A derrubada dos mísseis hipersônicos, que alcançam velocidade Mach 10, ou 12.250 quilômetros por hora (um avião comercial voa a 900), não apenas desmoraliza a “mãe de todos os mísseis” como põe em xeque a capacidade de ataque nuclear impossível de ser interceptado que dava uma enorme vantagem estratégica à Rússia. Mais ainda, o fiasco do Khinzhal levanta dúvidas sobre todo esse maior arsenal russo herdado ainda do período soviético.
Alexander N. Shiplyuk, um dos principais cientistas que comanda projetos desses mísseis e outros na Academia Científica Russa já tinha sido preso em agosto de 2022, acusado de alta traição, durante o primeiro semestre da guerra na Ucrânia e tendo todo seu setor de trabalho vasculhado pelo serviço russo de segurança.
“Agora, quando todo mundo está falando sobre soberania tecnológica e o futuro depende de tecnologia intensiva em ciência, a questão é que a Rússia como um estado está perdendo aqueles que podem fazer isso”, disse o vice-presidente da RAS, Valentin Parmon, à Interfax, em uma reunião. que também preside a filial da RAS na Sibéria.
Os cientistas também chamaram a atenção para como a atmosfera predominante está afetando os jovens cientistas.
“Mesmo agora, os melhores alunos se recusam a vir trabalhar para nós, e nossos melhores funcionários jovens abandonam a ciência. Vários campos científicos estão simplesmente sendo fechados porque os funcionários têm medo de se envolver em tal pesquisa”, escreveram os cientistas.
O reitor da Universidade Estadual de Moscou, Viktor Sadovnichy, disse em abril que o número de cientistas na Rússia com menos de 30 anos diminuiu 25% nos últimos 10 anos.
“De acordo com o Form 2-Science da Rosstat, o número total de jovens pesquisadores com menos de 30 anos na Rússia está diminuindo. Em 2010, havia 71.000 deles, incluindo 4.350 com diplomas acadêmicos, enquanto em 2021, havia 53.000, incluindo 1.750 com diplomas acadêmicos”, disse Sadovnichy em uma reunião ampliada da União Russa de Reitores.
Em todas as faixas etárias, o número total de cientistas na Rússia caiu para uma baixa histórica de 340.100 pessoas em 2021, de acordo com cálculos do Instituto de Estudos Estatísticos e Economia do Conhecimento da Escola Superior de Economia de Moscou.
O número de trabalhadores científicos no país tem diminuído constantemente desde 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia da Ucrânia. De 2014 a 2021, o número de cientistas diminuiu 10,5%, ou 76.000 pessoas.
Na época da dissolução da União Soviética, a Rússia tinha 992.000 pesquisadores, o maior número de trabalhadores científicos do mundo, de acordo com publicação nesta quinta, 18 de maio do The Moscow Times.