Nos últimos anos, a aproximação entre China e Argentina tem se intensificado em diversas áreas, como comércio, investimentos, energia e infraestrutura. Essa aproximação deve, em grande parte, à complementaridade econômica entre os dois países e ao interesse da China em estabelecer novos parceiros estratégicos na região da América Latina.
A Argentina tem sido um dos principais parceiros comerciais da China na América Latina, sendo o terceiro maior destino de suas exportações na região. Além disso, a China tem investido significativamente em setores estratégicos da economia argentina, como energia, mineração e infraestrutura, como a construção de usinas energéticas e de ferrovias.
E a relação entre os países se intensificou ainda mais com a adesão do país platino à iniciativa Belt and Road, que estabelece bases navais chinesas em diferentes partes do mundo, como parte de sua estratégia de ampliar sua presença militar e proteger seus interesses em áreas distantes.
O papel do Brasil
O Brasil, por sua vez, também tem uma relação importante com a China, sendo seu principal parceiro comercial na América Latina e um dos maiores fornecedores de commodities para o mercado chinês. No entanto, ao contrário da Argentina, a relação entre Brasil e China tem sido marcada por certa ambiguidade e tensão.
Por um lado, o Brasil tem buscado atrair investimentos chineses em diversos setores, como infraestrutura, energia e tecnologia. Por outro lado, há uma preocupação com o aumento da dependência do país em relação à China e com a possível concorrência de produtos chineses com a indústria nacional. Além disso, há questões geopolíticas que podem afetar a relação entre Brasil e China, como a crescente rivalidade entre China e Estados Unidos.
Assim, a relação entre China e Argentina pode ter grande importância para o Brasil, tanto em termos de oportunidades como de riscos, e é importante que o país acompanhe de perto essa dinâmica e busque uma posição estratégica em relação aos seus parceiros principais na região e no mundo.
A iniciativa Belt and Road
A iniciativa Belt and Road (BRI), também conhecida como “Nova Rota da Seda”, é um plano de desenvolvimento econômico e de infraestrutura lançado pela China em 2013. A iniciativa tem como objetivo conectar a China com a Ásia, Europa e África através da construção de uma rede de infraestrutura e comércio.
A iniciativa Belt and Road consiste em dois componentes principais: a Rota da Seda Econômica e a Rota da Seda Marítima. A Rota da Seda Econômica se concentra em conectar a China com a Europa, Ásia Central e Ásia Ocidental por meio da construção de ferrovias, rodovias, pontes, portos e oleodutos. A Rota da Seda Marítima se concentra em conectar a China com a África, Sudeste Asiático e Oriente Médio através do desenvolvimento de portos e rotas marítimas.
A iniciativa Belt and Road tem sido alvo de críticas e preocupações por parte de alguns países, que argumentam que a China pode estar buscando estender sua influência econômica e política em outras regiões do mundo, especialmente em países em desenvolvimento. Além disso, há preocupações com a sustentabilidade financeira dos projetos e com a possibilidade de uma dependência crescente desses países em relação à China.
No entanto, a iniciativa também tem sido vista como uma oportunidade para países em desenvolvimento que buscam investimentos em infraestrutura e comércio, e para empresas que desejam expandir seus negócios em novos mercados. O problema é aliar vantagens comerciais com a expansão chinesa e seu domínio autoritário sobre países dependentes.
Conclusão
É importante ressaltar que a instalação de uma base naval chinesa na Argentina ou em qualquer outro país da região seria um assunto delicado e que poderia gerar preocupações e estresse entre a China e outros países, especialmente os Estados Unidos.
A possibilidade de a Argentina se tornar a porta de entrada da China nas Américas é uma hipótese que tem sido recebida, mas é importante destacar que outros países da região, como o Brasil e o Chile, também têm demonstrado relações cada vez mais próximas com a China .
No entanto, é preciso considerar que a intensificação da relação entre China e Argentina tem gerado preocupações em alguns setores da sociedade argentina e também de países vizinhos, que temem uma possível perda de soberania econômica e política em relação à China. Além disso, as tensões comerciais e geopolíticas entre os Estados Unidos e a China também podem afetar a relação entre a China e seus parceiros na América Latina, incluindo a Argentina.
Fonte: Boletim Geocorrente, nº 179 / 29 de março de 2023