A matéria de James Holmes, veiculada por Redação Forças de Defesa, infere que: “a Marinha do Brasil anseia por navios normalmente destinados à guerra naval convencional, mas anseia por razões excêntricas; em certo sentido, a MB se assemelha à U.S. Navy após a Primeira Guerra Mundial, quando a Alemanha imperial foi vencida, mas nenhum competidor ainda havia tomado seu lugar como ponto focal da estratégia naval dos EUA”. Navios destinados à guerra naval, por que não? Nossa Marinha é uma força de combate desde o IMPÉRIO, não pode ser destinada a exercer o papel secundário de serviço policial de uma mera guarda costeira melhorada, voltada a tão somente proteger recursos naturais contra caçadores ilegais e ajudar africanos na repressão à pirataria. Da mesma forma, não se pode transfigurá-la como “instituto de pesquisa”, em prejuízo de “logro do poder” no combate naval.
No dito texto, segundo confidencia um professor de estratégia da Escola de Guerra Naval, no Rio de Janeiro: – “Não temos conceito de guerra”. Mas, em termos navais, qual é a guerra que nos interessa não perder, qual é a guerra que se impõe seja vencida, qual a tirânica hipótese de guerra que se apresenta da forma mais clara, indiscutível e insofismável para o País? Não, não, em absoluto, não são conflitos no longínquo Oriente Médio integrando “coalizões imperialistas de armadas universais”, não são duelos com marinhas rivais no Mar da China ou do Japão. Em sendo assim, o propósito maior, o rumo seguro, a direção do nosso leme, que não se duvide, precisa viabilizar o cumprimento da missão sagrada de garantia da soberania do Brasil, esta que se impõe seja exitosa, só e tão somente, no que deve ser o “MARE NOSTRUM”, ou seja o Atlântico Sul e sua Amazônia Azul, acrescida da reivindicação de uma zona econômica exclusiva (ZEE) atingindo 200 milhas náuticas fora de sua costa.
Além disso, o mesmo texto considera “as rotas marítimas que transitam pela região fluindo principalmente de norte a sul e os navios mercantes e os de guerra que navegam de um lado para o outro entre os portos marítimos do Atlântico e os oceanos Pacífico ou Índico, contornando o Cabo Horn ou o Cabo da Boa Esperança ao longo do caminho”. Em vista disso, não há como fugir do fato: não existe espaço para uma deriva estratégica pela Força Naval, na medida em que existem poderosos atores para impor direção ao projeto e às operações da força.
O texto se reporta também à “sorte que tem o Brasil de habitar o que os membros do Pentágono chamam de ambiente estratégico permissivo e não ameaçador, um Atlântico Sul livre de inimizades de grandes potências e uma amistosa marinha de superpotência, a dos EUA, que fornece uma barreira caso as coisas resultem errado de repente”. Nesse soneto enganoso do todo poderoso Pentágono só ainda bota fé quem ainda “acredita em Papai Noel”, haja vista a pilantragem que se fez com um desprezado “TIAR” na Guerra das Malvinas, sendo imperioso que o alto comando naval acorde o quanto antes, preparando e capacitando nossas reduzidas belonaves, atualmente sem nenhum poder de fogo, para o que se vai confrontar, com certeza, em alto mar e no repente da tempestade.
Atenção! Até o presente momento, lamentavelmente, o almirantado tem evidenciado concentração no dever policial com navios patrulha, já que, ao que tudo indica, avalia ser a batalha contra inimigos em alto mar algo inverossímil, o que o enseja a permanecer divagando, sempre e muito, desde tempos imemoriais, em projeção de poder nos arulhes oceânicos. Pé no chão! Ë preciso dar um basta no desperdício de recursos financeiros, materiais e humanos finitos com patrulhamento e se preparar para a luta no mar, sem se fiar no “guarda-chuva protetor”, mais do que duvidoso, que possa ser fornecido por terceiros. Ah! Mas o mundo hoje está sob leis e instituições internacionais. Quanta ilusão descabida! Meu Deus do céu, me engana que eu gosto! “Si vis pacem, para bellum”, alerta porque da calmaria à borrasca é só uma questão de tempo. Afinal de contas, a “Guerra da Lagosta” contra a França, no início dos anos 1960, pode muito bem se repetir com a marinha do mais novel amazônida, nada mais nada menos do que Emmanuel Macron.
Não está justificada também a necessidade imprescritível do aeródromo para o entorno do que deve ser o MARE NOSTRUM, na medida em que, do Amapá ao Rio Grande do Sul, a força aeronaval pode dispor de bases e campos de pouso, ao longo de um extenso litoral/costa, de onde seus caças e helicópteros podem decolar com total segurança, sem a necessidade de fazê-lo de plataformas flutuantes, estas que serão caçadas sem dó por um inimigo ávido em computar troféus de guerra. A esta altura das fatais possibilidades dos “grandes bucaneiros navais”, simplesmente, já está na hora de se abandonar a falsa crença quanto a porta-aviões constituírem uma pedra angular da estratégia marítima. A propósito, a oficialidade naval não desconhece os motivos que levaram a desativar o enfumaçado NAE São Paulo, havendo ciência quanto aos satisfatórios alcances, bélico (1158 Km/720 mi) e alcance MTOW (3 200 Km/2000mi) do A-4, perfeitamente condizentes em termos da autonomia capaz de viabilizar o cumprimento de suas missões precípuas em apoio à Esquadra.
Infelizmente, todavia, está se persistindo em enganoso engodo com a aquisição no Reino Unido de outro porta-helicópteros anfíbio aposentado, o HMS Ocean. Dinheiro jogado fora pela escotilha? A propósito, esta belonave está a carecer de escolta, corvetas e submergíveis decentemente artilhados com mísseis de cruzeiro VDR-1500/2500 Km, sem limite de carga! Esta nuance vital está sendo observada nas corvetas do tão decantado em prosa e verso Programa Tamandaré e no PROSUB? Sim porque se isto não ocorre, parodiando James Holmes, o autor do artigo que serve de escopo a este texto: – “É uma frota implorando para ser golpeada!”. Com todas as honras e sinais de respeito, mas experimentos em belonaves que não contemplam fortalecimento em potência de fogo não somam em nada para a defesa da Pátria.
Minha gente! Enquanto almirantes, que seja dito, os oficiais-generais das nossas três “Desarmadas” Forças, continuarem dormindo no berço esplêndido da superioridade militar, em face aos países da latino-américa, vamos continuar “engolindo sapos cururus do banhado” dos membros permanentes do CS/ONU. Por favor! Quando o Reino Unido resolver com a França ocupar, o primeiro Roraima e a segunda o Amapá, a US NAVY vai ficar do lado da Marinha de Tamandaré? Vamos e convenhamos, nademos e naveguemos nesta maionese!
Quanto a este articulista, uma coisa é certa, não haverá arrefecimento quanto mais desistência na luta pela capacitação das nossas Instituições responsáveis pela defesa da Pátria. Sim, elas pertencem a nós, a todos os brasileiros e brasileiras e não apenas aos marinheiros, aos soldados e aos aviadores. Todos temos filhos e netos fardados em suas fileiras e temos o dever de cobrar, de seus altos comandos, os meios bélicos que se fazem necessários para que nossa juventude não lamente derrotas no campo da luta.
Paulo Ricardo da Rocha Paiva / Coronel de Infantaria e Estado-Maior
Publicado na Revista Sociedade Militar
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