O comandante do Exército, general Tomas Paiva, disse recentemente ao deputado federal Carlos Zarattini (PT-SP) ser contrário à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) articulada pelo parlamentar que prevê, dentre outros pontos, que as Forças Armadas não participem das operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
Ambos se reuniram na sede do Exército em Brasília. O petista lidera a articulação no PT, revelada pela CNN, para deflagrar uma PEC restringindo atividades militares.
“Foi uma reunião muito boa. Ele concorda muito com nossa ideia de ter uma despolitização das Forças e um processo de profissionalização e afastamento de ideologização. Mas disse que discorda da nossa ideia de acabar com GLOs militares. Ele acha que há um problema operacional. Que se não forem as Forças para fazer operações desse tipo, não há quem tenha a mesma expertise para fazer”, disse Zarattini à CNN.
O petista disse ainda que o comandante manifestou apoio a medidas como a ida automática para a reserva de militares que disputem eleições ou que queiram participar de cargos de natureza civil.
Algumas considerações
Primeiro ponto a destacar nessa estranha “articulação”. O projeto de lei feito pelo deputado petista objetiva acabar com a politização dos militares. As GLOs são obviamente o grande palanque dos generais com ambições políticas – o general Braga Neto é exemplo vivo disso – logo, acabar com a ingerência das Forças Armadas nas questões de segurança pública não só é conveniente e oportuno como ataca a principal plataforma de onde se lançam os protagonismos militares indevidos e impróprios.
Paradoxo dos paradoxos, o idealizador da PEC vai discuti-la justamente com um membro destacado da mais alta cúpula dos militares, os principais interessados em deixar as GLOs como capital político de reserva. Afinal, ninguém sabe o dia de amanhã…
Último ponto sobre a discussão de um político com um chefe militar sobre a despolitização militar(!). O comandante do Exército quer manter as GLO, mas não se incomoda que prováveis candidatos militares à política com menos de 35 anos de serviço ativo sejam mandados para a reserva não remunerada – em bom português, perderão o emprego.
Caso a PEC logre êxito, do jeito que o general quer – isto é, mantendo as convenientes GLOs do jeito que estão – um número reduzidíssimo de militares, dadas as pesadas restrições impostas, vão se arriscar na carreira política. No futuro, se houver militares políticos, praticamente serão só oficiais generais.
Edição e comentários: JB Reis