleições passadas o Presidente do Clube MILITAR – general Pimentel – surpreendeu positivamente ao aparecer em vídeo declarando seu apoio ao Subtenente Gerson Paulo, expoente do PMB carioca, então candidato ao legislativo. Contudo, Pimentel não disse que falava em nome do CM, ele não disse algo como: O Clube Militar apóia esse militar para deputado federal. Alguns dizem que MOURÃO pode assumir o CLUBE esse ano, espera-se que caso isso aconteça manifeste o apoio do Clube a Bolsonaro. O Clube em si é pouco significativo no que diz respeito a votos, mas o simbolismo em obter seu apoio seria algo de grande valia para um candidato, dado a já mencionada credibilidade dos militares perante a opinião pública.
Há no RIO de Janeiro a Associação Bancada Militar, que fecha contatos e presta assessoria para militares que pretendem representar a categoria. Ainda que preste ótima assistência, a entidade não tem como financiar campanhas e nem tem esse objetivo. Em Minas Gerais também há associações, nas eleições passadas apoiaram Kelma Costa e o General Felício, a estratégia no meu ponto de vista acabou dividido os votos, ambos fizeram campanhas com pouquíssimos recursos, baratíssimas e não foram eleitos. Kelma Costa – esposa de sargento – esse ano foi “abraçada” por Bolsonaro e tem grande possibilidade de ganhar uma vaga para deputado federal por MG. No nordeste há vários nomes, no Rio Grande do Norte destaco o General Girão, grande mente, especialista em segurança pública, apóia Bolsonaro e já anunciou sua candidatura para dep. Federal pelo PSL.
Associações de Bombeiros e policiais, como agirão. Apóiam Bolsonaro?
R.Augusto. Sinceramente não sei dizer… Sei que no Rio as associações de BOMBEIROS e policiais são bastante politizadas. Sei que a ABMERJ, associação de Bombeiros Militares do Rio rompeu recentemente com o Cabo Daciolo, que é pré-candidato a presidente do Brasil. A associação ainda não se manifestou sobre apoios. Sei também que o policial André Monteiro do BOPE será candidato a governador do Rio pelo PARTIDO MILITAR agregado em outro partido e que no lançamento de sua pré-candidatura estava presente Flávio Bolsonaro. Mas não tenho como saber se associações de policiais vão apoiá-lo ou a Bolsonaro.
Se Bolsonaro for eleito o que acontece, vai ter autoritarismo como dizem?
R.Augusto. Autoritarismo! Claro que não, muito pelo contrário. Ninguém mais impõe autoritarismo no Brasil, muito menos um militar. A corrida eleitoral está apenas começando… É inegável que temos candidatos fortes… Se Bolsonaro for eleito é certo que carrega consigo vários candidatos militares. Aqui no Rio há pelo menos 3 pré-candidatos a deputado federal que já declararam apoio. Mas, há vários outros cargos na disputa, entre eles o de deputado estadual… embora não pareça, o apoio desses políticos conta muito. Junto com os vereadores são eles quem definem as coisas em âmbito local. Haverá muitos candidatos não militares mas também conservadores e apoiadores de Bolsonaro… Bem, estimo pessoalmente com base em alguma pesquisa e pelo que recebo de amigos pelo Brasil que se o capitão se sagrar vencedor carrega para dentro do Congresso Nacional de 50 a 70 deputados federais de todos os estados, entre militares e civis, é um número satisfatório… Salvo engano, pra se ter uma ideia, hoje o PT conta com uma bancada de 60 deputados.
Todos os dias recebo emails de pré-candidatos declarando seu apoio a Jair Bolsonaro. A tendência e que esse número aumente e que até após as eleições haja migração. Se a tendencia for confirmada nos resultados das urnas o país deve ser mais liberal em pouco tempo, a não intromissão governamental facilita a livre concorrência, o combate à politicagem tradicional, que hoje tem base no toma-la-dá-cá, deve favorecer muito o crescimento de empresas e barateamento de obras… muita coisa vai mudar… “desaparelhamento” das reitorias das universidades públicas… talvez calem-se os ativistas profissionais… e se acabe essa briguinha ultrapassada que tem nos estacionado no século passado – esquerda versus direita – … … (pausa) muita coisa… não há como descrever tudo agora.
Porém, contudo… todavia, não creio que será um governo tranquilo… Mas, acho que precisamos passar por isso. Vem muita luta por aí… Não é só o parlamento que deve se empenhar, mas a sociedade conservadora como um todo terá que se esforçar muito e se necessário ir para as ruas apoiar seus políticos… Não se engane, estamos apenas no começo da virada. Nossa sociedade depende ainda muito de SIGLAS para se mobilizar, para ir às ruas. Se acabarem as siglas o que será de nós? Temos que aprender a nos mover por nós mesmos.
Acredito realmente que após esse período de limpeza estaremos aptos para iniciar um projeto de maior participação política dos cidadãos, talvez por meio eletrônico, sem intermediários, sem siglas, sem essas centenas de milhares de ONGS e associações mamando nas tetas dos governos… Devemos construir normas que obriguem as instituições a levar em consideração o que o cidadão deseja. Um exemplo… Faz-se hoje dezenas de enquetes no congresso, os resultados pouco influem nas decisões… Já temos ferramentas para consultar o cidadão… mas isso papo para outra conversa …
(1) pesquisa de opinião – em https://www.military.com/daily-news/2016/11/02/survey-career-oriented-troops-favor-trump-over-clinton.html