Os preços de referência do gás natural caíram quase 5% na última sexta-feira, atingindo espantosos US$52 por megawatt-hora, o nível mais baixo desde setembro de 2021. O valor é apenas uma fração do recorde histórico de U$340 atingido em agosto passado, segundo dados da agência Independent Commodity Intelligence Service.
No último ano, a Rússia – o maior fornecedor da Europa – reduziu drasticamente suas exportações de gás, em retaliação às sanções impostas pela União Europeia ao país por conta da guerra na Ucrânia. Essa queda substancial do preço do gás natural demonstra, portanto, uma reviravolta notável e uma excelente notícia para o continente europeu que, apenas alguns meses atrás, enfrentava escassez e a possibilidade de apagões sem precedentes. A queda dos preços reduzirá ainda mais o risco de recessão na Europa.
Preço nunca esteve tão baixo desde que a Rússia invadiu a Ucrânia
Vários fatores inusitados foram os responsáveis pela queda agressiva dos preços do gás na Europa. O clima, que foi excepcionalmente quente neste inverno, provavelmente foi o principal fator. É claro, houveram também diversos esforços e incentivos para economizar energia e gás, além da incansável busca por fornecedores alternativos para abastecer as instalações de armazenamento de gás europeias.
Deu certo. Na quinta-feira, os depósitos de gás em toda a União Europeia estavam 65% cheios, de acordo com a Gas Infrastructure Europe, órgão responsável pelo armazenamento e distribuição do produto. Isso está bem acima da média de 45% da UE dos últimos cinco anos.
O bloco também aumentou as importações de gás natural da Noruega e também de gás natural liquefeito (GNL), principalmente dos Estados Unidos e do Catar. O GNL é uma forma líquida e refrigerada de gás que pode ser transportada por navios-tanque e, por isso, pode ser trazida de países muito distantes através dos oceanos.
“A Europa parece ter se livrado do gás russo com sucesso”, disse Henning Gloystein, diretor de energia, clima e recursos do Eurasia Group, à agência de notícias CNN. “Ainda é relativamente caro, em comparação com a média de longo prazo pré-crise, mas os níveis atuais de preços não demonstram mais um risco de escassez, como ocorreu em grande parte do ano passado.”
Salomon Fiedler, economista do banco Berenberg, também tem uma opinião positiva do fato. Em nota, disse na sexta-feira que espera que a Europa evite uma crise de energia no próximo inverno, provendo que consega manter seus atuais níveis de importação de fornecedores não-russos. Essa é, sem dúvida, uma excelente notícia para os europeus, e um revés para a economia russa, que terá que buscar outros clientes para sua vasta produção de gás natural.