“Sou filho de Stalin”
Os próprios colegas militares de Yakov Dzhugashvili entregaram sua identidade para os alemães. No entanto, os nazistas não tinham a menor intenção de executá-lo ou torturá-lo. Os planos alemães para o filho de Stalin eram outros.
Peça de propaganda
Os alemães perceberam rapidamente quão valioso era o presente que havia caído em suas mãos. Os nazistas, contudo, não pretendiam encenar uma execução pública do filho de seu maior arquiinimigo, o que seria lógico. Pelo contrário, era do interesse nacional que Dzhugashvili simpatizasse com a causa alemã para poder ser devidamente explorado em campanhas de propaganda. Os alemães, portanto, queriam jogar “Stalin Junior” contra seu próprio pai.
Yakov foi tratado com civilidade e cortesia pelos seus captores. Em seus interrogatórios, os alemães não perguntavam apenas sobre questões militares, mas também sobre suas opiniões políticas. Discutiram sobre os métodos de Stalin de administrar o estado, apontando para o filho os erros do pai. Os captores também enfatizavam as deficiências da ideologia do bolchevismo e porque abandoná-las seria vantajoso para Dzhugashvili.
Yakov Dzhugashvili, entretanto, recusou-se a cooperar com os alemães e manteve-se leal a União Soviética e ao pai.
Ao mesmo tempo, a máquina de propaganda do Terceiro Reich garantiu que a notícia da captura do filho do todo-poderoso Stalin se tornasse de conhecimento comum na URSS. Apesar do fato de que Dzhugashvili ter enfatizado em seus interrogatórios que havia sido feito prisioneiro contra sua vontade, os alemães declararam que sua rendição foi totalmente voluntária e que Dzhugashvili não estaria ali de modo forçado, mas em cumprimento de procedimentos normais durante período de guerra.
Um soldado por um marechal de campo
Algumas discretas missões de resgate foram organizadas para retirar Dzhugashvili das mãos dos alemães. No entanto, todas as tentativas de libertar o filho de Stalin acabaram em nada.
Após a batalha de Stalingrado, os alemães solicitaram a mediação da Cruz Vermelha. O objetivo era oferecer a Stalin uma troca de seu filho pelo marechal de campo Friedrich Paulus, além de outras várias dezenas de oficiais de alto escalão do 6º Exército. Após a batalha, esses oficiais estavam presos do lado soviético e trazê-los de volta pra casa era uma promessa que o próprio Fuhrer havia feito ao povo alemão.
A visão oficial na União Soviética diz que o líder soviético respondeu friamente à proposta alemã: “Não vou trocar um soldado por um marechal de campo.” A filha do líder supremo, Svetlana Alliluyeva, considerava essa versão como correta. Alliluyeva lembrava que, meses depois dessa negociação, no inverno de 1943-44, seu pai, indignado, declarou sobre a fracassada negociação com os alemães: “Os alemães propuseram a troca de Yasha por alguns de seu povo… barganhar com eles? Não, guerra é guerra.”
“Preferiria a morte a trair a pátria”
O marechal Zhukov escreveu em suas Memórias e Pensamentos que chegou a perguntar a Stalin sobre seu filho mais velho. “Yakov não vai sair do cativeiro. Os fascistas vão atirar nele…”, disse Stalin, pensativo. Depois de uma pausa, o líder soviético teria dito: “Não, Yakov preferiria a morte a trair a Pátria.”
A verdade é que, incapazes de explorá-lo para fins de propaganda ou usá-lo para fazer uma troca de prisioneiros, os alemães perderam todo o interesse no filho de Stalin, que acabou se tornando apenas um fardo.
No dia 14 de abril de 1943, quase dois anos após sua captura, Yakov se jogou no arame farpado eletrificado no campo de concentração de Sachsenhausen. Um guarda que presenciou a cena imediatamente atirou contra o filho de Stalin, matando-o imediatamente.
Se ele queria fugir ou pretendia, de fato, ceifar sua própria vida, nunca foi esclarecido. Especula-se, ainda, que sua morte teria sido armada pelos próprios alemães. O fato é que, as circunstâncias em que Yakov Dzhugashvili foi morto permanecem um mistério até hoje.