Após anunciar avanços em negociações e a construção de inúmeras obras em vários países da América Latina, a China agora está mirando em El Salvador, na América Central. De uma longa lista de países latino americanos que estão realizando cada vez mais acordos de cooperação com a China, El Salvador é geograficamente o mais próximo dos Estados Unidos a receber investimentos recentes dos chineses.
Seguidas publicações em sites como o Diálogo Américas, administrado pelos militares dos EUA, evidenciam a preocupação extrema com o tema por parte dos generais norte americanos.
“Em breve, abriremos a nova Biblioteca de El Salvador, que estamos terminando de construir com o apoio da China”, declarou o presidente salvadorenho, Nayib Bukele, em um discurso no dia 15 de setembro.
Outra obra com cooperação chinesa é a construção de um novo cais no Porto de La Libertad, uma das áreas mais valorizadas da costa turística de El Salvador. Eny Aguiñada, presidente do Instituto Salvadorenho de Turismo, disse que esperar “que seja inaugurado antes do final de 2023.”
Investimentos considerados obscuros
Esse seria mais um investimento que os especialistas consideram como obscuros. Isso porque, no caso de El Salvador, as autoridades não especificam exatamente quais obras serão feitas ou quais prazos de execução os chineses terão para executá-las. Essa é uma prática comum das empresas chinesas e que já foi apontada pela Revista Sociedade Militar.
Javier Meléndez, diretor do Expediente Aberto, uma instituição centro-americana especiliaza em Defesa, transparência e direitos humanos, falou sobre o assunto ao portal Diálogo. “Para o Partido Comunista Chinês, o PCC, e suas empresas, é muito importante manter a responsabilidade de suas operações fora do radar. É por isso que, em países com líderes autocráticos, as relações com a China são tratadas por um círculo interno muito pequeno”, declarou Meléndez.
Os especialistas temem que esses “investimentos” não passem de contração dívidas impagáveis, que os chineses usarão no futuro para forçar os países em débito a submeter-se economica, militar ou politicamente.
Avanço chinês pode ser mais prejudicial do que vantajoso
Ricardo Castañeda, economista sênio do Instituto Centro-Americano de Estudos Fiscais, acredita que o avanço chinês sobre El Salvador prejudica o país latino-americano. “As chances de que uma economia como a de El Salvador possa se beneficiar de um acordo de livre comércio com a China são muito pequenas”, afirmou. “O cenário mais lógico é o de que as empresas chinesas sejam as que mais se beneficiarão com esse acordo.”
Isso se comprova primeiramente em números. Entre janeiro e junho de 2023, por exemplo, as exportações salvadorenhas para a China totalizaram US$ 5,4 milhões. De acordo com o Banco Central de Reserva, em 2022 esse número era muito superior, cerca de US$ 43,5 milhões. Houve, portanto, uma queda substancial de exportações de El Salvador para os chineses, mais precisamente, 87,6%, de acordo com o Banco Central de Reserva.
“Penetração desenfreada da China na América Latina é preocupante”
O jornalista, escritor e editor argentino Agustín Barletti acredita que a penetração desenfreada da China na América Latina é decerto muito preocupante. Após concluir um estudo de três anos, com um extenso registro de fontes e documentos, Barletti revelou que, a princípio, as intenções do país asiático na América Latina podem não ser exatamente benéficas.
“A China tem fome de desafiar a supremacia ocidental em várias partes do mundo e recuperar um lugar histórico com o mandato do nacionalismo. O objetivo é que as decisões futuras não possam ser tomadas de forma soberana sem consultar os desejos da China”, pontua o jornalista.
A estratégia da China seria conquistar os países emergentes sobretudo através de empréstimos impagáveis. “Emprestar dinheiro a países em situações de emergência, mas com a particularidade de que eles não o devolvam. Não é coincidência então que a dívida pública africana não para de crescer.” Em sua investigação, Barletti observou que, desde 2000, a dívida pública da África passou inesperadamente de 35% do PIB para 50%. Não surpreendentemente, a China é seu maior credor.
Semelhantemente, Juan Belikow, professor de Relações Internacionais da Universidade de Buenos Aires, manifestou as mesmas preocupações. “Ser ‘parceiro’ da China é um jogo perigoso”, declarou anteriormente o professor.
Os chineses tem diversos projetos em andamento em vários países do cone sul, incluindo o Brasil.