Com a recente notícia do retorno de Hugh Jackman ao papel de Wolverine (ao lado de Ryan Reynolds, o Deadpool) no terceiro longa-metragem sobre o mercenário louco Deadpool, algumas perguntas surgiram, sobretudo acerca do retorno de uma personagem que morreu naquele que hoje é considerado um dos melhores filmes de super-heróis: Logan.
As explicações sobre esse “retorno” eu deixo sob a responsabilidade dos dois atores. Após o vídeo, farei uma análise da obra em quadrinhos que serviu de base para o filme Logan que consagrou Hugh Jackman como um dos melhores atores da Marvel/Sony e o Wolverine definitivo.
O Universo Marvel é divertido e muito bem estruturado. Mas nem só de diversão vive o fã de quadrinhos. É preciso ter um enredo mais sério, tenso e violento para mover, por vezes, os alicerces da Fábrica de Ideias. Velho Logan é, além de uma ótima história, um marco dentro do universo do Wolverine.
Estamos falando de um futuro alternativo onde tudo deu errado. Passaram-se 50 anos desde que Logan tomou atitudes extremas cujas sequelas são sentidas até essa época caótica apresentada por Mark Millar (roteirista de Guerra Civil, Kick Ass) e Steve McNiven (desenhos em Guerra Civil, Vingadores: A Queda). A violência é sempre seguida pela morte em uma narrativa adulta e crua. O selo Marvel Knights não está à toa nessa série de 2008 que revolucionou por mostrar os males da quase “imortalidade” de Logan.
O futuro é uma época de dor. Logan é um pai que luta para manter viva sua família. Um homem cuja ideologia é totalmente voltada para o pacifismo, contrariando tudo que ele viveu no passado. Nesse período sombrio, Bruce Banner é um dos homens mais impiedosos e cruéis. Sua mulher, filhos e netos governam com absoluto desrespeito às pessoas e suas vidas.
Logan se depara com a prole de Banner e tem seu fator de cura posto à prova. Logo após, diante de uma situação financeira falida e devendo dinheiro aos Banners, Logan é recrutado pelo Gavião Arqueiro (Clint Barton) – agora cego – para servir como segurança durante a travessia de todo o antigo território estadunidense (hoje dividido em quatro grandes áreas governadas por vilões).
Durante a travessia, somos postos diante de um inferno sem precedentes. Versões malignas do Motoqueiro Fantasma, o martelo de Thor virou uma relíquia religiosa… nada é como antes. A esperança de retorno dos heróis gera uma peregrinação parecida com a que vemos em Aparecida do Norte, Meca e outros pontos de culto e adoração. Os valores estão deturpados e a ordem não existe. Algumas partes do país parecem áreas bombardeadas, tal é a destruição presente. Mas a maior destruição está na perda de esperança pela maioria, pela remoção da ordem e a instauração de regimes ditatoriais que moldaram o caráter das gerações seguintes sem pilares morais e adaptados à presença do mal.
A trilha dos dois ex-heróis leva-os a caminhos árduos. Clint ainda tem um trabalho extra: resgatar sua filha no território do Rei do Crime. E muitas surpresas acontecem só nessa tentativa de resgate.
Alguns personagens obscuros de outrora ganharam papel mais importante nessa narrativa. Os Toupeiroides, por exemplo, se tornaram algo próximo a uma arma natural para evitar o superpovoamento da Terra.
A humanidade decaiu a ponto de regressar ao estágio romano das Arenas. O pão e circo permanecem, assim como o sangue derramado em tempos passados. A força é a lei. O excesso de força é a garantia de permanecer sendo a lei.
Millar e McNiven dão presentes inesquecíveis a nós, leitores. Perseguições que lembram o melhor em Mad Max, traições, cenas de morte que fazem Kill Bill parecer Peppa Pig. É tudo extremado, caótico e belo. Algo que há muito não víamos no universo Marvel, mesmo se tratando de Marvel Knights.
Então, após toda essa sacrificante jornada, já de volta a sua casa, Logan se depara com o que mais temia. Diante do horror, o pacato fazendeiro cede lugar ao antigo assassino. Logan morre para que o Wolverine renasça. É hora de procurar os responsáveis por seu martírio. É hora de você, leitor, se preparar para um dos mais sangrentos combates da história, sem cortes ou censura, apenas sangue, ossos e morte.
O roteiro de Mark Millar fecha a trama de forma brilhante. Assim como começou sua carreira nas HQ, Wolverine fecha esse arco confrontando um dos mais temidos personagens do universo Marvel: o Hulk.
Banner e Logan entram em um confronto cujo desfecho é incrível. Também é surpreendente as escolhas e mudanças que essa luta provoca em toda uma realidade. Logan cometeu crimes contra pessoas que amava. Ele também evitou crimes em nome das pessoas que amava. Agora, diante de um único caminho restante, fará o que for possível para honrar seu passado, amenizar a dor das perdas e evitar que novos reinados de horror sejam implementados na árdua vida dos que sobreviveram ao apocalipse provocado pela união improvável dos vilões.
As lágrimas caem e só o tempo pode secá-las. Mas o que fica bem claro é que o sangue derramado pela vingança jamais seca. E ainda resta muito sangue a ser derramado. Essa é a sina do Wolverine.