Um recente artigo publicado na revista Diálogo Américas, periódico administrado pelo Comando Sul das forças armadas norte-americanas e criado por ordem do Departamento de Estado dos Estados Unidos da América, versa sobre a busca de informações por militares brasileiros para aperfeiçoar a necessária interação entre homens e mulheres dentro do corpo de fuzileiros navais da Marinha do Brasil.
Embora de forma bem política se diga no texto que é uma troca de informações, o que se sabe é que o motivo da visita foi coletar informações para aprender como deve-se dar o treinamento de recrutas do sexo feminino em uma tropa até hoje exclusivamente masculina. Os norte americanos fazem isso há muito mais tempo que os brasileiros e o aprendizado certamente encurta caminhos e evita erros.
Texto publicado na Diálogo
O Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA recebeu uma delegação de fuzileiros navais brasileiros no Centro de Recrutamento das Forças do Corpo de Fuzileiros Navais (MCRD), em Parris Island, Carolina do Sul, para discutir e observar como o Corpo de Fuzileiros Navais está integrando recrutas do sexo masculino e feminino em sua trajetória para se tornarem fuzileiros navais.
A visita, de 5 a 9 de junho de 2023, foi projetada para compartilhar informações e melhores práticas na área de treinamento de recrutas do sexo feminino e ajudar a incorporar as lições aprendidas com o Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, para que os próximos esforços de integração no Brasil sejam o mais bem-sucedidos possível.
A liderança do Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil está lançando uma iniciativa para integrar mulheres na instituição até 2024. A partir do próximo ano, sua organização começará a admitir mulheres graduadas em seu programa de treinamento de nível inicial. A Academia Naval Brasileira também formará as duas primeiras oficiais fuzileiras navais no próximo ano.
“Essa iniciativa histórica de nossos parceiros brasileiros de integrar as mulheres em seu Corpo de Fuzileiros Navais ampliará o acesso a um conjunto de talentos que antes não estava disponível”, disse o Capitão-Tenente Benjamin Fischer, oficial do escritório no Brasil das Forças do Corpo de Fuzileiros Navais, Sul, dos EUA (MARFORSOUTH). “A força militar totalmente voluntária dos EUA tem se beneficiado muito do serviço das mulheres em nossas Forças Armadas nos últimos 75 anos.”
As mulheres militares não são novidade no Brasil e têm servido em suas Forças Armadas desde a década de 1980. O Brasil foi o primeiro Exército da América do Sul a aceitar mulheres. Em 2012, as Forças Armadas brasileiras fizeram história quando a Contra-Almirante Dalva Maria Carvalho Mendes, da Marinha do Brasil, tornou-se a primeira mulher a alcançar o posto de oficial comandante da esquadra em todas as Forças Armadas.
“Os Estados Unidos enfrentaram desafios semelhantes nos últimos anos, ao autorizar que as mulheres se incorporem às especialidades de armas de combate no Corpo de Fuzileiros Navais, em 2016, e a recente transição do Centro de Recrutamento das Forças do Corpo de Fuzileiros Navais em San Diego de ser uma base de treinamento exclusivamente masculina a tornar-se uma base integrada em 2021”, disse o Major Matthew Philpott, do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, oficial de treinamento do MCRD Parris Island. “Temos várias lições aprendidas e muita experiência com o treinamento de mulheres aqui em Parris Island, para compartilhar com nossos parceiros e amigos brasileiros, para ajudar a tornar o processo o mais tranquilo possível.”
Embora a incorporação do treinamento de mulheres no MCRD San Diego tenha começado em 2021, o Corpo de Fuzileiros Navais vem treinando mulheres no MCRD Parris Island desde 1943 e tem um extenso histórico de transformação de mulheres em fuzileiros navais.
A delegação estava composta por cinco graduados e oficiais do Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil, incluindo a Terceiro-Sargento Evellyn Sanchez Choque, do Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil, que atualmente é uma das únicas mulheres no Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil e está em missão especializada na Banda do Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil. Por ser uma das únicas mulheres na organização no momento, ela está fortemente envolvida no estabelecimento e no sucesso desses esforços de integração.
“É realmente uma honra estar aqui e estar envolvida nesse processo para garantir o sucesso de nossos esforços de integração, mantendo nossos padrões e cultura”, disse a 3º SG Choque. “Ver o nível de profissionalismo e integração dos fuzileiros navais dos EUA é motivador e nos dá uma ótima visão do que é o sucesso.”
Durante a visita, a delegação dedicou um tempo significativo para observar as instalações e todas as facetas de como as mulheres treinam e operam no MCRD Parris Island. Elas dedicaram um tempo aprendendo com os líderes e a equipe, observando o treinamento de tiro, as sessões de condicionamento físico, a instrução em sala de aula e as atividades gerais de rotina diária.
“A oportunidade de ver em primeira mão como os fuzileiros navais integram as mulheres no ciclo de treinamento foi extremamente benéfica para observarmos e levarmos para nossas próprias operações”, disse o Capitão de Fragata Vanderli Nogueira Cordeiro Junior, do Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil, futuro comandante do Centro de Instrução Almirante Milcíades Portela Alves (treinamento de recrutas brasileiros). “Igualmente importante foi a oportunidade de conversar com a equipe e os instrutores de treinamento, tanto homens quanto mulheres, para entender os desafios e as oportunidades e implementar as lições aprendidas com nossos parceiros.”
A viagem a Parris Island é possível graças a uma parceria estreita e de longa data entre os dois corpos de fuzileiros navais. Em um dado momento, há fuzileiros navais brasileiros incorporados a unidades do Corpo de Fuzileiros Navais nos Estados Unidos e vice-versa, como parte de um programa de intercâmbio abrangente entre os dois países. Os fuzileiros navais brasileiros frequentam escolas de serviço, como a Escola de Guerra Expedicionária, a Escola de Comando e Estado-Maior e, nos últimos anos, a conceituada Escola Superior de Guerra. Os fuzileiros navais dos EUA também participam desse intercâmbio, frequentando as escolas de serviço brasileiras, para compartilhar informações, aprender uns com os outros e promover o avanço da força.
“Trabalhamos juntos com frequência e construímos confiança e uma parceria duradoura”, declarou o Capitão de Mar e Guerra Joseph A. Katz, oficial de operações do MARFORSOUTH. “Isso demonstra que podemos apoiar-nos uns aos outros para ajudar a aumentar a conscientização, compartilhar informações e apoiar-nos mutuamente à medida que enfrentamos, e continuaremos a enfrentar, desafios organizacionais semelhantes.”
Desde a flexibilização das restrições de viagem após a pandemia da COVID-19, os dois corpos de fuzileiros navais participaram juntos de vários exercícios, intercâmbios de especialistas na matéria e compromissos importantes com líderes. O Brasil tem sido anfitrião de exercícios e eventos multinacionais e tem sido um ator importante na segurança da região e do Oceano Atlântico Sul.
“Nossas forças não apenas compartilham uma mentalidade tática baseada em uma ética de combate”, disse o CT Fischer. “Elas compartilham um conjunto de valores semelhantes baseados na democracia, nos direitos humanos e no serviço aos nossos países.”