Tropas Estelares (Starship Troopers): um dos mais eficientes filmes sobre a vida militar e a guerra
Lançado no distante ano de 1997, Tropas Estelares ganhou o apreço dos fãs dos bons filmes de ficção científica, mas também cativou os que apreciam tramas sobre a vida militar, exércitos e guerra.
Dirigido por Paul Verhoeven tem sequências e até duas animações, todas baseadas na obra original, porém com qualidade muito abaixo do filme.
Boa parte do sucesso desse longa-metragem se deu em função da competente direção de Verhoeven, assim como pelas atuações de um elenco que se dedicou ao extremo para entregar algo mais crível, mesmo se tratando de sci-fi.
Insetos mortíferos
Criaturas sombrias e fatais são comuns em filmes de ficção científica. Entretanto, o roteiro de Tropas Estelares precisava de seres que dessem veracidade à letalidade que possuíam. Logo, nada mais justo do que trazer os pequenos pesadelos chamados insetos para um patamar “maior”.
Sendo assim, o roteiro de Edward Neumeier (baseado no livro homônimo de Robert A. Heinlein, publicado no Brasil pela editora Aleph) nos entrega seres letais, rápidos, incapazes de remorso e praticamente irrefreáveis. Mais do que isso, a trama destaca um ponto que, historicamente, já determinou o fim de verdadeiros impérios: a pompa de seus líderes.
Mesmo que tenham aspecto de insetos, logo descobrimos que eles têm uma organização e são determinados a sacrificar a própria vida em prol da colônia. Agem, devo destacar, como uma colmeia onde cada um tem sua função. Mas é na total falta de piedade que encontramos seu ponto mais sinistro. Esses insetos matam humanos com o mesmo escárnio que nós matamos baratas.
Para melhorar mais, as cenas são muito bem construídas e conduzem os espectador por um verdadeiro banho de sangue, ainda que sempre haja um contexto coerente para tamanha violência.
Infantaria
Caso não saiba, um combatente pode se especializar em diversas áreas ao ingressar nas Forças Armadas. No filme, obviamente, essa seleção é feita de forma bem mais acelerada, fato devido à guerra e a inevitável perda de homens no front em combate. Por isso mostram um treino mais acelerado, já que as tropas precisam de reposição e a urgência pede que o treinamento não seja tão longo quanto antigamente.
Neste contexto somos apresentados aos recrutas Johnny Rico (Casper Van Dien), Dizzie (Dina Meyer), Carmem (Denise Richards) e Carl (Neil Patrick Harris), amigos de longa data e peças fundamentais nesta trama.
Rico é um homem de ação, um jogador de futebol cujas habilidades são perfeitas para a Infantaria. Dizzie segue Rico por nutrir um amor que ela demonstra e ele refuta. Carmem e Carl são encaminhados para funções onde um maior intelecto é necessário, onde estes atuarão respectivamente como Piloto e membro da Inteligência Militar.
Todavia, é na Infantaria que a trama foca. Por serem os homens de frente no palco de guerra, os Infantes são amados por seu sacrifício ininterrupto, mas também desprezados pelos que exercem funções mais “importantes”.
Treino e guerra
Acompanhamos as vitórias e derrotas dos recrutas até irem para a área de combate. A Infantaria exige muito por parte de seus membros, sendo quase sempre agraciados com membros feridos ou até mesmo a morte, isso apenas no campo de treinamento. Já os pilotos e os Psíquicos (membros da inteligência que podem acessar mentes), as baixas são menores, porém as responsabilidades são gigantescas.
Tal como visto durante toda a História das guerras, os que estão na linha de frente são os que mais geram baixas (mortes), mas também são os mais unidos. Ressalto que essa união se dá pelo simples motivo de que a vida de um depende da eficiência do outro. Distrações, falhas e medo podem provocar a morte de todos os componentes de um pelotão, por isso a necessidade do destemor e do sacrifício.
Militarismo
Creio que não citei antes um fato sobre mim: fui militar por mais de trinta anos ininterruptos. Nesse longo período, vi e vivi todas as nuances do militarismo, seja em meios operativos, seja no campo administrativo.
Um dos fatores mais curiosos do militarismo é a união entre os integrantes. Mesmo diante de diferenças gritantes, regionalidades, culturas conflitantes e até ideologias antagônicas, é inegável que a união entre os militares é muito maior do que a vivida no meio civil.
Mas nem só de união vive o militarismo. Hierarquia e disciplina são as bases das FFAA e incutir isso nos recrutas é algo extremamente difícil, sobretudo quando estamos em uma situação similar à apresentada no filme, em tempos de guerra e reposição de tropas.
No filme Tropas Estelares é possível ver a gradual transformação dos civis em militares. Mais do que isso, o “espírito de corpo” é embutido em suas atitudes ao ponto de termos pessoas totalmente diferentes daquelas que vimos no início da trama. Há todo um preparo para que nós, espectadores, acreditemos que as pessoas retratadas são realmente militares.
Um dos pontos mais audaciosos está no convívio entre os fuzileiros. Por ser uma tropa mista, homens e mulheres convivem em um ambiente único, inclusive para o banho. Essa proximidade evita que os menos capacitados, as mulheres e outros com fragilidades emocionais ou físicas sejam tratados com menor rigor. Não há distinção entre combatentes e, certamente, todos tem o potencial de matar e morrer em um combate.
Predicados da obra
Além de todos os fatores já citados, Tropas Estelares é um filme muito à frente de seu tempo. Os efeitos especiais já contam com 25 anos, porém ainda impressionam. As cenas de ação são sempre envolventes e não são usadas como puro entretenimento ou para acelerar a narrativa com explosões e mortes. Há coerência nos combates e não existe alívio para o espectador que verá personagens importantes ascenderem e caírem, assim como o inverso.
A direção competente de Paul Verhoeven fez com que os atores dessem o seu melhor em cada cena. Tecnicamente o longa-metragem é impressionante, sobretudo por se tratar de um filme de 1997.
Claro que há falhas em um ou outro ponto, o que em momento algum atrapalha a experiência de quem o assiste. Para comprovar isso, basta lembrar que o filme ainda é uma referência como obra de sci-fi, tal como produções do porte de Robocop, Alien, o oitavo passageiro, Blade Runner e outros.
Nota final
Não vou prejudicar a experiência do leitor que prestigiou minha análise. Tropas Estelares é um filme cult, uma obra primorosa da ficção científica e uma ode à vida militar.
Por tais qualidades e por ser um filme atemporal, deixo aqui minha recomendação para que assistam e compreendam que um bom filme não tem idade.
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