As aplicações da Inteligência Artificial já modificaram as vidas de milhões de pessoas no mundo. Do mesmo modo, a IA está cada vez mais presente em ambientes de guerra. Militares e paramilitares se valem desta ferramenta que, uma vez unida à mecânica/mecatrônica, é um marco nas guerras. Não se surpreendam, mas a IA está em uso até mesmo na espionagem e outras áreas importantíssimas para as Forças Armadas dos mais variados países.
Entretanto, é imprescindível esclarecer que estamos ainda muito distante daquelas IA que assustaram incontáveis pessoas de culturas e costumes diferentes ao redor do globo. Neste caso, alerto ao leitor para que se desvincule dos estereótipos criados por filmes como O Exterminador do Futuro, Eu, Robô, O Homem Bicentenário, Blade Runner, Ex-machina, 2001 e tantos outros.
O efeito Matrix.
É indiscutível que obras do porte de O Exterminador do Futuro, 2001 – uma odisseia no espaço e Matrix trouxeram muito medo da inserção de IA em máquinas, sobretudo nas máquinas de guerra. Mas ninguém pode discordar da absoluta influência de Matrix ao medo moderno sobre este mesmo uso. Ter máquinas capazes de escolher quem vive ou morre é mais preocupante do que um simples soldado portando uma arma de alto poder destrutivo.
O ser humano tem uma diversidade de sentimentos que influenciam suas decisões. Não conseguimos tomar atitudes desvinculadas de nossas crenças. Temos um freio moral que pode ser o responsável por evitar um número ainda maior de mortos em conflitos passados e atuais.
Mas o que dizer de uma IA que poderá controlar armamentos que vão desde simples fuzis ou metralhadoras acoplados a um drone até algo ainda mais poderoso como um bombardeiro ou um lançador de mísseis? Quem garantirá que essas inteligências não assumirão o papel de um executor frio e calculista, inclusive no que diz respeito aos civis que – via de regra – estão sempre próximos às zonas de conflito?
Brecha.
O questionamento do tópico acima é provavelmente a maior polêmica do uso de IA em áreas de combate. Entretanto, ainda não atingimos o ponto de haver uma arma de guerra 100% comandada pela Inteligência Artificial. Isso, contudo, não é garantia de que esse controle jamais ocorrerá. Até lá, resta aos idealizadores e experts em IA estudarem todas as aplicações desse recurso e como criar ferramentas que impeçam (tal como fez Isaac Asimov com as três leis da robótica) esse avanço tecnológico de forma descontrolada. Sem um “botão de emergência”, o potencial destrutivo de máquinas dotadas de inteligência própria é tão grande quanto seu potencial benéfico.
Caso haja uma brecha que permita a evolução da IA por si própria, certamente não perderemos o temor de ver as criações se voltando contra os criadores.
Frankenstein.
Matrix, o filme, faz esses alertas sobre o avanço da IA: o que fazer quando a inteligência das máquinas ultrapassar nossa própria inteligência? Como evitar que o Homo Sapiens seja considerado obsoleto pelas máquinas dotadas de inteligência?
O imaginário presente na literatura já nos deixou esse aviso com o clássico Frankenstein. Apesar de não abordar – obviamente – o tema da Inteligência Artificial, há uma verdadeira preocupação embutida na trama acerca da pompa e da arrogância do ser humano ao criar coisas.
O que fazer caso a criatura descubra que não depende mais do criador?
A caixa de Pandora.
Provavelmente a maioria da população do mundo é favorável à tecnologia. Ninguém quer voltar ao acesso lento da internet dos anos 90 ou regredir à medicina dos anos 70. Quem gostaria de regredir para o tempo em que demorava muito para que as notícias chegassem? Definitivamente, a tecnologia trouxe avanços em todas as áreas e seu potencial benéfico é inquestionável.
O único problema sobre o texto acima está em haver uma outra face da moeda.
A IA evolui em passos largos. A cada dia somos bombardeados por novidades sobre essa ferramenta, porém tendemos a apenas nos preocupar e compreendê-la quando associada ao entretenimento ou para nos beneficiar. Em uma visão macro, nós percebemos que as pessoas tendem a menosprezar as hipóteses negativas relacionadas à tecnologia. Essa prepotência pode ser fruto do antigo ditado que diz “a ignorância é uma benção”, mas não servirá para impedir problemas caso a IA vá além do plausível.
Até o presente momento não há uma IA capaz de guiar seu rumo por si mesma. Certamente temos alguns exemplos de IA que, aos olhos leigos, aparentam total independência, mas essa aparência perde força quando lembramos que ela ainda depende do “input” de dados por humanos, além de haver limitações impostas pelos próprios programadores.
Teremos uma HAL 9000 (2001, uma odisseia no espaço) ou um Arquiteto (Matrix)? Isso pode até ocorrer, porém as mais brilhantes mentes em Inteligência Artificial não vislumbram essa possibilidade. Livros sobre a temática mostram que a evolução dessa ferramenta é a responsável por incontáveis e indiscutíveis benefícios à humanidade.
Kai-Fu Lee, um dos nomes de maior pertinência no tema, escreveu em seu livro “Inteligência Artificial” (Globo Livros) sobre as mudanças que essa tecnologia trouxe ao mundo e, claro, como ela está modificando nossa rotina. Desde o controle de tráfego, a condução de um veículo até cirurgias que demandam precisão inequívoca, a sociedade já se beneficia desta tecnologia, gostemos ou não.
Não há uma Caixa de Pandora a ser aberta. Na verdade, a “Caixa” já está aberta, cabendo a nós usufruir ao máximo disso, sempre com responsabilidade e coerência. Entretanto, por se tratar de uma tecnologia desenvolvida por pessoas, talvez seja melhor atentar para quem esteja à frente de projetos com IA, principalmente aqueles em que haja o binômio guerra-IA. O maior perigo, HOJE, está nos responsáveis pela programação da inteligência artificial por trás das máquinas de guerra.
O futuro.
Abordar o futuro é, em essência, apenas conjecturar. Mas há previsões de uma evolução da Inteligência Artificial a ponto de que esta possa – realmente – aprender. Quanto à possibilidade de surgir uma IA que aprenda, tome decisões por si só e ensine outras máquinas (tal como visto em Terminator, Matrix, 2001, etc), isso teria que ser, antes de mais nada, permitido pelos próprios humanos.
Mais uma vez, o futuro distópico e temido por milhões de pessoas está – em tese – fora de cogitação.
Agora, em uma análise mais aprofundada, o uso da IA, excetuando-se a aplicação em máquinas de guerra, tem o potencial de tornar as pessoas mais acomodadas, sobretudo no tocante ao aprendizado. O ensino à distância apresenta algumas dificuldades resultantes do relaxamento do próprio aluno, mas não há como refutar o fato de que ter tudo com extrema facilidade é um fator de acomodação real.
Claro que cirurgias feitas por robôs, automóveis conduzidos por IA, serviços postais 100% automatizados, criação de novos medicamentos feitos por computadores, cálculos cada vez mais complexos para aplicação em engenharia, física e outras áreas… tudo isso será impulsionado pela Inteligência Artificial que – até o presente momento – não apresenta perigo para a humanidade.
As guerras.
Esqueçam tudo que sabem sobre guerras. Os modelos obsoletos de combates com homens avançando gradualmente em um território estão, em tese, destinados a acabar. Na verdade, o avanço territorial e as guerras travadas entre combatentes permanecerá por longa data, porém com o diferencial de que teremos mais e mais máquinas substituindo os soldados. Navios poderão ser conduzidos com uma tripulação ínfima, enquanto os drones ganharão em tamanho e poder letal, talvez chegando ao ponto em que surgirão caças pilotados por IA. Robôs já são uma realidade em áreas de conflito.
Tudo isso já está muito próximo da concretização, saindo do campo do imaginário e da ficção. É questão de tempo até que as máquinas e a Inteligência Artificial sejam os soldados e generais nos campos de batalha.
Hoje, temos drones que atacam a distância, porém ainda comandados por humanos. Temos robôs que atuam em áreas de combate e sondam territórios para evitar perdas de vidas humanas. Os já citados drones são abastecidos com explosivos e usados como armas de destruição, no melhor estilo kamikaze. A guerra, enfim, evoluiu e tende a ficar cada vez mais tecnológica.
Com o notável avanço da IA, certamente chegará o dia em que os combates poderão ser planejados e travados quase que exclusivamente por máquinas. Isso, contudo, ainda é uma realidade em construção, já que as principais decisões são tomadas pelos operadores dos drones/robôs, tendo como base os dados coletados por máquinas de grande precisão.
Domínio das máquinas sobre os homens? Somente se houver homens interessados nisso. A tecnologia é uma ferramenta indispensável, porém os resultados de sua má utilização são frutos das pessoas que fazem uso inadequado dela.