A CPI dos atos antidemocráticos tem sido um grande palco de revelações e momentos tensos. Um dos eventos que mais chamou a atenção nessa terça-feira (26/09/2023) foi a revelação de uma intriga entre generais de 4 estrelas, protagonizada pelo General de Exército na reserva Augusto Heleno.
Durante a audiência na Comissão Parlamentar, o general Augusto Heleno, que comandou o Gabinete de Segurança Institucional durante o governo Bolsonaro, respondeu a várias questões e em um momento lamentou declarações feitas à Folha de São Paulo por seu sucessor na pasta, o general de Exército Marcos Antônio Amaro.
Augusto Heleno afirmou que, apesar de considerar Amaro seu “amigo particular”, ele falou bobagem.
“Ele já tinha trabalhado no GSI antes e falou essa bobagem no dia em que chegou no GSI. Eu garanto, tenho certeza absoluta de que ele hoje está arrependido do que falou“
Militar ouvido pela Revista Sociedade Militar, disse que: ” evidentemente a intriga entre Heleno e Amaro é gigantesca, a posição no espectro político do chefe de cada um já é evidência disso… Mas, ambos fizeram parte do Alto Comando, eles têm um código de honra, dividem segredos, é uma espécie de maçonaria militar e a ética manda que Heleno, mais velho, mais antigo, coloque panos quentes sobre isso … os dois sabem que ao dar corda para essa desavença quem vai sair perdendo será a instituição Exército Brasileiro“.
Heleno declarou: “Sobre a declaração do atual Ministro do GSI, de que eu arranhei a institucionalidade do GSI politizando o gabinete, eu lamento que tenha partido do atual, que é meu amigo particular, um brilhante oficial. Ele já tinha trabalhado no GSI antes e falou essa bobagem no dia em que chegou no GSI. Eu garanto, tenho certeza absoluta de que ele hoje está arrependido do que falou, que o GSI não tem nenhum traço político. Vários dos senhores Parlamentares já foram ao GSI pra tratar de algum assunto e garanto que jamais perceberam qualquer sinal de politização do GSI. O GSI é uma instituição de Estado.”
As declarações a que Heleno se referia foram feitas por Amaro e incluíam observações sobre a conduta e o papel de Heleno no Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Amaro disse que o general Heleno, que chegou com uma grande carga política, desconstruiu a institucionalidade do GSI:
“Só ver a galeria de fotografias que você tem ali [dos ministros do GSI]. Qual é o primeiro que está usando traje civil ali [aponta para o general Augusto Heleno]? Sempre veio para cá um general da ativa, quatro estrelas, para comandar o Gabinete de Segurança Institucional. Desde que se criou o GSI, primeiro foi o general [Jorge] Felix, depois o general Elito [Siqueira]. Todos vieram para cá com quatro estrelas, entendendo, fardado, um papel institucional de militar que vai chefiar o GSI. O general Heleno já estava há dez anos fora. Quando veio para cá, já veio com essa carga política, já tinha feito campanha para Bolsonaro. Ou seja, ele veio realmente já assim desconstruindo um pouco essa institucionalidade que tem o GSI.”
Além disso, o general Heleno abordou uma declaração que circula na internet sobre a presença do “DNA bolsonarista” no GSI. Ele refutou essa afirmação, dizendo: “”No GSI permaneceu o DNA bolsonarista do General Heleno”.
Heleno disse: “Essa foi uma frase infeliz pronunciada eu nem sei por quem, algum jornal que publicou. Não ficou DNA bolsonarista do General Heleno porque eu jamais tratei de política com os meus servidores. Tem aqui alguém que pode testemunhar isso. O Deputado Delegado Federal Dr. Ramagem foi Diretor da Abin durante algum tempo. Por dois anos, não é, Ramagem?”
Estas e outras revelações na CPI dos atos antidemocráticos evidenciam que há divergências e tensões entre membros de alto escalão do Exército Brasileiro, ressaltando as diferentes perspectivas e abordagens em relação à atuação e à institucionalidade do Exército que endossam ou não as ações como agente político no país. Seguindo essa linha, fica evidente que o “time” que acredita que o Exército Brasileiro deveria se abster do tão evocado papel de “moderador” venceu.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar