BREVE CONTEXTO
Há dois anos, a grande mídia noticiou que a ESA (Escola de Sargentos das Armas) sairia da cidade de Três Corações – MG, e seria transferida para Pernambuco. Hoje a notícia é mais do que boato e já está a meio caminho de se tornar realidade. Após a transferência, as atuais instalações oferecerão cursos de aperfeiçoamento para os militares e curso de adjunto de comando que atualmente são realizados em unidades no Rio de Janeiro e em Cruz Alta (RS).
Pelo projeto original, a nova Escola (que será chamada Escola de Sargentos do Exército – ESE) seria instalada entre os municípios de Abreu e Lima, Araçoiaba e Camaragibe, na Região Metropolitana do Recife. Quando estiver concluída, as novas instalações centralizarão a formação de sargentos de carreira de todos os estados do País.
De acordo com dados do Banco de Projetos para Emendas Parlamentares da Força terrestre, disponibilizado na Câmara dos Deputados, o valor estimado para implantação e construção da Escola de Sargentos é de mais de 3 bilhões de reais.
O BRAÇO FORTE E SEU LEGADO
Publicação no site do Exército diz que no período de 12 a 16 de junho, uma equipe técnica da Diretoria de Patrimônio Imobiliário e Meio Ambiente (DPIMA) juntamente com engenheiros e arquitetos da Diretoria de Projetos de Engenharia (DPE) estiveram na guarnição de Recife para coletar informações técnicas e identificar ações ambientais positivas para a confecção do anteprojeto da nova Escola de Sargentos.
A equipe da DPE conduziu a verificação do terreno onde serão construídos os diversos empreendimentos da nova escola, no Campo de Instrução Marechal Newton Cavalcante. Por sua vez, a equipe da DPIMA reuniu-se com a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade, com a Companhia Pernambucana de Meio Ambiente, com a superintendência do IBAMA em Pernambuco, com o Instituto Federal de Pernambuco e com o reitor e professores da Universidade Federal de Pernambuco.
O objetivo da reunião foi apresentar aos profissionais locais sugestões de ações ambientais positivas em decorrência da construção da nova ESE, verificar a sua viabilidade e receber sugestões de outras ações, tudo com o intuito de deixar um legado ambiental para a região metropolitana do Recife.
“INSANOS, AUTORITÁRIOS E NEGACIONISTAS”
O excerto abaixo, publicado pelo site da Universidade Católica de Pernambuco, é de autoria do professor aposentado Heitor Scalambrini Costa*.
Segundo o professor, o transplante da nova ESA para a mata atlântica nordestina é mais complexo do que o Exército quer fazer parecer e pode trazer consequências sérias para o meio ambiente da região.
Para Heitor, “a manipulação das informações é tanta que a proposta de construção da Escola de Sargentos em Pernambuco, entre os municípios de Abreu e Lima, Araçoiaba e Camaragibe, é vista pelos exterminadores do futuro como algo de positivo para o Estado.”
“O próprio ex-comandante da 7ª Região Militar na audiência pública realizada em fevereiro de 2022, onde se discutiu este megaempreendimento, chegou a afirmar ‘o empreendimento será desenvolvido com uso racional do espaço e oferecerá mínimo impacto ambiental. A atuação do Exército favorece a preservação da natureza, pois, além de fazer o manejo adequado dos territórios que ocupa, a instituição fiscaliza, inibe a invasão e impede o desmatamento'”.
“Para algum desavisado, o discurso do general estaria corretíssimo, e seríamos os primeiros a “bater palmas”. Todavia, a localização desta construção é uma grande ameaça a uma das áreas mais ricas em biodiversidade do planeta, a Mata Atlântica; cujos resquícios em Pernambuco, apontam para irrisórios 6% da floresta original.”
“É o ecossistema onde 70% da população brasileira vive em território antes coberto por ele. Hoje, restando apenas 12,4% da floresta que existia originalmente no país, e cuja fauna tem grande variedade de espécies de aves, mamíferos, répteis, anfíbios e insetos, sendo que boa parte endêmica.”
“O disparate e a insanidade são de tal magnitude que, caso o desmatamento seja realizado, colocará em risco os recursos hídricos do sistema Botafogo, principal fonte de fornecimento de água que atende os municípios localizados na Zona Norte da Região Metropolitana do Recife (Olinda, Igarassu, Paulista e Abreu e Lima), com uma população estimada em mais de 700.000 pessoas.”
“Os argumentos injustificáveis para tal empreendimento negam a ciência, além de autoritários e sem nenhuma fundamentação técnico-científica que justifique este monstruoso desmatamento de uma floresta estabelecida. Aceitar a promessa de replantio da floresta desmatada, em outro local, carece de no mínimo algum sinal de inteligência.”
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*Heitor é físico pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), mestre em Ciências e Tecnologia Nuclear pelo Departamento de Energia Nuclear da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), doutor pela Universidade de Aix-Marselha, Laboratório de Fotoeletricidade/Comissariado de Energia Atômica da França e professor aposentado da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco).
J.B Reis – Revista Sociedade Militar