A negativa em aplicar uma punição em Eduardo Pazuello talvez tenha sido o maior e mais arriscado ato político do general Paulo Sérgio e o que fez com que apenas alguns meses depois passasse a ocupar a cadeira mais importante que um militar da força terrestre pode ocupar em sua vida, o Ministério da Defesa. Mas, justamente por fazer o que o presidente Bolsonaro desejava, ter absolvido o ex-ministro da saúde sem uma justificativa plausível aos olhos dos militares, o oficial pode ter perdido parte da confiança da tropa, pois quando o assunto é avaliar a manifestação política dos subordinados de menor patente, principalmente cabos, sargentos e subtenentes, o Exército não alivia em nada o peso da “mão amiga”, que continua batendo forte em quem ousa expor sua visão política, mormente se esta for diferente do que pensa a cúpula armada.
A decisão do comandante do Exército de liberar Pazuello das implicações disciplinares de participar de ato político sendo militar da ativa acaba por endossar a tese de que há duas classes dentro das Forças Armadas, oficiais e praças, com direito a interpretações diferentes dos regulamentos disciplinares. Se no passado os reflexos dessa visão de mundo geraram intensas disputas por direitos e humanização que abalaram o país, como a revolta da chibata, movimento dos sargentos e movimento dos marinheiros, a coisa agora não é diferente, o que muda apenas é o campo de batalha, que deixa de ser os conveses dos navios e corredores dos quarteis e passa a ser a internet e o campo eleitoral.
Por estratégia política o general Pazuello decidiu concorrer a uma vaga para deputado federal justamente no Rio de janeiro, estado onde o voto dos militares tem maior peso entre os conservadores. As famílias militares no Rio de Janeiro somam quase 300 mil e estima-se que isso corresponda a quase 1 milhão de votos.
Reportagem do UOL, de autoria de Chico Alves, republicada também pelo Montedo, com alguns comentários relevantes, ouviu alguns pré-candidatos militares do Rio, entre eles Wagner Coelho e o Suboficial Bonifácio. Ambos se declaram como conservadores e de direita.
Wagner Coelho já participou de manifestações criticando o governo sempre com foco em corrigir questões salariais e não poupa os oficiais generais com mandato no Congresso Nacional. Para o militar eles não cumpriram o seu papel na defesa de seus pares, garantindo os privilégios para a cúpula durante a tramitação da lei de reestruturação das carreiras.
“Muitos desses oficiais foram na aba de Bolsonaro, como os deputados General Girão (PL), General Peternelli (União Brasil), o Coronel Crisóstomo (PL) e não fizeram nada… 18%, os oficiais, ficaram com R$ 67 bilhões e os restantes R$19 bilhões foram divididos entre mais de 80% da tropa, que são os de baixa patente. Tem que acabar com esses privilégios”
Em sua pré-campanha o fuzileiro tem percorrido cidades do interior do Rio de Janeiro estreitando laços e angariando apoio para as próximas eleições.
Wagner Coelho usa bastante as redes sociais, principalmente seu perfil no Facebook.
Outro que foi entrevistado recentemente pelo UOL foi o suboficial Bonifácio, também da Marinha. O militar, que já foi punido por dar declarações públicas sobre a falta de reajustes salariais para militares e problemas no atendimento médico em hospitais militares, não poupou críticas ao general Pazuello, disse que “querem se passar por bonzinhos… ”.
“… os oficiais abandonaram a gente… O movimento é muito grande para não votar em generais. Eles não fizeram nada por nós … agora querem se passar por bonzinhos para ganhar votos dos praças, que representam 85% das Forças Armadas”. (UOL – Chico Alves)
A Revista Sociedade Militar apurou que Bonifácio, pré-candidato pelo Patriotas, já tinha acertos para se candidatar pelo Partido Liberal, mas acabou tendo que abandonar os planos por causa da presença do general Pazuello e seu projeto de ser deputado federal pelo Rio.
Bonifácio diz que ainda que seja apoiador de Jair Bolsonaro, possui “vida própria”, que não é totalmente carregado politicamente pelo presidente Bolsonaro como Pazuello e outros candidatos e que – como a tropa espera – por isso terá liberdade para apoiar o presidente em pautas conservadoras e de família mas também tem autonomia para “a tropa espera sim um representante conservador, de direita, mas quer também um sujeito que se imponha, que ouse discordar da cúpula armada no que acreditar que pode prejudicar a tropa“.
O militar, que recebeu 15.3 mil votos em 2018, provoca e chama o general Pazuello pra “briga“. Bonifácio tem uma página na internet onde comenta o contexto atual, apresenta seu projeto de trabalho e relembra algumas situações vividas.
“É simples… general vota em general e praça vota em praça… vamos ver quem vai vencer… “. Diz o suboficial.
Uma bancada militar no Congresso Nacional
Wagner Coelho, Bonifácio e outros pré-candidatos tentam fazer com que a família militar abrace a ideia de construir uma bancada militar no Congresso nacional.
De fato, só com a metade dos votos estimados para a família militar carioca é possível eleger três ou quatro deputados federais. A polarização parece estar aumentando e isso tem um lado positivo, com isso, a tendencia é de que mais pessoas compareçam às urnas.
Continuaremos acompanhando