O recente furto de 21 armas do Exército brasileiro, em setembro, tornou-se um dos episódios mais marcantes na história militar do país. A investigação conduzida pelo Comando Militar do Sudeste (CMSE) revelou que sete militares estão sob suspeita direta de envolvimento no crime, sendo três deles identificados como responsáveis diretos pelo furto.
Essa ação criminosa, que resultou no desaparecimento de 13 metralhadoras antiaéreas calibre .50 e oito metralhadoras calibre 7,62, representa o maior desvio de armas registrado desde 2009, quando sete fuzis foram roubados e posteriormente recuperados em Caçapava, interior de São Paulo.
O general Maurício Vieira Gama, chefe do CMSE, esclareceu em entrevista coletiva que cerca de 20 militares estão sendo investigados por negligência na conferência, fiscalização e controle do armamento. Além das medidas disciplinares, há a possibilidade de responsabilização criminal para aqueles com participação direta no furto.
Sete militares estavam, desde 10 de outubro, impedidos de deixar o Arsenal de Guerra em Barueri, na Grande São Paulo, indicando uma participação mais efetiva no crime. Três deles, segundo a investigação, teriam papéis determinantes no furto: um responsável por abrir o paiol, outro por pegar as armas e um terceiro por transportá-las em um caminhão militar para fora do quartel. Esse nível de envolvimento direto torna o caso ainda mais preocupante e levanta questionamentos sobre a segurança interna e a confiança depositada nas fileiras militares.
A colaboração entre as polícias do Rio de Janeiro e de São Paulo foi crucial para a localização de 17 das 21 armas furtadas. Porém, quatro metralhadorasespecialmente preocupantes por serem de calibre .50, permanecem desaparecidas. As autoridades alertam que essas armas têm potencial para derrubar aeronaves, tornando a busca por elas uma prioridade estratégica.
O destino das armas parece estar vinculado a facções criminosas, como o Comando Vermelho (CV) no Rio de Janeiro e o Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo. Essa conexão ressalta a gravidade do incidente, não apenas como um furto, mas como um possível fornecimento de armas a grupos organizados. Apesar do Exército considerar as armas “inservíveis” e em processo de manutenção, especialistas alertam para o potencial perigo se essas armas caírem nas mãos de criminosos.
A mudança no comando do Arsenal de Guerra, com a exoneração do tenente-coronel Rivelino Barata de Sousa Batista e a nomeação do coronel Mário Victor Vargas Júnior, sinaliza uma resposta administrativa diante do ocorrido. A necessidade de reforçar medidas de segurança e controle de armas nas instituições militares torna-se evidente, não apenas para evitar futuros desvios, mas também para restaurar a confiançada sociedade na integridade das Forças Armadas.
No entanto, existe uma controvérsia entre o Exército e as forças de segurança estaduais sobre a colaboração durante as investigações. Enquanto o Exército alega troca de informações, autoridades estaduais insistem que não receberam dados do serviço de inteligência militar. Essa disparidade levanta questões sobre a transparência e a coordenação entre diferentes agências de segurança.
À medida que a Justiça Militar se prepara para lidar com a responsabilização criminal dos envolvidos, a sociedade aguarda respostas conclusivas sobre o destino das quatro metralhadoras restantes.
Fernanda Nascimento