Em depoimento à CPI dos atos antidemocráticos, como ficou conhecido o dia 8 de janeiro, quando populares enfurecidos vandalizaram prédios públicos em Brasília, o coronel da Polícia Militar do Distrito Federal Jorge Eduardo Naime fez uma grave denúncia sobre os acampamentos localizados em frente às organizações militares do Exército brasileiro.
Em declarações fornecidas na Câmara Distrital, o oficial diz que “os manifestantes viviam numa ‘bolha’, num mundo paralelo” e que o grupo como um todo “parecia uma seita”. O coronel afirmou também que recebeu de um dos “líderes” uma denúncia de que outro “líder” havia “cometido um estupro dentro do acampamento”. Ele afirmou ter recebido também informações de que havia tráfico de drogas e prostituição nos acampamentos defronte aos quartéis do Exército.
As afirmações são vistas como estarrecedoras por muita gente e oferecem uma nova dimensão que ultrapassa aquilo de que o público em geral já suspeitava.
Mas, o que é mais grave na fala do depoente – e aí saímos da esfera pessoal dos que acampavam para adentrar o universo público estatal – é que ele diz que as denúncias que recebeu foram mostradas aos oficiais do Exército brasileiro em várias reuniões, segundo ele, para que se pudesse “ver a que nível estava chegando a coisa”.
O coronel diz que “pôs à disposição do Exército brasileiro 553 homens” no dia 29 de dezembro de 2022 “para retirar aquele acampamento definitivamente”. Segundo ele, “a operação foi planejada na tarde anterior, à tarde inteira”. Tudo foi minuciosamente previsto e programado, mas, nada aconteceu, pois “a operação foi cancelada”.
Os desdobramentos desse depoimento à CPI devem alcançar o alto comando do Exército. Caso restem comprovadas as declarações do coronel Naime – a Força terrestre vai precisar explicar porque se recusou a retirar os manifestantes – estará também comprovado que a politização dos militares não só é danosa para eles mesmos, como pode ser inclusive perigosa para a população.