Fonte militar ouvida pela Revista Sociedade Militar conta que em um grupo de WhatsApp restrito a oficiais generais da ativa e reserva, do qual inclusive faz parte o General Ramos, ministro da Secretaria de Governo, vários oficiais manifestaram preocupação com certa polarização que hoje existiria nas Forças Armadas entre graduados e a cúpula da oficialidade.
A coisa toda teria começado quando a cúpula das Forças Armadas se beneficiou com a nova reestruturação das carreiras, onde os militares de baixa patente, pensionistas e – principalmente – militares da reserva saíram prejudicados. “Lembrem-se de 1964”, foi umas das frases ditas em relação à crise, que mesmo depois de praticamente um ano da lei sancionada não esfriou. Muito pelo contrário, há um crescente de acontecimentos a ponto de centenas de militares e pensionistas já terem confirmado presença para manifestações que ocorrerão entre 20 e 22 de outubro em Brasília.
Locais para hospedagem foram acertados, faixas já foram encomendadas e – segundo apuramos – a coisa está a todo vapor. Manifestações devem ocorrer em frente a diversos prédios do governo, mas a organização – segundo informado – só revelará a programação na data dos eventos.
Argumentando que se trata de meritocracia, a cúpula das Forças Armadas chegou a criar uma indenização de representação só para oficiais generais, na ativa e na reserva. Essa regalia foi vetada pelos deputados depois de muita reclamação dos graduados, mas outros vários penduricalhos permaneceram, como uma vantagem de 73% sobre os soldos que não alcança grande parte dos militares graduados que foram para a reserva nos últimos anos, mas alcança todos os oficiais generais, na ativa e na reserva.
Há cerca de três semanas o Secretário de Governo, General Luís Eduardo Ramos, se reuniu com alguns graduados e o deputado federal Vitor Hugo, a obvia intenção de Ramos era amenizar um pouco o clima entre praças das Forças Armadas e a base aliada de Bolsonaro. Ao realizar a reunião, avaliam graduados ligados à movimentação, o general arriscou um mal estar entre ele e o Ministro da Defesa, general Azevedo, já que a responsabilidade maior sobre a reestruturação das carreiras é do Ministério da Defesa.
Conversando com uma fonte militar ligada a cúpula do governo Bolsonaro fomos informados de que seria o Ministro da defesa, general Fernando Azevedo, o principal obstáculo para que itens da reestruturação sejam revisados, fala-se até em esperar sua saída para tentar modificar a coisa, o que indica que o oficial seria o principal responsável pelo estado das coisas. “No momento ninguém consegue mudar o que está feito… resta Aguardar a saída do Fernando“, disse a fonte.
Ao contrário de Fernando Azevedo, o general Ramos tem ensaiado algumas aproximações, o ministro já confirmou que procurará o comandante da Aeronáutica para ver o que pode ser feito.
A preocupação de Eduardo Ramos com a manifestação é obvia, centenas de militares se manifestando – coisa que de fato não ocorre desde os anos 60 – sem dúvidas pode passar a ideia de que JAIR BOLSONARO não tem o apoio maciço das Forças Armadas, o que para a opinião pública é muito importante. Se a manifestação de um pequeno grupo de militares, ocorrida no Rio de Janeiro há cerca de um mês, foi reproduzida por todos os grandes jornais, imagina-se que algo com centenas de militares em plena Esplanada dos Ministérios deve causar um estrago muito maior. O oficial general chegou a ligar para o senador IZALCI enquanto o mesmo realizava uma videoconferência com graduados transmitida ao vivo pela internet, nessa ligação foi feita a promessa de contato com o comandante da Aeronáutica.
A Revista Sociedade Militar ouviu também várias das lideranças que organizam os atos que ocorrerão entre os dias 20 e 22 de outubro. No que diz respeito a aspectos legais todos aparentemente estão tranquilos, se amparam na Constituição de 1988 e na lei 7.524/86 (excerto abaixo). A lei diz que MILITAR NA RESERVA PODE OPINAR LIVREMENTE SOBRE ASSUNTO POLÍTICO E EXTERNAR SUA OPINIÃO, independente do que consta nos regulamentos disciplinares.
Quanto a um novo 64 um dos suboficiais ouvidos disse que: ” não tem necessidade de apreensão, os generais podem ficar tranquilos, jamais nos insubordinaríamos e em 64 a marujada era da ativa”. Pelo que dizem, os graduados e pensionistas querem apenas chamar a atenção do presidente e do parlamento para “uma questão que precisa ser resolvida: “reclamamos tanto que fomos prejudicados pela MP2215 e o governo criou outra lei similar, que nos prejudicou duplamente, justamente a nós que já havíamos sido prejudicados anteriormente“, diz o suboficial Silva, da Marinha do Brasil
Observando o desenrolar dos acontecimentos desde as chamadas jornadas de 2019 dos graduados no Congresso Nacional, vimos que tanto no Rio como em Brasília vários militares da reserva participaram de manifestações coletivas contra o PL1645, não temos informações de que algum deles foi enquadrado nos regulamentos por conta disso.
É preciso ressaltar que bem recentemente oficiais generais realizaram manifestação coletiva ao apoiar o General Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, com um abaixo assinado.
“ Art 1º Respeitados os limites estabelecidos na lei civil, é facultado ao militar inativo, independentemente das disposições constantes dos Regulamentos Disciplinares das Forças Armadas, opinar livremente sobre assunto político, e externar pensamento e conceito ideológico, filosófico ou relativo à matéria pertinente ao interesse público. lei 7.524/86”
VOCÊ PRECISA SABER DISSO >>> MARINHA e AGU tentam impor quebra de SIGILO DA FONTE a jornalista que é militar da reserva remunerada.