Hoje o dia iniciou com a terrível notícia de um terremoto que assolou a Turquia e a Síria. As chocantes cenas estão presentes em todos os principais jornais e sites do mundo. São mais de 2500 mortos e milhares de feridos em uma catástrofe natural que gerou a medição de 7,8 na escala Richter. Dezenas de prédios caíram e há estimativas que indicam um número de mortos que pode chegar a 10 mil vítimas.
Por se tratar de uma catástrofe provocada pela natureza, sem intervenção humana, é óbvio que a triste madrugada nos países era praticamente imprevisível. Mas como outros países fazem para se defender desses fenômenos naturais avassaladores? Será que temos estrutura para algo dessa amplitude ou estamos entregues à própria sorte?
Verdade seja dita, uma catástrofe desse porte é algo que dificilmente será absorvido por um sistema de resgate e saúde, não importa qual seja o país onde ocorra. Milhares de mortos e outros milhares de feridos são suficientes para colapsar até o mais efetivo dos sistemas de saúde da Terra. A logística para atender tantos feridos – em seus mais diversos graus de gravidade – é inimaginável, assim como também é árdua a tarefa de transportar, identificar e sepultar os mortos. Uma situação dessa seria suficiente para parar um Estado de um país desenvolvido e rico. E o que dizer do Brasil, cujo sistema de saúde ainda é deficitário e sucateado?
Bem, vou apenas citar as recentes tragédias de Petrópolis, cidade do Rio de Janeiro que foi atingida por fortes tempestades. Além dos deslizamentos de terra, perdas de vidas por causa das inundações, os problemas seguintes às inundações (doenças como cólera, febre tifóide, hepatite, leptospirose, mas também as perdas materiais, o descarte de alimentos contaminados, a paralização das atividades econômicas, etc), a principal preocupação das autoridades está nos cuidados às famílias atingidas. Como socorrer milhares de pessoas que ficaram sem abrigo, estão feridas, perderam parentes e não têm notícias destes, mas também terão que reiniciar suas vidas e encarar diariamente a dor das perdas e lembranças.
Para piorar, nosso Sistema de Saúde é frágil. Maus governantes fazem de tudo para receber o máximo de verbas do Governo Federal, porém repassam o mínimo possível para a Saúde. Hospitais estão obsoletos, lotados e não têm capacidade física de comportar milhares de feridos. Para piorar, uma tragédia como um terremoto, tempestade, alagamento ou algo similar tem o potencial de findar com as vidas dos próprios agentes de saúde.
Áreas de risco deveriam ser evacuadas, porém esbarramos na logística para alojar as pessoas que estão em situação de risco. Acrescentemos ainda uma infraestrutura frágil em nossa cidade que, quase sempre, tem suas ruas asfaltadas destruídas pela água das chuvas ou barrancos que deslizam sob toneladas de pedras, lama e escombros. Sem ruas para que ambulâncias transitem, como levar feridos a tempo de salvar suas vidas? Qual seria a prioridade no atendimento médico? Como identificar o mais breve possível os mortos para que estes sejam honrados pelos que ficaram e, tão brevemente quanto, sejam enterrados para evitar uma crise sanitária? Como recolher os animais mortos que apodrecem ao lado de casas e comércios?
Aqui também temos um problema crônico que são as comunidades carentes. Milhares de casas foram construídas praticamente uma sobre a outra. Algumas com boas estruturas, outras tão frágeis quanto um castelo de cartas. Imaginem o que ocorreria se um terremoto de magnitude igual ao que atingiu a Turquia e Síria viesse a nos assolar? Quantos milhares de pessoas perderiam suas vidas em comunidades como o Complexo do Alemão, Borel ou outra comunidade de grande porte. A geografia local é contrária às próprias comunidades, já que uma tempestade tende a arrastar as casas mais frágeis. Morar em um morro é se expor ao perigo de verdadeiras cachoeiras que atingem ruas, calçadas e habitações quando as chuvas são fortes e duram um pouco mais.
As notícias do passado me impedem de parecer exagerado. Basta ter um pouco de boa vontade para pesquisar e descobrir quantas vidas já perdemos em todo o país por causa da ineficiência de Governos e Prefeituras que investiram pouco em infraestrutura, segurança e saúde, assim como nossa inexperiência em acidentes de grande monta podem levar ao atendimento ineficiente, socorro lento, sobrecarga dos profissionais socorristas e a inexistência de estrutura e aparelhamento para atender a uma demanda de milhares de feridos.
Resumidamente, a maioria dos estados do Brasil não tem condições de passar por algo tão grandioso quanto um terremoto. Hospitais com poucos recursos, profissionais sobrecarregados (em alguns casos, mal pagos) e a falta de planejamento nos tornam vítimas de nossa própria arrogância e ineficiência. Claro que há profissionais em número satisfatório, porém os que trabalham pelo serviço público estão sob a carga emocional dos anos de Covid. Em alguns estados e municípios, sequer os salários estão em dia.
Também vale citar que catástrofes de grande porte despertam o pior que há nas pessoas. Saques, assaltos, violência e todo tipo de covardia é praticada enquanto as pessoas agonizam por suas perdas. De igual modo, enchentes, maremotos e terremotos tendem a destruir os serviços básicos que proporcionam nossa comodidade. Luz, água, transporte público, gás… tudo isso fica extremamente prejudicado e exposto. Não é incomum ver o desabastecimento de água, a interrupção do fornecimento de gás por ruptura de tubulações, a diminuição das frotas de ônibus (por perdas e medos de depredação e arrastões).
Dito isto, resta a nós, eleitores e pagadores de impostos, a cobrança incessante pela melhoria da estrutura física e de pessoal em nossos hospitais, sem jamais descartar a melhora em órgãos vitais como a Defesa Civil, Bombeiros, Policias e outros que – mesmo desprovidos de recursos satisfatórios e com pouco contingente – dão o melhor em prol da preservação da vida.