Apesar da guerra da Ucrânia e as consequentes sanções impostas pelo ocidente, Vladimir Putin está tentando trazer a Rússia de volta à vanguarda da corrida espacial.
Nas primeiras horas da manhã desta sexta-feira, a agência espacial estatal Roscosmos lançou a primeira missão lunar do país em quase meio século em uma jogada ambiciosa na luta para construir uma base na lua.
“Se conseguirem, será uma enorme conquista tecnológica e científica”, disse Tim Marshall, autor de “The Future of Geography” sobre a geopolítica do espaço. Marshall argumenta que um pouso russo bem-sucedido marcaria um grande passo nos planos de construir uma base lunar em parceria com a China até a década de 2030.
Água na Lua
A missão russa Luna-25 será enviada para explorar o polo sul lunar, onde cientistas acreditam que há um suprimento abundante de água presa sob o gelo na sombra perpétua das montanhas. Encontrar reservas de água é um requisito crítico para sustentar vida na lua com oxigênio respirável, água potável e até combustível de foguetes. Isso ajudaria as nações que desejam explorar o espaço a ir mais além no cosmos no futuro.
“O primeiro objetivo é encontrar água, confirmar que ela está lá… estudar sua abundância.”, disse Olga Zakutnyaya, do Instituto de Pesquisa Espacial da Academia Russa de Ciências em Moscou, sobre o objetivo principal da Luna-25.
Parceria Russo-Chinesa na exploração espacial
Mas simplesmente pousar com sucesso uma espaçonave no polo sul lunar rochoso, o que por si só já seria o primeiro, também provaria a Pequim que Moscou ainda tem algo a oferecer quando se trata de tecnologia aeroespacial de ponta. Os dois países já se comprometeram a trabalhar juntos para construir uma base lunar até a década de 2030. Pequim, no entanto, é o claramente o líder nesse quesito.
“Putin sabe que a Rússia é o parceiro menor no relacionamento com a China, inclusive no relacionamento espacial”, disse Marshall. O autor argumenta que a missão Luna-25 poderia sobretudo ajudar a reequilibrar a balança.
Do outro lado da divisão geopolítica, os Estados Unidos planejam enviar astronautas ao pólo sul ainda nesta década como parte de seu programa Artemis, apoiado pelo Canadá e países europeus.
Curiosamente, apesar da competição, a NASA não parece preocupada com a missão de Moscou.
“Não acho que muitas pessoas neste momento diriam que a Rússia está realmente pronta para pousar cosmonautas na lua no período de tempo de que estamos falando”, disse o administrador da NASA, Bill Nelson, durante um painel na terça-feira em resposta a Luna-25.
Nova corrida espacial
Apenas três países, Estados Unidos, China e União Soviética, conseguiram pousar espaçonaves na lua com sucesso. Ainda assim, apenas os americanos colocaram astronautas na superfície lunar.
Países como Índia, Japão e Israel tentaram e falharam. Novamente arriscando, a missão indiana Chandrayaan-3, que se traduz como “veículo lunar 3” em sânscrito, está programada para chegar à superfície no dia 23 de agosto desse ano. O objetivo também é explorar o pólo sul. Isso seria mais ou menos na mesma época em que o Luna-25 pousaria.
Pousar uma espaçonave no terreno montanhoso dos pólos ocultos da lua, no entanto, não é nada fácil.
“O polo sul tem muitas crateras e é muito rochoso”, disse Nico Dettmann, líder da Agência Espacial Européia, a ESA. “Esse tipo de desenvolvimento de tecnologia espacial levam tempo.”, disse Dettman.
O Luna-25 estava programado para incluir sistemas de câmeras de navegação da ESA como parte de um acordo de cooperação. No entanto, o plano foi descartado devido à invasão russa da Ucrânia. Pela mesma razão, descartou-se uma parceria para uma missão para Marte apelidada de ExoMars.
Fonte: Politico