Depois de 80 anos já passados, poucos sabem a história da maior tragédia que se abateu sobre navios brasileiros atacados dentro e fora de sua costa marítima por submarinos italianos e alemães.
Menos pessoas ainda sabem que morreram mais marinheiros e civis na costa brasileira do que ”pracinhas” brasileiros na Itália.
Em um dos raids de ataques sequenciais por três dias morreram mais de 600 pessoas.
Foram seiscentos corpos espalhados em um mar de sangue.
Isso foi entre 15 e 17 de agosto de 1942. Só nesse ataque já tinha superado a FEB em número de mortos durante sua atuação na Itália, muito antes ainda dessa Força Expedicionária embarcar para a Itália.
Mas os ataques já tinham começado no ano anterior, 1941 e se estenderam até mesmo 1944.
Um clima de revolta e exigência de vingança tomou conta da nação brasileira. Ainda mais porque praticamente todos esses navios, com exceção de um, nao eram navios de guerra.
Apesar de o ataque ser considerado o “estopim” para a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, pouco se conhece sobre as dimensões da tragédia.
Os torpedos foram enviados do submarino alemão (U-Boat) U-507, comandado pelo capitão alemão Harro Schacht, ao contrário do que reza uma crença popular, ainda muito forte no Brasil, de que os disparos teriam partido da Marinha dos EUA.
A informação de que o ataque teria sido de autoria dos norte-americanos partiu da “Quinta Coluna”, como eram chamados, de modo geral, os grupos que defendiam as posições do Eixo (liderado pelo governo nazista da Alemanha, além da Itália e do Japão) dentro dos países dos Aliados (EUA, União Soviética e Império Britânico), ou que simpatizavam com o este bloco, como era o caso no Brasil.
“Uma prova incontestável de que os alemães foram os responsáveis é o diário de bordo do submarino U-507, que foi uma das minhas fontes de pesquisa“, relata o jornalista Marcelo Monteiro em seu livro U-507: o submarino que afundou o Brasil na Segunda Guerra, em entrevista publicada no site https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania.
Por mais que o então presidente da República, Getúlio Vargas, não escondesse sua simpatia pelo regime fascista de Mussolini (Itália), ele cedeu às pressões norte-americanas.
Dias depois, em 31 de agosto de 1942, o governo brasileiro baixou o Decreto 10.358 que declarou estado de guerra em todo o território nacional contra Alemanha, Itália e o Japão.
Assim como os japoneses (aliados dos alemães no Eixo) atacaram a base americana em 1941, provocando a entrada dos EUA no conflito histórico, a reação do Brasil, que até então estava ”em cima do muro”, aos ataques de seus navios foi a entrada na guerra ao lado dos norte-americanos.
Em 15 de junho de 1942, há quase 80 anos, o almirante Erich Raeder, comandante-em-chefe da Kriegsmarine, saiu esperançoso de uma conferência com Adolf Hitler no Castelo de Berghof. Seu plano de ataque ao Brasil finalmente ganhara o sinal verde do líder nazista. Uma dezena de U-boats logo deixaria os portos franceses do Atlântico com destino à costa brasileira, onde desfechariam um poderoso ataque contra os portos e a navegação do oficialmente neutro país sul-americano.
No dia seguinte à conferência com Hitler, o Comando Operacional da Marinha alemã (Skl) enviou um ofício ao Comando de Submarinos (B.d.U.) informando que “O Führer decidiu fazer um contra-ataque surpresa com 10 submarinos em frente aos portos principais do Brasil, no período previsto entre os dias 3-8 de agosto” (foto).
O ataque preparado idealizado pelo Comando da Marinha alemã apanharia o Brasil de surpresa, aproveitando-se do espaço privilegiado de escuridão oferecido pela Lua Nova no início de agosto: um “Pearl Harbor brasileiro” — conforme a promotoria do Tribunal de Nuremberg iria se referir aos planos em 1946.
Foram mais de 600 mortos nos três fatídicos dias de agosto de 1942, outros mais de 500 também morreram em dezenas de outros navios brasileiros torpedeados.
O U-507 foi destruído por um avião Catalina da frota dos Estados Unidos, baseado na base americana de Natal, RN, no dia 13 de janeiro de 1943, quando chegava ao Atlântico Sul, a noroeste de Natal, após ter torpedeado um cargueiro inglês, o Yorkwood. Não houve sobreviventes entre seus 34 tripulantes.
Esse submarino, sozinho, em seus 15 meses de operação, afundou e danificou 20 navios mercantes, totalizando 83.704 toneladas de arqueação afundadas.
35 navios brasileiros foram torpedeados, entre 1942 e 1944, por submarinos do Eixo (Alemanha e Itália), na área do Oceano Atlântico que vai desde a Filadélfia, nos Estados Unidos, até Santos, no Brasil, além do extremo sul da África (Boa Esperança).
Até um pequeno barco que estava socorrendo vítimas de navio torpedeado, foi propositalmente torpedeado, matando todos que estavam nele.
O balanço total foi de 1.074 mortos e 1.686 sobreviventes.
Dos navios torpedeados, somente o Cabedelo não teve sobreviventes.
O Brasil perdeu, ainda, três outros navios na Segunda Guerra Mundial, que pertenciam à Marinha de Guerra.
Cada navio torpedeado contém histórias épicas de terror, tragédia, morte e sobrevivência, nunca antes presenciados em nossa história.
A Alemanha e a Itália mataram mais brasileiros fora da guerra do que soldados brasileiros na Itália.
Em 1944, o Brasil seria a única nação latino-americana a mandar soldados para lutar nos campos de batalha da Europa.