Nesta terça-feira, 21 de março, o presidente chinês Xi Jinping se encontrou com o presidente russo, Vladimir Putin, no Kremlin, em Moscou. Líderes chinês e russo conversaram sobre as relações bilaterais entre os países e discutiram sobre as questões regionais e internacionais de interesse mútuo.
O presidente chinês destacou que China e Rússia são os maiores vizinhos um do outro, e que consolidar e desenvolver relações mútuas de boa vizinhança é consistente com a lógica histórica e estratégica chinesa.
Antes da visita, o presidente Vladimir Putin disse que “ao contrário de alguns países que reivindicam hegemonia e trazem discórdia à harmonia global, a Rússia e a China estão literalmente e figurativamente construindo pontes”. Xi Jinping também opinou positivamente sobre o futuro encontro. Em declaração à agencia de notícias AFP, o presidente chinês disse estar “confiante de que a visita será frutífera e dará um novo impulso ao desenvolvimento saudável e estável das relações sino-russas.”
A visita do presidente chinês ao Kremlin é tida como de extrema importância política para a Rússia. Xi Jinping visita o colega russo em um momento delicado, em que Moscou se encontra com poucos amigos poderosos no cenário internacional devido a invasão da Ucrânia.
China e a Rússia compartilham objetivos geopolíticos semelhantes, com o desejo mútuo de ver o que chamam de “mundo multipolar”. Na prática, isso significa aumentar a influência sino-russa na geopolítica, e conter a crescente influência da OTAN.
Novos clientes para o gás russo
Várias empresas deixaram de fazer negócio com Moscou após a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022. Um dos setores mais afetados foi, justamente, a exportação do gás russo. Vladmir Putin espera num futuro próximo substituir essas empresas por companhias chinesas, retomando as exportações desse commodity e impulsionando a economia russa, afetada duramente tanto pela guerra contra a Ucrânia quanto pelas sanções do Ocidente. Putin afirmou ainda que os dois líderes discutiram a construção do gasoduto Poder da Siberia 2, que visa fornecer 50 bilhões de metros cúbicos de gás natural por ano da Rússia para a China.
Anos atrás, a Rússia já havia demonstrado interesse no projeto, mas a ideia ainda não havia decolado. No entanto, a proposta ganhou força neste momento em que a Rússia precisa urgente substituir a Europa como seu grande cliente de gás, e a China seria o mercado ideal para isso.
“Estou convencido de que nossa cooperação multifacetada continuará a se desenvolver para o bem dos povos de nossos países”, disse Putin a Xi Jinping, enfatizando que a Rússia já é um “fornecedor estratégico” de petróleo, gás e carvão para a China.
Guerras tecnológicas e comerciais
Embora uma possível ajuda militar para a China seja algo que o Ocidente precisa observar de perto, a profundidade e a amplitude da lealdade de Pequim a Moscou parecem ser limitadas. Analistas sugerem que a China provavelmente está relutante em arriscar sofrer ela mesma sanções em sua economia por conta de uma ajuda militar à Rússia.
Por outro lado, tanto China quanto a Rússia tem interesse em ver os EUA e o Ocidente como um todo mais enfraquecidos, geopolítica e diplomaticamente. Recentemente, a China sofreu um duro golpe, quando o Escritório de Indústria e Segurança do Departamento de Comércio dos EUA, o BIS, introduziu regras rígidas de controle de exportação, destinadas a restringir a capacidade da China de obter chips avançados de computador. Portanto, é seguro assumir que tanto Putin quanto Xi Jinping tem muito a ganhar estreitando laços comerciais e tecnológicos.
“A China realmente não precisa da Rússia”, disse Christopher Granville, diretor administrativo de pesquisa política global da TS Lombard, à CNBC. “A Rússia é uma economia muito pequena em comparação com a da China, com exceção de algumas coisas muito específicas, como suas exportações de hidrocarbonetos e alguns aspectos de suas indústrias militares”, observou.
“Parece-me que, como resultado da campanha do governo dos EUA para impedir a China de avançar e mantê-la para trás, o relacionamento com a Rússia se tornou mais valioso para a China de repente”, concluiu Granville.