Depois de quatro anos, o CMA (Comando Militar da Amazônia) voltou a atuar no Vale do Javari, no Amazonas. Conforme comunicado à imprensa neste dia 27, militares estão na região realizando a Operação Jacuixito.
Agora, o CMA, por meio da 16ª Brigada de Infantaria de Selva, em Tabatinga, afirmou que ações de patrulhamento no Vale do Javari estão intensificadas. Citou, por exemplo, que aeronaves estão sendo usadas na fiscalização e chegando a comunidades mais remotas, como as aldeias Paraná e Maronal.
Para tanto, os militares voaram 1.188 quilômetros.
De acordo com o CMA, um dos objetivos é fazer o reconhecimento de rotas dos criminosos do tráfico de drogas, extração ilegal de madeiras, contrabando de pescado e outros crimes.
‘Sem hora de parar’
No comunicado, o CMA afirmou que a operação Jacuixito – acrônimo dos rios Javari, Curuçá, Ituí, Itaquaí e Quixito – não tem hora para acabar. Os militares ficarão no Vale do Javari enquanto a soberania do Brasil se ver atacada.
A operação é uma resposta inicial do Ministério da Defesa ao clamor das populações da região por segurança na tríplice fronteira, Brasil, Peru e Colombia.
O Vale do Javari tem a maior concentração de povos autóctones isolados do mundo. Alguns ainda não contactados ou porque recusam contato com outros grupos.
Muito possivelmente a memória e a tradição local tenha registrado que encontros com povos alienígenas podem ter sido traumáticos.
A Terra Indígena (TI) Vale do Javari está localizada no extremo oeste do Estado do Amazonas e tem 8.544.482 hectares de floresta equatorial densa, com rica biodiversidade e diversos rios navegáveis como o Javari, Curuçá , Ituí, Itacoaí e Quixito, além dos altos cursos dos rios Jutaí e Jandiatuba. Foi demarcada em 2000 e homologada em 2001.
Vivem nela os povos Mayuruna/Matsés, Matis, Marubo, Kulina Pano, Kanamari, um pequeno grupo Korubo de recente contato e um grupo Tsohom Dyapá na mesma condição.
Os Korubo ficaram muito conhecidos quando descobriram que eles ainda se mantinham isolados, o que é uma surpresa ainda para muitos.
Além dos povos indígenas mencionados, vive no interior da terra indígena expressivo grupo de índios isolados. São ao todo dezessete registros de índios isolados reconhecidas pela Coordenação Geral de Índios Isolados e Recém Contatados da Fundação Nacional do Índio no Vale do Javari (Fundação Nacional do Índio, 2014) – o que corresponde à maior concentração destes povos em uma mesma terra indígena e suas adjacências no Brasil.
São povos falantes de línguas da família Pano, à exceção dos Kanamari e dos Tsohom Dyapá (ambos da família linguística Katukina).
Dados sobre a população total da TI Vale do Javari oscilam entre 3,8 e 5,5 mil pessoas (não incluindo estimativas da população de índios isolados). De acordo com a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), a população da TI em 2013 era de 5.481 pessoas vivendo em 56 aldeias (incluindo 181 pessoas vivendo na zona urbana de Atalaia do Norte e na Estrada Pedro Teixeira, que conecta esta cidade a Benjamin Constant) chegou a um número de 5.075 pessoas vivendo em 56 aldeias e 117, na cidade de Atalaia do Norte.
A TI Vale do Javari, assim, se torna uma área com um complexo único de sociedades e culturas, cada qual com sua interpretação de mundo, sua história, sua visão política, seu conjunto de relações, interesses e projetos de futuro, suas práticas de manejo e ocupação do espaço, seu modo de ser e interagir com a sociedade nacional.
Historicamente a região tem sofrido constante pressão de exploração de seus recursos naturais, em especial borracha, madeira e peles. Mais recentemente devido à sua localização com a fronteira peruana tem sido alvo de caça e pesca ilegais, do narcotráfico e da exploração petroleira.
Operação Jacuixito
A Operação Jacuixito foi deflagrada com uma reunião com representantes da FUNAI, Polícia Federal, autoridades locais, membros da comunidade e profissionais de segurança, incluindo engenheiros, biólogos e antropólogos.
Segundo o General Ricardo Moussalem, comandante da 16ª Brigada, o objetivo da reunião foi informar os participantes acerca de detalhes da operação e reunir sugestões.
Durante a operação, serão realizados patrulhamento fluvial, patrulhamento da BR-307, controle de pontos críticos, ações cívico-sociais, além de transporte aéreo logístico, conciliando a preservação do meio ambiente e a operacionalidade das tropas do Comando Militar da Amazônia.