A comunicação é um dos maiores triunfos da humanidade. Somos seres que se aprimoram por meio da fala, da escrita e do uso do raciocínio nas mais diversas situações. Entretanto, em tempos de guerra isso é um dos elementos mais imprescindíveis de todos. As tropas militares estariam perdidas em todos os sentidos sem uma comunicação eficaz, mas é preciso compreender que os palcos de guerra são organizados por meio da comunicação e também são desorganizados ou destruídos por meio da interceptação dessas comunicações. Forças do Exército, da Marinha e da Aeronáutica não são eficazes sem uma forma de comunicação eficiente e confiável. Desta forma, para evitar a interceptação de mensagens e a perda de meses de planejamento, a moderna guerra tem se valido de criptografia. Um desses melhores exemplos de criptografia eficaz é a máquina alemã Enigma, responsável pela passagem de incontáveis mensagens entre alemães que, mesmo quando interceptadas, eram incompreensíveis para os Aliados.
A história militar tem alguns episódios que dariam verdadeiros roteiros para o cinema. Obviamente que os combates entres as Forças Armadas durante a Segunda Guerra Mundial já foram retratados das mais diversas formas. Porém uma parte dessa saga teve pouca exploração, seja no cinema, seja na literatura. Assim, hoje será exposta uma das mais interessantes partes do conflito que dividiu o mundo, além do destaque sobre como os Aliados chegaram até ela. Conheçam, a partir daqui, mais detalhes sobre a trajetória da máquina de criptografia nazista conhecida como Enigma, usada pelas Forças Armadas da Alemanha.
O que é criptografia?
Criptografar é uma técnica usada para impedir que informações sejam captadas em sua forma original, antes de chegarem ao destinatário. Para ser mais preciso, até mesmo o destinatário precisará de códigos e máquinas para decifrar aquilo que recebeu, garantindo assim a segurança do conteúdo da mensagem. Entre os alemães, uma máquina fez a diferença durante anos: a Enigma.
Com base em um avançado sistema eletromecânico, capaz de gerar incontáveis combinações, a Enigma era o trunfo alemão durante a Segunda Guerra, uma máquina considerada impenetrável tanto por seus criadores quanto pelos Aliados. A Enigma, aliás, sofreu evoluções ao longo dos anos que a tornaram cada vez mais complexa e inacessível aos países inimigos.
Mas, segundo o livro “Enigma, o segredo de Hitler”, escrito por Fred W. Winterbotham*, uma máquina encontrada pelos Aliados na Polônia deu início à operação que quebrou a criptografia mais importante da História das Guerras.
Com uma combinação que nunca se repetia, o criptógrafo Enigma foi um desafio dificílimo que levou anos a ser decifrado. E mesmo quando os resultados positivos para os Aliados chegaram, a gigantesca confiança dos alemães em sua máquina os impediu de desconfiar da mínima possibilidade de quebra do código que, em tese, lhes garantiria a vitória.
Mesmo nos tempos de criptografia computadorizada, uso de inteligência Artificial e outros recursos de nossa era, a Enigma foi provavelmente a mais importante ferramenta de criptografia da História e, seguramente, a mais importante da Segunda Guerra Mundial.
* publicado pela Bibliex, a Biblioteca do Exército Brasileiro.
Enigma.
A máquina que quase garantiu a vitória dos alemães (sim, isso é uma verdade incontestável) foi criada no ano de 1918 pela empresa alemão Scherbius & Ritter e usada com sucesso até que seus segredos fossem revelados por uma equipe de milhares de pessoas envolvidas. Segundo livro “Enigma, o segredo de Hitler”, uma destas máquinas foi o passo inicial para o começo da descoberta dos maiores segredos militares do III Reich, assim descrito: a Enigma foi reconstruída com base nas informações de um operário polonês, trabalhador em uma das fábricas alemãs que produziam o criptógrafo, esse foi um passo de vital importância para a vitória Aliada.
Aliás, cabe ressaltar que a contraespionagem também foi absurdamente eficiente, uma vez que os alemães e os outros países do Eixo não descobriram que suas mensagens estavam sendo decifradas. Ainda que eles tivessem plena ciência de que suas comunicações estavam sob vigilância e eram interceptadas, isso era irrelevante diante da confiança na máquina criptografadora.
Tipos de máquinas Enigma ao longo dos anos.
Existiram vários tipos de máquinas Enigma, alguns para uso civil e outros para uso militar. Destacam-se as seguintes:
Enigma A (1923) – uso civil. Enigma B (1930) – uso militar. Enigma C (1939) uso militar pela Marinha alemã. Enigma M3 (1939) – uso militar pelo Exército alemão. Enigma D (1940) – uso militar pela Força Aérea alemã. Enigma M4 (1944) usada principalmente pela Marinha alemã.
Essas várias versões não surgiram ao acaso. Mesmo com a divulgação massiva do sucesso da equipe de Alan Turing como o principal descobridor do código da máquina, o fato é que ao longo dos anos várias equipes de outros países obtiveram sucesso com a decriptografia, o que obrigou os alemães a evoluir a engenharia das Enigma até chegar à versão M4.
Recomendação de livros.
Além do já citado livro de Fred W. Winterbotham, três outras recomendações de leitura são essenciais para o aprofundamento na História e na engenharia por trás da Enigma. São eles:
- “Alan Turing – o enigma: a história por trás do filme que retrata a vida do gênio que decifrou os códigos nazistas” de Andrew Hodges (Editora Intrínseca)
- “A Guerra dos Códigos” de James Wyllie (Editora Contexto)
- “A Máquina Enigma” de Simon Singh (Editora Record)
Recomendação de filmes e séries.
Mesmo com a afirmação de que há pouco material sobre o tema, foram criados alguns filmes e séries interessantes que abordam – de forma aprofundada ou apenas superficialmente – a importância da Enigma. Estes são os que obtivemos:
- “The Secret War of Harry Frigg” (1968) – Filme de comédia dirigido por Jack Smight, estrelado por Paul Newman, que segue um prisioneiro de guerra americano que é enviado para ajudar a roubar uma Enigma.
- “Enigma (1982)” – Filme dirigido por Jeannot Szwarc, estrelado por Martin Sheen e Sam Neill, que segue um espião americano tentando roubar informações sobre a Enigma.
- “Fatherland” (1994) – Filme de TV dirigido por Christopher Menaul, estrelado por Rutger Hauer e Miranda Richardson, que imagina como seria a Alemanha se tivesse vencido a Segunda Guerra Mundial e a máquina Enigma estivesse ainda em uso.
- “U-571” (2000) dirigido por Jonathan Mostow, estrelado por Matthew McConaughey e Bill Paxton
- “Enigma” (2001) dirigido por Michael Apted, estrelado por Dougray Scott e Kate Winslet
- “The Windtalkers” (2002) dirigido por John Woo, estrelado por Nicolas Cage e Adam Beach
- “The Bletchley Circle” (2012-2014) – Série de TV britânica que segue um grupo de mulheres que trabalharam para decifrar mensagens da Enigma durante a Segunda Guerra Mundial.
- “O Jogo da Imitação” (2014) dirigido por Morten Tyldum, estrelado por Benedict Cumberbatch e Keira Knightley.
Esclarecimento finais.
Após as notas históricas, recomendações de livros e filmes sobre o tema, deixamos para vocês um vídeo do Museu da Universidade Federal do Rio Grande do Sul onde detalhamentos sobre a criação e montagem da Enigma, além do processo de criptografia em si, são explicados de forma concisa e capaz de auxiliar até mesmo leigos no tema a compreender melhor não apenas a intrincada engenharia por trás da máquina, mas também um pouco da História que culminou com a derrota do nazismo e a vitória dos Aliados. A máquina compôs a exposição Alan Turing: Legados para a Computação e para a Humanidade.