A Primeira Grande Guerra foi um marco na história da humanidade e na história militar… um triste marco, cabe salientar. Sangrenta, iniciada pelo mais estranho motivo e marcada por anos de dor, perdas de vidas e – sobretudo – por ser o ponto de partida para aquilo que décadas depois conheceríamos como a Segunda Guerra Mundial. Sim, apesar de alguns não vincularem um fato ao outro, a estrutura geopolítica do mundo sofreu influência dessa guerra. Alemães iniciaram – após o fim da Primeira Guerra – um de seus períodos mais sofridos, seja do ponto de vista econômico, seja em função do declínio moral de uma nação em prol da ascensão de um líder que seria temido e odiado em todo o mundo.
Mas o fato é que a Primeira Guerra Mundial é um dos períodos que o cinema tende a retratar de forma cíclica. Certamente a Segunda Grande Guerra tem muito mais apelo e, por isso, é muito mais reproduzida pelo cinema mundial, mas a Grande Guerra (ela só passou a ser chamada de “Primeira” após o advento da Segunda Guerra Mundial) tem suas grandes versões na telona.
Por isso, nada mais interessante do que daqui da Revista Sociedade Militar apontar para vocês algumas das obras de maior importância sobre esse período histórico ímpar, uma fase da humanidade que contou com homens e mulheres que se destacaram naquele período e nas décadas seguintes, e teriam seus nomes imortalizados na História, como: Adolf Hitler, J.R.R. Tolkien, Winston Churchill, C.S. Lewis, Mata Hari, Lawrence da Arábia, Manfred von Richthofen, entre outros.
A lista a seguir mostra algumas das melhores opções de filmes para o leitor, pois há mais filmes que poderiam estar inclusos, porém a limitação servirá para que busquem por si mesmos as demais obras pertinentes sobre o tema. Assim, divirtam-se com a lista, assistam aos filmes e não se esqueçam de comentar sobre o que acharam e quais filmes incluiriam.
P.S.: os filmes obedecem a ordem de lançamento, não a ordem de importância ou qual é o melhor ou pior. A experiência particular de cada um dirá, obviamente, quais são seus preferidos.
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Carlitos nas Trincheiras (Shoulder Arms, 1918).
Lançado poucos dias antes do fim da Primeira Guerra (que ocorreu em 11 de novembro de 1918), Carlitos nas Trincheiras é um filme mudo do consagrado diretor e ator Charles Chaplin.
Chaplin é um soldado que se alista por engano nas Forças Armadas. Sua trajetória é cômica e o destaca em situações diversas que – de certa forma – também marcaram os soldados no front. Mas é na crítica à guerra e seus horrores que a obra se destaca, ainda que de forma bem humorada.
Um ponto interessante está no fato de que a personagem de Chaplin se apaixona por um jovem viúva, porém esse amor é brutalmente interrompido pela guerra. Há cenas de guerra que impressionaram à época por sua reprodução muito próxima do que foi a realidade.
Carlitos nas Trincheiras é uma das grandes obras de Chaplin que, novamente, se vale do humor para passar uma mensagem pacifista e de esperança.
A Grande Ilusão (La Grande Illusion, 1937)
Dirigido por Jean Renoir, este filme francês filme mostra a história de um grupo de prisioneiros de guerra franceses durante a Primeira Guerra Mundial. Estes tentam escapar de um campo de prisioneiros alemão, mas acabam por entrar em rota de choque com o comandante do campo de prisioneiros. A obra tem como base as memórias do próprio diretor, destacando-se por sua visão humanista e por apontar o quão fútil pode ser a guerra.
Sargento York (Seargent York, 1941)
Sargento York é um filme de guerra norte-americano do ano de 1941, dirigido por Howard Hawks e estrelado por Gary Cooper, Joan Leslie e Walter Brennan. O longa-metragem é baseado na história real de Alvin C. York, um pacifista e caçador do Tennessee, um herói de guerra durante a Primeira Guerra Mundial.
Alvin York (Gary Cooper) é um homem do campo que se recusa a se alistar no Exército americano durante a Primeira Guerra Mundial. Ele tem firmes convicções religiosas e é um pacifista por natureza. Entretanto, após um esclarecedor diálogo com seu pastor, ele opta pelo alistamento e parte para a guerra.
Uma vez em combate, em território francês, ele e seu pelotão são atacados pelos alemães que não logram sucesso e são capturados. Tal feito se deveu aos atributos de liderança e à capacidade como caçador de York.
Ao espectador mais atento, fica claro que o filme é uma “propaganda” e um incentivo ao patriotismo, sobretudo por ter seu lançamento em plena Segunda Guerra Mundial e no ano em que os EUA entraram em combate, logo após Pearl Harbor. Inspirador, o filme teve papel importante no recrutamento de jovens patriotas que ingressaram nas Forças Armadas, tendo rendido a Gary Cooper o Oscar de melhor ator. Gary interpretou Alvin York como uma exigência do próprio soldado que via nele o melhor para o papel.
Glória Feita de Sangue (Paths of Glory, 1957)
Dirigido pelo excepcional Stanley Kubrick (2001, O Iluminado), Glória feita de sangue é um filme ambientado na Primeira Guerra e baseado em fatos reais.
A trama foca no coronel francês Dax (Kirk Douglas), o líder de um ataque suicida contra uma fortaleza alemã durante a guerra. Diante do fracasso da missão, o Comando militar opta por colocar três soldados como “bodes expiatórios” a serem punidos pela falha.
Acusados injustamente, Dax surge como advogado dos mesmos diante de um inevitável julgamento militar. A partir daí, maquinações, mentiras, manobras políticas e jurídicas, entre outros artifícios, são usados ininterruptamente para que os soldados sejam punidos. O coronel se vê diante de uma missão que tende a falhar tão cruelmente quanto o ataque suicida.
Na história somos apresentados a outro lado pouco mostrada da Primeira Guerra, aquela lado que destaca o sacrifício da tropa em detrimento ao relativo “conforto” das lideranças que, infelizmente, enxergam em seus subordinados apenas números e baixas plausíveis. Mais do que um filme de guerra, este é um filme sobre a índole humana e as covardias praticadas em prol de um “bem maior”.
Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia, 1962)
Dirigido por David Lean e vencedor de 7 Oscar (Filme, direitor, edição, direção de arte, fotografia, trilha sonora e som), a obra é um clássico absoluto do cinema e um épico inspirado no livro autobiográfico Os Sete Pilares da Sabedoria, de autoria do próprio T.E. Lawrence. A trama mostra os meandros de uma operação conjunta entre britânicos e arábes contra o império Otomano que buscava anexar a Península Arábica ao seu território.
Com uma jornada épica onde Lawrence parte de um simples militar estrategista para se tornar uma inspiração para a tropa, o filme tem cenas grandiosas, trilha sonora impecável e atuações que fazem valer cada um dos minutos à frente da tela. Aliás, o longa-metragem tem 3 horas e 36 minutos de duração.
Lawrence é o homem que ajuda a unificar tribos e povos contra os turcos. Mas é Peter O´Toole que dá vida a essa personagem marcante e única. Também mostraram atuações ímpares os atores Omar Sharif, Alec Guinness, Anthony Quinn, Jack Hawkins, entre outros.
O filme é ambientado em paisagens desérticas, contrariando aquilo que boa parte dos filmes sobre a Primeira Guerra faz: ambientar em trincheiras. A narrativa é uma verdadeira aula de geopolítica e de estratégia.
Gallipoli (Gallipoli, 1981)
Obra do cinema australiano, dirigida por Peter Weir e estrelada por Mel Gibson (o diretor de A Paixão de Cristo) e Mark Lee. A trama narra a história de dois jovens australianos, Archie Hamilton (Mark Lee) e Frank Dunne (Mel Gibson), que se alistam no Exército australiano durante a Primeira Guerra Mundial e são enviados para combater na campanha de Gallipoli, na Turquia.
Eles estreitam os laços de amizade durante o treinamento e isso os transforma em verdadeiros irmãos de armas. Mas em meio à guerra, eles precisam cumprir uma dificílima missão: atravessar o campo aberto, sob fogo inimigo, para entregar uma mensagem importante.
Em meio a essa árdua tarefa, eles presenciam os horrores e as mortes que são tão comuns em conflitos bélicos. Diante do inevitável horror, os dois passam a questionar a validade da guerra e, sobretudo, da capacidade de liderança e tomada de decisão de seus superiores.
Pleno de cenas impactantes e emocionantes que ganham vulto com a trilha sonora, Gallipoli é uma homenagem aos militares australianos que pereceram em combate, assim como também é um triste lembrete das perdas que as guerras trazem, sejam as perdas de vida, sejam as perdas emocionais e psicológicas naqueles que sobreviveram.
Feliz Natal (Joyeux Noël, 2005)
Baseado em fatos reais, o longa francês mostra um dos mais conhecidos e marcantes momentos da Grande Guerra, onde soldados escoceses, franceses e alemães decidem fazer um cessar-fogo na véspera do Natal. O longa tem direção de Christian Carion e conta com um elenco com nomes como Diane Kruger, Daniel Brühl, Benno Fürmann, Guillaume Canet e outros.
A produção se esmerou para ter o máximo de fidelidade nas interpretações. Desta forma, alguns atores falam em seus idiomas natais, incluindo inglês, francês e alemão. Recebeu a indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2006.
A história realmente aconteceu e serviu para mostrar ao mundo que na guerra há pessoas que não desejam estar lá, não apenas autômatos que matam impulsivamente. O filme destaca as aflições dos combatentes e o poder renovador do espírito natalino… uma verdadeira ode à fé e esperança.
Cavalo de Guerra (War Horse, 2011)
Um drama dirigido por Steven Spielberg, porém com doses de fantasia que transformam esse filme em uma obra diferente de todas as presentes nesta lista. Cavalo de Guerra teve seu roteiro escrito por Lee Hall e Richard Curtis, baseado no livro homônimo de Michael Morpurgo.
A trama mostra as aventuras e desventuras de Joey, um cavalo vendido ao exército britânico durante a Primeira Guerra Mundial. Joey atravessa perigos e os mais diversos palcos de guerra, enquanto Albert (Jeremy Irvine) e outro amigo também soldado britânico tentam encontrá-lo e trazê-lo de volta ao lar. A trajetória de Joey é um relato indireto das agruras e da tragédia que foi a Grande Guerra.
Com um elenco de peso cujos nomes incluem o já citado Irvine, Benedict Cumberbatch, Tom Hiddleston, Patrick Kennedy, Emily Watson, David Thewlis e Peter Mullan, Cavalo de Guerra é um lembrete sobre uma parte trágica dessa guerra que exterminou a vida de milhões de cavalos nos campos de batalha.
Tolkien (Tolkien, 2019)
Filme biográfico do autor literário J. R. R. Tolkien, famoso por obras como “O Senhor dos Anéis” e “Silmarillion”. A inclusão deste filme se deve ao fato da obra transitar entre fases da vida do escritor, inclusive o período em que atuou como oficial do Exército inglês na categoria de Oficial.
A retratação do período de guerra é muito bem feito, mas o fato é que o foco do filme é, realmente, a vida e obra de Tolkien.
Com efeitos visuais muito bons, uma narrativa que trabalha muito bem o uso do flashback e cenas de guerra que se mesclam com o imaginário presente nas obras de Tolkien, este filme é uma mescla entre biografia, fantasia, drama e temática de guerra.
Assim como Cavalo de Guerra, este filme está distante dos demais que estão na lista, porém é uma obra que agradará até mesmo ao público apreciador de obras voltadas exclusivamente a retratar a Primeira Guerra Mundial, principalmente por ter o autor se tornado o mais influente escritor do século XX no gênero fantástico.
O longa-metragem também serve para incentivar o espectador a buscar mais do inacreditável universo criado pelo genial J. R. R. Tolkien.
1917 (1917, 2019)
Aclamado filme dirigido por Sam Mendes, 1917 (acesse aqui para ler a crítica completa) é um dos mais impressionantes longas sobre a Primeira Guerra Mundial já produzidos. Foi indicado ao Oscar de Melhor Filme e venceu nas categorias Melhores Efeitos Visuais, Melhor Fotografia e Melhor Mixagem de Som.
A trama mistura ação, suspense e uma reconstituição histórica inacreditável, sobretudo quando há o uso de planos-sequência capazes de mergulhar o público na ação. O roteiro destaca as ações de dois soldados, Schofield (George MacKay) e Blake (Dean-Charles Chapman) que recebem a missão quase suicida de atravessar a famigerada Terra de Ninguém para entregar uma informação que tem o potencial de salvar mais de 1600 soldados britânicos.
O realismo, a trilha sonora, a caracterização, a fotografia perfeita e a representação das mortes e da violência dão a esse filme o ar de um documentário. É impossível sair incólume da experiência dessa obra-prima do cinema.