O uso de um caça F-22 de última geração pela Força Aérea dos Estados Unidos para derrubar o famigerado balão chinês de espionagem foi repetidamente questionado por aparentemente ser uma solução muito cara pra um problema visto por muitos como simples. Uma dúvida ficou no ar: tudo isso era realmente necessário?
Militares americanos recolhem restos do “balão espião” chinês que caiu no mar.
Na semana passada, a bombástica notícia de que um balão de alta altitude muito suspeito foi visto sobrevoando o continente americano se transformou rapidamente – e compreensivelmente – num tremendo incidente diplomático. Depois de investigar o assunto por dias, inicialmente em segredo, autoridades americanas revelaram que o objeto era na verdade um balão chinês de espionagem, ao mesmo tempo que autoridades chinesas se apressaram em declarar que se tratava de um inocente balão civil, usado principalmente para monitorar o clima.
O tal balão foi visto originalmente sobre o estado de Montana, o que chamou muito a atenção de alguns analistas militares: precisamente nesta área estão alguns dos silos de mísseis nucleares mais importantes dos Estados Unidos. Nos dias seguintes, o objeto continuou seu caminho rumo a sudeste, passando por diversos outros estados e seguindo em direção ao mar, até que finalmente, foi derrubado neste sábado por um caça de última geração, um F-22, encerrando sua longa viagem através do globo.
Usando um avião super avançado pra derrubar um aparato aparentemente simples.
Bem, como sabemos, o balão estava voando a cerca de 60.000 pés, segundo o General Brigadeiro da força aérea americana Patrick Ryder, o que seria mais ou menos uns 18.000 metros de altura.
Isso, por si só, explicaria porque o F-22 é a melhor ferramenta para esse trabalho. Trocando em miúdos, o F-22, sendo o mais avançado caça do mundo (ao menos, do mundo ocidental) seria a opção ideal por conta da sua capacidade única de voar extremamente alto e seu avançado sistema de sensores e equipamentos eletrônicos. Após a conclusão do incidente, o governo americano declarou que, antes de derrubar o balão, o avião teria inclusive conseguido bloquear os sinais eletrônicos do aparato, impedindo a transmissão de informações de volta para a China. Além disso, o avião americano também teria extraído dados coletados pelo balão espião antes de abatê-lo, operação que nenhum outro caça americano seria capaz de fazer com a mesma eficiência.
Míssil Aim-9 Sidewinder, usado pra derrubar o balão chinês.
Tá, mas por que um míssil foi usado em vez de balas? Não foi um pouco de exagero?
Essa pergunta, por incrível que pareça, tem uma resposta prática, e vem de um conhecimento obtido através da experiência real da Royal Canadian Air Force, a força aérea canadense, com um incidente parecido.
F-22 de centenas de milhões de dólares
Resumidamente, acontece que em 1998, o Canadá teve problemas com um balão meteorológico errante e tentou derrubá-lo usando o canhão não de um, mas de dois caças CF-18. O caso é que, depois de disparar mais de 1.000 tiros, o balão, de mais de cem metros de altura, ainda continuou voando como se nada tivesse acontecido. No fim, ninguém conseguiu confirmar nem onde, nem quando o balão caiu, o que tornou o incidente extremamente constrangedor. Claro, os EUA não queriam cometer o mesmo erro e, por isso, partiram logo para o uso de um míssil de alta precisão.
“Os Top Guns que não conseguiam estourar um balão”, dizia a manchete de um jornal da época, ironizando os pilotos canadenses.
Por que usar balões de espionagem, quando se tem drones avançados e satélites de última geração?
Por incrível que pareça, balões espiões não são tão incomuns quanto parecem. Essa não é a primeira vez que um incidente como esse acontece e provavelmente também não vai ser a última.
A verdade é que os balões oferecem algumas vantagens sobre outras formas de espionagem. São mais manobráveis que os satélites, além de movimentar-se de modos menos previsíveis. Ou seja: um balão tem a chance de chegar de surpresa, um satélite, contudo, não. Além disso, embora ambos forneçam imagens de alta resolução, balões permanecem em uma mesma área por períodos mais longos, o que aumenta suas chances de detectar ou encontrar algo de importância pra quem está espionando.
Outra vantagem seria o preço: um satélite pode custar centenas de milhões de dólares. Um balão de alta tecnologia, apenas uma fração disso. Ou seja, balões não apenas são mais baratos do que lançar satélites no espaço mas, por operarem mais perto da superfície da Terra, podem obter imagens de melhor qualidade.
Outro fator que vale mencionar é que balões podem voar acima do alcance da maioria dos aviões, tem mais autonomia do que um drone e, como voam mais devagar que outras aeronaves, nem sempre são detectados pelo radar.
Revista Sociedade Militar – Rafael Cavacchini