Olha que o “mito” chegou apregoando a verdade, a probidade e a honestidade, virtudes militares que lhe foram repassadas em nossa Academia Militar. E tantos que acreditaram. Seus arautos dando força, “e se se gritar pega CENTRÃO não fica um meu irmão”, a figura presidencial da novel mitologia “bolsonariana” em arrepios de deslumbramento alardeando a defenestração de uma “velha política” como a ‘avant-première’ de um novo tempo avesso às pilantragens, negociatas e acordos espúrios. Só que hoje, como diz o velho ditado, “a Inês é morta”.
Tivesse persistido nessa bandeira; tivesse mantido sua prole investigada, enquadrada, sem acochambração; tivesse mantido o apoio à Operação Lava Jato (que seja dito, se vangloriou como seu “coveiro”, abrindo a guarda para a soltura do Lularápio); tivesse assumido o comando no combate à pandemia; tivesse se mantido como autêntico comandante-em-chefe das nossas Instituições Armadas, sem compará-las à mera “guarda pretoriana”; as tivesse fortalecido, posto que atualmente incapazes de dissuadir as grandes potências militares extrarregionais, imaginem como estaria engrandecida a manifestação que poderia fazer ao povo sofrido desta pobre Pátria sofrida, justificando-se até mesmo, mas como se costuma dizer, “cheio de razão”, um tom duro de chamado à ordem aos demais poderes da República. Mas foram os embustes que se revelaram, estes que, pelo seu tamanho e gravidade, os militares costumam classificar como sendo de “corpo de exército”.
Dentre tantos sobreleva a maneira deslavada de associação ao famigerado “CENTROLÃO” (rima com “MENSALÃO e PETROLÃO”), dando início a um conluio pegajoso, nada mais nada menos do que com o presidente da Câmara Federal, um personagem de passado nada republicano, com acusações anteriores envolvendo ação criminosa e corrupção ativa e passiva. Para que se tenha uma ideia o “mito” apelou mal, associou-se ao grupelho de 200 deputados que conformam o já antológico bloco informal na Câmara, justo aquele com, ao menos, 60 implicações na Justiça, com acusações e suspeitas que envolvem desde lavagem de dinheiro e corrupção a crimes ambientais.
Porém, o cúmulo da apelação, incrível, fantástica, “terrivelmente” extraordinária, é Sua Excelência vir a público dizer, na maior “cara de pau” (aliás, o que não causa nenhum espanto) que: – “Eu fui do CENTRÃO no passado. Eu fui do PP, fui do PTB, fui do PSC, então essa história de querer genericamente desqualificar parlamentares, não é por aí.” Será que, nas suas MOTOCIATAS, ele teria peito para fazer esta declaração em presença de seus seguidores sedentos de seriedade e crédulos de carteirinha na sua superioridade em face da politicalha? E ainda chamam aos militares, aqueles que não apoiam mais este profeta “impoluto”, de “melancias”. Realmente, a que ponto de sandices se chegou neste País vilipendiado. Sim, do jeito que estão as coisas, estamos à deriva!
Mas não fica por aí! Pressentindo seu desgaste crescente no segmento militar da sociedade, percebendo o contravapor reprovador para sua ambição política desmedida vislumbrado nos próprios militares participantes de sua desgovernança, sentindo a queda vertiginosa da popularidade por parte da opinião pública, um político sem escrúpulos, desesperado, assoberbado pelos acontecimentos, decidiu vender sua alma ao diabo!
O mito grita socorro! Ciro Nogueira! Só você pode me salvar! Porém, quem é este cidadão tão poderoso e capaz a quem a personalidade mitológica apela? Um senador do Partido Progressista que responde a nada mais nada menos do que a três inquéritos no STF, investigação que corre no âmbito da “Lava-Jato”. Que seja dito, justamente a operação que um presidente falastrão se gaba de ter dado fim porque em seu governo não tem corrupção. Será? Existem gritantes controvérsias sendo investigadas e alguns processos judiciais nesse meio campo! Ah! Não se pode olvidar, o novo escudeiro do mito o chamou de “fascista” e apoiou Fernando Haddad em 2018. Cáspite! Durma-se com um barulho desses!
Desacreditado, pelo que fala e faz, o mito embusteiro e apelador resolveu apostar tudo em algaravia messiânica e desagregadora no dia “Sete de Setembro”, nossa data magna. Deu no que deu! Para variar, como se diz no Exército, nosso “grande mudo” (é bom enfatizar, este que se manteve impávido, honrado e fiel à sua postura de guardião maior do povo brasileiro), um presidente inimigo do bom senso teve que apelar mais uma vez para o velho ‘ROCO”, simplesmente o ‘Regulamento de Ordens e Contraordens’ (muito verbalizado pelos comandantes inseguros), um fato ‘useiro e vezeiro” em seu decepcionante, calamitoso e lamentável mandato presidencial. Em verdade, as multidões de fanatizados reuniram apenas e tão somente o total da bolha percentual com que ainda conta JMB. Senhor Presidente! Quanto tempo jogado fora, é melhor correr atrás!
Paulo Ricardo da Rocha Paiva / Coronel de Infantaria e Estado-Maior
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