Alguns oficiais generais no Brasil, grande parte daqueles que ocupam o último posto, aparentemente ainda acreditam que são uma espécie de príncipes fardados, que devem ser servidos e adulados e que seus atos mais comuns são revestidos do sagrado ou realeza, a ponto de serem eternizados.
Será que nem mesmo com a baixa na popularidade causada pela trapalhada política em que se deixaram enfiar não acordarão para o pragmatismo, para a simples e dura realidade de que são apenas funcionários públicos fardados, que cumprem a sua função porque são obrigados a fazê-lo e que nenhuma viagem ou missão a serviço é favor e muito menos algo digno de ser homenageado com placas e presentes adquiridos com recursos públicos?
Não poderia mais uma vez deixar de destacar a placa de bronze inaugurada no último 18 de julho por conta de uma reunião burocrática regada a guloseimas e água em copos de cristal para atualizar generais sobre o dia a dia do próprio Exército Brasileiro.
É de fato admirável a capacidade de honrar seus próprios atos com tanta paixão, de transformar uma coisa simples em feito histórico e, porque não supor, com uma dose de autoengano.
Imagine se uma reunião de diretores da Petrobrás fosse eternizada com uma placa de bronze, ou algo similar no Ministério da Saúde. Por que motivo um general deveria ser mais honrado do que outro servidor do estado?
Abaixo, notícia já publicada aqui na Revista Sociedade Militar e no site MONTEDO.COM
“O Exército Brasileiro realizou com os oficiais generais do Alto Comando um encontro no dia 18 de julho denominado atualização doutrinária. O evento, segundo explicado pela própria força terrestre, consistiu de uma série de palestras e debates sob as inovações no Exército Brasileiro e assuntos relacionados a doutrina militar.
Como são os oficiais que comandam a força no Brasil, a atividade poderia ser considerada como algo intrínseco ao seu trabalho de rotina, pois é mais do que evidente que aqueles que chefiam devem estar atualizados sobre o que de fato acontece na organização onde labutam e sobre o que estão fazendo os seus comandados.
Entretanto, supõe-se, na falta de atividades mais espetaculares, significativas e expressivas dos generais no último posto, como uma vitória em alguma batalha ou uma decisão estratégica de altíssimo nível, digna daqueles que mantém pesadas quatro estrelas nos ombros, o Exército Brasileiro Inaugura uma placa em comemoração a algumas horas de palestras para que generais fiquem esclarecidos sobre o que acontece na força que cumpre as suas ordens.
A denominada jornada dos generais, eternizada por uma placa de bronze, foi o fato de passarem grande parte do dia 18 de julho sentados em um ambiente climatizado, servidos de água mineral, guloseimas e taças de cristal, na frente de computadores e de um datashow, ouvindo palestras e sendo atualizados sobre aquilo de novo que tem acontecido no Exército, que eles mesmos comandam. “
“É inegável que, após o 8 de janeiro e sob a chefia do general Tomás, o Exército tem direcionado suas ações no sentido de desprender-se do fantasma do bolsonarismo e da bagunça institucional herdada de comandantes cuja tibieza moral não deixou saudades, apenas estragos.
Entretanto, certos costumes permanecem imutáveis. O de promover eventos supérfluos e celebrá-los como “uma grande África” – como dizia minha vó – é um deles.
No dia 18 de julho, a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) recebeu seus 16 generais de quatro estrelas para uma “Jornada de Atualização Doutrinária” sobre as últimas inovações na Força Terrestre. A atividade, que poderia ser realizada durante uma das várias reuniões do Alto Comando em Brasília, foi cercada de pompa, circunstância e -pasmem! – eternizada em bronze.
Observe a imagem abaixo:
Nela, é possível identificar os eventos anteriores que mereceram a honraria: as placas comemoram os 70 e 75 anos de criação da ECEME, uma reunião do Alto Comando chefiada pelo último Ministro do Exército, general Zenildo de Lucena e um Congresso Internacional de História Militar, acontecimentos cuja relevância é muito maior do que este, que reuniu um grupo de estrelados “na frente de computadores e de um datashow, ouvindo palestras e sendo atualizados sobre aquilo de novo que tem acontecido no Exército, que eles mesmos comandam”, nas palavras de Robson Augusto, editor da Revista Sociedade Militar.
Por vezes, me surpreendo concordando com quem afirma: “precisamos de uma guerra.”
Site MONTEDO // Imagens: DECEX”
Robson Augusto