Documento embasou decisão do STF de julgar crimes de militares nos atos antidemocráticos.
Um servidor da Polícia Federal que estava no Palácio do Planalto durante os ataques de 8 de janeiro disse que militares escoltaram os golpistas que depredaram o local até a saída de emergência, para evitar que fossem presos.
O depoimento, obtido com exclusividade pelo UOL, serviu de respaldo para o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidir, em 27 de fevereiro, que será a Corte, e não a Justiça Militar, o foro para julgar crimes de militares nos atos antidemocráticos.
Abaixo, trechos do depoimento:
“Um militar orientava a tropa do BGP (Batalhão da Guarda Presidencial) para fazer um corredor e liberar os manifestantes para saírem pela saída de emergência para trás do Planalto: ‘vamos liberar, fazer um corredor’”;
“(…) que vários manifestantes ficavam no local afirmando que o Exército os estava protegendo;”
“(…) que, então, o Choque subiu a rampa para acessar o Planalto;”
“(…) que um dos militares que tentava organizar uma liberação para os invasores se dirigiu à tropa de choque da Polícia Militar do DF, tentando impedi-los de entrar: ‘aqui não, aqui não’”.
O servidor também disse que, ao se aproximar do acesso ao Palácio do Planalto pelo anexo, “notou que a guarita de segurança, onde ficam os militares do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), estava abandonada”.
O depoente disse que foi para o túnel que liga o anexo 2 ao Planalto, onde há normalmente controle do GSI, e “não havia ninguém do GSI naquela hora, com as catracas liberadas”.
Ainda, segundo o documento, “ao descer no Salão das Cerimônias, no segundo andar, o declarante se deparou com centenas de pessoas com camisas da seleção brasileira no local tirando fotos, gravando vídeos, outros conversando com os militares do BGP; que, nesse momento já estava tudo destruído no local; que os militares estavam com equipamentos antidistúrbio civil, mas não empregavam qualquer ação em face dos invasores”.
O servidor contou “que alguns manifestantes estavam sentados em cadeiras, outros entravam e saiam do local tranquilamente, enquanto a tropa do BGP assistia a tudo pacificamente”.
Por volta desse horário, do lado de fora do Planalto, já havia confrontos, o helicóptero da Polícia Federal dispersava gás nos manifestantes que quebravam o STF. O depoente teria ficado indignado e gritado para os militares “tomarem posição, avançarem contra os manifestantes, mas eles não faziam nada”. Segundo o servidor, “alguns apenas diziam que aguardavam orientações” e “diversos manifestantes entravam e saiam do local livremente”.
O servidor depôs à Polícia Federal em 11 de janeiro e, até agora, tem sua identidade protegida por sigilo. Na ocasião, ele disse que gravou vídeos em seu celular comprovando as cenas descritas. As imagens já estariam em posse dos investigadores. Segundo fonte que participa das investigações, o depoimento e os vídeos são provas fortes de algo que muitos já suspeitavam.
JB Reis