Esta matéria aborda duas situações hipotéticas, restringindo-se, apenas, à participação da Força Terrestre, sem considerar a parte que caberá às demais forças irmãs. Em assim sendo, na tentativa de fazer o inimigo desistir da luta, antes que alcance nossa calha norte/fronteira terrestre setentrional/foz do Amazonas ou as bacias do pré sal, indiscutivelmente, o EB vai atuar empregando primeiro sua artilharia de foguetes e mísseis.
Considerando a primeira hipótese, ou seja, a do enfrentamento pelo EB, sem poder de dissuasão. Neste caso, a Força Terrestre dispõe apenas do míssil AVM- 300 (km), limitado em alcance/carga pelo “MCTR”, com seu único grupo de foguetes e mísseis/GAFM aquartelado ainda em Formosa/GO, portanto tiranicamente distanciado daquelas regiões que, fatalmente, serão investidas por poderosos oponentes mais do que prováveis.
Vamos então à luta! Eis que uma armada integrada por belonaves de países membros permanentes do CS/ONU zarpa do Mar do Caribe no rumo daquelas regiões cobiçadas. As unidades de artilharia de costa não existem mais. Agora, em seu lugar, um projeto, o “ASTROS II”, concentra toda uma pletora de meios num centro para desenvolvimento/formação para artilharia de foguetes e de mísseis em Formosa/GO, existindo até um GAFM, mais precisamente o 6º para os testes e adestramentos pertinentes. Só que “uma só andorinha não faz verão”. A unidade, concentrada/isolada no planalto central brasileiro, tem que “correr atrás do prejuízo”, desovando suas baterias, duas para o extremo norte e uma para o litoral.
O apronto operacional para o transporte aéreo das baterias, que não estava concluído, obrigou a subunidade destinada ao litoral para proteção do pré sal a se deslocar por estradas esburacadas já batidas por fogos longínquos disparados do alto mar, sem possibilidade de pronta resposta pelos nossos meios em deslocamento. Esta seguiu para a costa santista, confiante na bateria astros II do Corpo de Fuzileiros Navais/CFN aquartelada no Rio de Janeiro. Todavia, um verdadeiro “Deus nos acuda”, todas as demais chegaram em seus destinos sem tempo para o adestramento antecipado da ocupação das respectivas posições principal, de muda e suplementares, tão necessárias para se furtarem ao tiro de contra bateria lançado pelo inimigo.
Mas a armada da coalizão alienígena “não estava nem aí”, confiante no alcance/carga de seus mísseis de cruzeiro, bem superiores aos correspondentes ínfimos do AVM 300, limitações impositivas por ajuste de “lesa pátria” que negaram ao País o direito, mais do que legítimo, de dissuadir antes de lutar. Em assim sendo, não é difícil concluir, o resultado, com essas condições, que não se duvide, foi o pior possível para as FFAA e povo brasileiro, na medida em que fomos obrigados a empregar, no prosseguimento, a chamada “estratégia da resistência” que, todos sabemos, se caracteriza pelo máximo de desgaste, em conflito de longa duração, com sacrifícios humanos inimagináveis. Em resumo, o País foi transformado num gigantesco Vietnã!
Vamos agora visualizar o que poderia acontecer se a Força Terrestre dispusesse de meios defensivos convincentes para se obter uma dissuasão extrarregional. O país denunciou o humilhante “MCTR”, imposto pelos países membros permanentes do “CS/ONU”, por pressão do alto comando das FFAA junto ao Congresso Nacional. Os meios da artilharia de foguetes e mísseis foram providenciados e alocados com antecedência para adestramento da entrada nas posições principal, de muda e suplementares, porém, os “soldados universais”, mesmo assim, vão pagar para ver. A luta começa!
A mesma armada integrada por belonaves de países membros permanentes do CS/ONU zarpa do Mar do Caribe no rumo das Amazônias verde e azul. O EB, que havia priorizado com rigor a entrega das viaturas plataformas de ASTROS II, no lugar das VBTP Guarani, agora dispõe: no semi arco Tabatinga/AM, São Gabriel da Cachoeira/AM, Boa Vista/RR, Macapá/AP, Belém/PA, de cinco baterias, uma em cada localidade, todas dotadas com vetores de respeito/VDR 1500/2500 km, sem limite de carga, que permitem o recobrimento dos setores de tiro bem distante da linha de fronteiras, em toda a sua extensão; no semi arco São Luiz/MA (ou Alcântara/MA), passando por Fortaleza/CE, Natal/RN, Aracajú/Se, Salvador/BA, Vitória/ES, Rio de Janeiro/RJ, Santos/SP, Florianópolis/SC, Rio Grande/RS, de dez baterias, todas armadas com o mesmo míssil, viabilizando agora o recobrimento dos setores de tiro bem distante da linha do litoral/costa.
O cruzador US Camp Saint George, que já ultrapassou a ilha de Porto Rico, vislumbra uma rajada de advertência lançada pela bateria ASTROS II localizada em Macapá/AP, que causa avarias no entorno da Quarta Frota. Valeria à pena revidar? É a indagação que se faz. Não seria melhor preservar a vida dos tripulantes de toda uma esquadra em deslocamento? Que ninguém duvide, “olho vivo pé ligeiro”, a esta altura dos acontecimentos nossa bateria, que não pode vacilar, já está se deslocando para uma posição de muda, prevendo terceiro lanço para a próxima posição suplementar, movimentos que ensaiou em várias jornadas com vistas a se furtar ao fogo de contrabateria. Em verdade, nossa artilharia de foguetes e mísseis não bate mais apenas (no afogadilho) até 300 km a partir da linha de fronteira ou do contorno do litoral/costa, podendo ultrapassar até mais do que oito vezes o alcance do AVM 300.
O resultado final, nestas circunstâncias, com certeza, é bem menos oneroso no final da contenda, na medida em que, com sorte, o “dever de casa” pertinente tenha sido igualmente bem feito pelas demais forças irmãs. Neste caso, evita-se empregar a chamada “estratégia da resistência” que, todos sabemos, implica em desgaste sobre humano, de longa duração, com sacrifícios inimagináveis só vivenciados durante o conflito enfrentado pelos americanos no sudeste asiático durante o século passado.
Paulo Ricardo da Rocha Paiva
Coronel de Infantaria e Estado-Maior