Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) nesta terça-feira (01/8), o ex-diretor-adjunto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Saulo Moura da Cunha, afirmou que o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Marco Edson Gonçalves Dias, tinha conhecimento sobre o risco de ataques às sedes dos Três Poderes.
No depoimento, Saulo Cunha contestou a declaração do general GDias, que havia afirmado não ter sido informado sobre os riscos. Cunha disse que enviou os primeiros alertas para o general através de um aplicativo de mensagens na manhã de 8 de janeiro e que os dois também conversaram por telefone sobre o assunto.
O primeiro contato por WhatsApp foi por volta de 8h. Ele [GDias] responde dizendo: “Acho que vamos ter problemas”. Eu continuo encaminhando as mensagens e, por volta de 13h30, falo com o ministro e passo esta preocupação: “Temos a impressão, temos já uma certa convicção de que as sedes dos Poderes serão invadidas e haverá uma ação violenta contra esses prédios”. O general GDias obviamente não estava recebendo informações apenas da Abin. Não posso afirmar por que ele agiu ou deixou de agir — afirmou Cunha.
A senadora Eliziane Gama questionou Cunha sobre a adulteração de um relatório enviado ao Congresso Nacional, que omitiu alertas enviados ao celular do general GDias. Cunha admitiu que elaborou dois relatórios, mas afirmou que a decisão de retirar os alertas partiu do próprio general, o que a senadora classificou como ilegal.
Não adulterei. Fiz o primeiro em uma planilha que continha os alertas encaminhados pela Abin a grupos e continha também os alertas encaminhados por mim pessoalmente, pelo meu telefone, para o ministro-chefe do GSI. Entreguei essa planilha ao ministro, e ele determinou que fosse retirado o nome dele dali porque ele não era o destinatário oficial daquelas mensagens. Que ali fossem mantidas apenas as mensagens encaminhadas para os grupos de WhatsApp. Ele determinou que fosse feito, e eu obedeci a ordem — enfatizou Cunha.
O ex-diretor-adjunto da Abin classificou os ataques como “eventos lamentáveis” e relatou que o Distrito Federal recebeu 130 ônibus com mais de 5 mil passageiros, alguns deles apontados como “radicais extremistas”.
Quem é o general Gonçalves Dias?
O General Marco Edson Gonçalves Dias foi o Ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e ocupou esse cargo do dia 1º de janeiro de 2023 até o dia 19 de abril de 2023.
Em janeiro de 2023, houve a divulgação de imagens que o mostravam no Palácio do Planalto em situação confortável com os manifestantes, durante a invasão do prédio. Essas imagens levantaram questionamentos sobre a atuação do general no evento e sua relação com os manifestantes.
Em resposta às divulgações das imagens, Gonçalves Dias pediu demissão do cargo de ministro-chefe do GSI.
Fonte: Agência Senado