Artigo publicado neste domingo, 2/4, no Jornal O Globo faz uma breve e resumida biografia do atual comandante do Exército, general Tomás Paiva. A espinha dorsal do texto é apresentar o militar como o contraponto a tudo o que se viu e ouviu sobre generais supostamente golpistas que enxameavam o governo anterior. Segundo o articulista, Tomás Paiva foi escolhido por Lula para “despolitizar o Exército”. Governo novo, soldado novo. Hora de virar a página.
O general parece realmente ter encarnado com esmero o papel de “messias” da despolitização, pois admitiu: “— Meu objetivo é afastar a política do Exército. Somos profissionais e temos que focar no nosso trabalho” — disse o comandante do Exército ao GLOBO.
O artigo, que aparenta ares de peça publicitária, quase em tom panfletário, diz menos sobre o general do que sobre os objetivos do jornal.
O que o leitor é levado a pensar sobre o biografado está exposto em algumas linhas simples, para não dizer simplórias:
- Ele foi escolhido para despolitizar as tropas. Desde que assumiu não se tem notícias de novas crises;
- Ele tinha boas relações com Jair Bolsonaro, mas se negou, mediante um desculpa esfarrapada, a participar de uma “motosseata” para a qual foi convidado pelo ex-presidente;
- Ele participou da formulação do famigerado tuíte do general Villas Bôas em tom de ameaça ao STF em 2018, mas, segundo pessoas que acompanharam o episódio, agiu para atenuar o tom da publicação, na tentativa de evitar uma crise;
- Ele se relacionou com diversos políticos, mas “sempre entendeu que o Exército deve pautar a sua conduta como instituição de Estado, apolítica e apartidária”.
Não o general nem o presidente, mas a imprensa parece pretender, com o sacrifício da inteligência dos leitores, vender um personagem inverossímil, quase mítico. É fora de dúvida que o general, dadas suas qualificações profissionais, está mais do que talhado para comandar a Força terrestre. Ninguém chega ao mais alto posto de qualquer carreira, se não for por comprovada excelência.
Porém, não houve crise alguma na tropa nos últimos quatro anos. O protagonismo indevido dos militares nasceu lá em cima, lá onde o general estava e está, na cúspide das Forças Armadas brasileiras, onde levitam generais, almirantes e brigadeiros. Lá, não há sargentos nem soldados “em crise” politizados e temerosos de que um “novo” comandante, pela mera assunção do Comando, tenha a miraculosa potestade de debelar seus paroxismos politiqueiros. O exemplo vem de cima, e, nos últimos anos, a tropa comportou-se de maneira além do irreprochável, se levarmos em conta os maus exemplos que teve…
As outras “argumentações” em prol da “nova era” de militares “legalistas” (outra fábula contada nas redações de jornal e plantada pelos… generais) patinam no mecanismo morde-assopra do “ele isso, mas aquilo”.
Conhecido por Bolsonaro, mas fingiu que não pilotava moto – por quantos anos alguém consegue esconder isso de colegas de trabalho? Digitou o tuíte (golpista) do Villas Bôas, mas, “segundo pessoas que acompanharam o episódio”, pôs panos quentes para “evitar uma crise”. Ora, que “pessoas”, além de meia dúzia de generais, estavam digitando esse tuíte e não teriam nenhum interesse oculto em dar uma declaração dessas?
Pode ser uma impressão, mas até o título do artigo de um dos mais importantes veículos de comunicação do país denuncia uma peça político-partidária diluída, como se algumas gotas de sonífero fossem pingadas no café com leite do leitor. O que é um “general que promete”, senão um general político!?