A morte de Marina Yankina, 58 anos, que ocupava o cargo de chefe do Departamento de Apoio Financeiro em uma sub divisão do Ministério da Defesa Russo, em São Petersburgo, é a mais recente de uma série de mortes misteriosas envolvendo figuras russas proeminentes desde que as forças do exército do presidente Vladimir Putin invadiram a Ucrânia, em fevereiro passado.
A polícia encontrou o corpo de Yankina na quarta-feira sob as janelas de um prédio na rua Zamshina. Seus pertences pessoais e documentos foram encontrados em uma das sacadas, mas os diversos jornais russos que noticiaram o fato foram conflitantes sobre se a oficial morava ou não no prédio. As autoridades policiais não descartaram a possibilidade de ela ter tirado a própria vida.
Yankina é a última de muitos funcionários de alto escalão e empresários russos proeminentes a morrer em circunstâncias misteriosas desde o início da guerra no ano passado. No início desta semana, o Ministro do Interior, Major General Vladimir Makarov, 72, morreu de um aparente suicídio em um subúrbio de Moscou, reforçando as suspeitas sobre o que exatamente poderia ter provocado a morte dessas pessoas.
Outras mortes suspeitas
Pavel Antov
Pavel Antov era membro do partido Rússia Unida (o mesmo que outrora Putin também era membro) e também um rico magnata de alimentos embutidos. Ele foi encontrado caído sobre uma poça de sangue do lado de fora do Hotel Sai International, na cidade de Rayagada, no sul da índia.
Antov era um político russo que criticava a invasão da Ucrânia por Putin. Ele teria escorregado e caído acidentalmente de uma janela no dia 25 de dezembro de 2022 e a polícia teria sido rápida em dizer que não havia suspeita de ter ocorrido um crime.
Em junho de 2022, ele teria feito comentários sobre um ataque russo de mísseis a um quarteirão residencial de Kiev, capital da Ucrânia, dizendo que “é extremamente difícil chamar tudo isso de outra coisa senão terrorismo”.
A mensagem posteriormente foi apagada e Antov escreveu nas redes sociais que apoiava Putin, que era um “patriota do meu país” e que, sim, apoiava a guerra. Ele disse que a mensagem havia sido um mal-entendido e teria sido escrita por alguém cuja opinião sobre a “operação militar especial na Ucrânia” Antov discordava veementemente.
Ravil Maganov
Ravil Maganov, presidente da gigante petrolífera russa Lukoil, o segundo maior produtor de petróleo do país, foi encontrado morto em 1º de setembro de 2022, após cair da janela de um hospital em Moscou.
As circunstâncias em torno da queda do homem de 67 anos permanecem inexplicadas. Ele trabalhava na Lukoil desde 1993 e também era crítico da guerra da Ucrânia.
A agência de notícias russa Interfax informou que ele “caiu de uma janela no Hospital Clínico Central” e “morreu devido aos ferimentos sofridos”. Mas não ficou claro por que Maganov estava no hospital, em primeiro lugar.
O conselho de administração da Lukoil havia emitido um comunicado em março de 2022 expressando “suas mais profundas preocupações sobre os trágicos eventos na Ucrânia”. A declaração pedia o “fim mais rápido possível do conflito armado” por meio de negociações.
“Apoiamos fortemente um cessar-fogo duradouro e uma solução de problemas por meio de negociações sérias e diplomacia.”, concluía o texto.
Anatoly Gerashchenko
O ex-chefe do Instituto de Aviação de Moscou (MAI), Anatoly Gerashchenko, morreu em 21 de setembro de 2022. Ele trabalhou 45 anos da sua vida dentro do instituto.
Os meios de comunicação russos descreveram sua morte como acidental. Gerashchenko teria “caído de uma grande altura” em um lance de escadas dentro da sede do MAI. Ele foi declarado morto ainda no local por paramédicos.
O instituto disse que uma investigação estava sendo iniciada sobre a morte de Geraschenko. Disse ainda que o incidente foi uma “perda colossal para o MAI e para a comunidade científica e pedagógica”.
O Instuto de Aviação de Moscou tem conexões estreitas com o ministério da defesa russo, desenvolvendo tecnologia como drones e pesquisa aeroespacial. Gerashchenko ganhou vários prêmios do governo russo, incluindo a medalha “Mérito à Pátria”, por seu trabalho dentro (e fora) do instituto.
“Escorregões” suspeitos e “acidentes” inexplicáveis
Desde o início do ano passado, quase uma dezena de oligarcas russos foram encontrados mortos em circunstâncias misteriosas. A frequência com que acidentes inexplicáveis, assassinatos misteriosos ou suicídios sem razão aparente, cria uma enigmática e sombria aura sobre os eventos, alimentando diversas teorias da conspiração sobre a relação das mortes com a atual Guerra Rússia-Ucrânia.
As séries de mortes russas de alto escalão ganharam especial atenção no passado. O USA Today publicou uma lista ainda em 2017 de 38 autoridades e figuras russas proeminentes que morreram em circunstâncias suspeitas. Esses números parecem ter aumentado significativamente após o início das hostilidades entre Russa e Ucrânia.
Se as mortes ocorreram a mando de alguém ou alguma organização, ainda é cedo pra dizer. O que é seguro afirmar é que, se você é crítico do governo russo, parece ser recomendável evitar janelas, sacadas e para-peitos escorregadios.