Parte significativa dos oficiais generais das Forças Armadas Brasileiras, quando são transferidos para a reserva remunerada, assumem rapidamente cargos influentes em grandes empresas do país, sejam estatais, de economia mista ou mesmo privadas, estas últimas normalmente frequentemente têm interesses em negociar com as Forças Armadas e o governo federal ou produzem algum tipo de material relacionado à atividade militar, segurança pública, navegação ou aeronáutica.
Muitos se lembram que em junho de 2021 a Comissão de Ética Pública declarou que o general Edson Pujol, recém demitido da função de Comandante do Exército, não poderia assumir cargo em empresas da iniciativa privada, que deveria permanecer afastado de atividades que poderiam ter alguma relação com o seu cargo de Comandante do Exército Brasileiro
“Processo 00191.000288/2021-55 – EDSON LEAL PUJOL – Comandante do Exército – Consulta sobre conflito de interesses após exercício de cargo ou emprego no âmbito do Poder Executivo federal…”
No que diz respeito ao privilégio de ser indicado para cargos ligados de alguma forma ao governo, a escolha frequente pode ser explicada pela relação muito próxima, sempre pacífica e extremamente política entre as cúpulas armadas e o governo federal. Mesmo em negociações sobre carreiras e salários, os militares são conhecidos por se manterem dóceis e submissos ao governo.
Uma revisão nos reajustes concedidos nas últimas décadas mostrará que, mesmo que a reposição inflacionária dos militares das FA tenha sido sempre abaixo do que é concedido para outras categorias – e de forma parcelada – bem diferente do que ocorre com as outras carreiras de estado, isso nunca gerou qualquer tipo de crise entre as instituições e o governo, bem diferente do que ocorre em casos semelhantes envolvendo outras corporações ligadas à segurança, como polícia federal, polícia rodoviária e até polícias militares dos estados e no DF.
Independentemente do viés ideológico do governo, os oficiais que ocupam cargos nos altos comandos e no almirantado vão fazer o possível para se manter o mais próximo possível do primeiro escalão. A recente disputa pelo controle do GSI, que executa atividades que podem ser realizadas por policiais, é um exemplo desse esforço em se manter próximo do chefe do Executivo federal.
Os comandantes militares, ao longo de sua gestão, sempre mantêm um relacionamento de extrema amizade e cortesia para com a classe política. A questão das muitas condecorações e homenagens militares concedidas para civis, por exemplo, algo que aparece bastante para o público externo, para o executivo serve como uma formal, bela e eficaz compra da boa vontade dos políticos, empresários e membros do judiciário. Para os políticos condecorados a coisa funciona para elevar o status diante do eleitorado e de seus pares e, por fim, para os próprios militares os atos endossam a fama de pacificadores, bons samaritanos e administradores tão hábeis quanto pouco ruidosos da coisa pública.
O almirante da esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira é um exemplo clássico de como a politização da Cúpula Armada funciona. Leal Ferreira circulou por diversos cargos no governo e em empresas ligadas a este nos últimos anos. Da presidente Dilma Rousseff a Jair Bolsonaro e agora no governo de Luís Inácio Lula da Silva, Leal se manteve sempre em cargos de alto escalão sem se “queimar” por conta de questões salariais ou ideológicas.
O oficial foi o comandante da Marinha de Dilma Rousseff, Michel Temer resolveu mantê-lo o comandante atravessou aquele período conturbado como se navegasse em mar de almirante, sem percalços, transferindo o comando da armada brasileira para Ilques Barbosa só no início do governo de Jair Bolsonaro. Foi recompensado, ainda no governo do capitão da reserva Jair Bolsonaro assumiu o cargo de presidente do conselho de administração da Petrobras.
Leal saiu da Petrobras em abril de 2022, no auge da crise em que Bolsonaro cobrava da empresa uma solução para os altos preços dos combustíveis. O oficial, que – segundo apurado pela Revista Sociedade Militar – recebia pelo serviço na Petrobras cerca de 15 mil reais mensais, pouco menos da metade do que recebe da Marinha como Almirante de 5 estrelas, posto que não existe mais e é equivalente a Marechal no Exército.
Segundo a agência de notícias Reuters, ao pedir para sair da gigante do petróleo, ele deu como justificativa a necessidade de dar atenção à família. Entretanto, ainda no mesmo mês – por indicação da própria Petrobrás – assumiu o cargo de Vice-Presidente do Conselho de Administração da Braskem, cargo que ocupa até hoje.
O salário de um conselheiro na Braskem é bem mais satisfatório do que na Petrobras. A empresa dificulta o acesso a valores pagos à equipe, mas números publicados no jornal Valor Econômico apontam que em 2017 um conselheiro na empresa já recebia, em média, 65 mil reais mensais.
O oficial, que é apontado como alguém extremamente experiente e capacitado, carrega dezenas de cursos e especializações, no Brasil e no exterior. “tendo sido eleito como membro efetivo e Vice- Presidente do Conselho de Administração em 19/04/2022, por indicação da acionista Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras. O Sr. Eduardo Bacellar Leal Ferreira foi Presidente do Conselho de Administração da Petrobras de 2019 a abril/2022 … participou do Almirantado (Alto Comando da Marinha) entre 2013 e 2019, tendo presidindo-o entre 2015 e 2019… Comandante da Marinha, de 2015 a 2019 … ”
Em breve mais artigos sobre as razões a politização da cúpula armada e sua proximidade com o governo.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar
Fontes:
Portal da Transparência Braskem