Uma postagem no Twitter no perfil @socmilitar, que informava sobre militares brasileiros ministrando cursos de adaptação à selva amazônica para soldados dos EUA na operação conjunta CORE23, realizada na Amazônia nas duas primeiras semanas de novembro, alcançou um impressionante número de 7,9 milhões de visualizações. O engajamento, bem acima da média, deixa óbvio que no momento há um inusitado interesse da sociedade brasileira por questões de segurança nacional e a soberania sobre a Amazônia.
É relevante também destacar os números significativos alcançados por comentários feitos em reprovação ao modus operandi do Exército Brasileiro, alguns foram exibidos mais de 300 mil vezes.
A Revista Sociedade Militar, empenhada em descobrir as razões desse incomum engajamento na rede social e manifesta preocupação com o ensino para estrangeiros de técnicas utilizadas pelos militares brasileiros para movimentação na selva amazônica, decidiu ouvir os seguidores por meio de uma enquete, que teve como base um discurso do Chefe do Estado Maior do Exército Brasileiro sobre as dificuldades que serão enfrentadas pelos oficiais generais no futuro.
O Gen. de Exército Fernando Santana, na ocasião, alertou sobre a possibilidade de ocorrerem pressões estrangeiras, incluindo militares, sobre o Brasil no futuro próximo. A declaração é preocupante e se reveste de extrema importância por ter feito parte de um discurso para oficiais generais recém-promovidos.
Grande potência
Levando em consideração que o número de países considerados como “grande potência” não é tão grande e que as opções nas enquetes no Twitter se limitam a quatro, decidimos incluir como alternativas: China, Rússia, França e Estados Unidos.
Os dois primeiros países foram incluídos porque ao longo dos últimos anos têm aumentado sua influência sobre a América Latina e por fazerem parte do imaginário coletivo como sendo “países comunistas” que disputam com os EUA a hegemonia na América Latina. A França foi escolhida por possuir um território na Amazônia e por seu presidente ter protagonizado recente “troca de farpas” com Jair Bolsonaro em questões sobre a preservação da Amazônia. Os EUA foram incluídos por serem a grande potência mais próxima do território brasileiro, por serem por alguns considerados como uma nação imperialista e por serem alvo de críticas por frequentes treinamentos em nosso território.
Os resultados: 66,4% dos participantes apontaram os Estados Unidos como a maior potencial fonte de pressão, seguidos pela China com 24,3%, França com 7,2% e Rússia com 2,1%.
66,4% – Estados Unidos; China – 24,3%; França – 7,2% e Rússia – 2,1%.
Análise dos Resultados
A predominância dos Estados Unidos na percepção dos participantes como potencial agressor pode ter como principal motivo a proximidade e consequente maior facilidade de projetar poder sobre nossa região, na medida em que Rússia e China teriam que percorrer praticamente meio planeta. Além disso, a posição estratégica do Brasil como uma potência regional – em potencial disputa com os EUA – e a crescente importância da Amazônia em discussões globais sobre meio ambiente e recursos naturais podem ser fatores contribuintes.
Por outro lado, a China, como uma potência emergente com crescentes investimentos e parcerias na América Latina, também é vista como uma influência significativa. A preocupação com a França provavelmente vem por conta dos interesses do país na região Amazônica e lembranças de disputas históricas por territórios no Norte da América do Sul.
Conclusão
Os resultados da enquete da Revista Sociedade Militar refletem uma consciência crescente sobre a importância estratégica da Amazônia e a necessidade de preparação e vigilância frente a possíveis pressões internacionais. O interesse reforça a importância de um debate contínuo com a participação da sociedade, informando sobre políticas de defesa e segurança nacional no Brasil.
Uma leitura apurada de centenas de comentários realizados na postagem sobre os exercícios na Amazônia, em uma análise de sentimentos com o uso de inteligência artificial, remete para a predominância de sentimentos como “desilusão”, “desconfiança” e “revolta” contra as Forças Armadas. Estes – que indicam que parte significativa da sociedade não acredita que os militares “são patriotas” e que sejam capazes de resguardar o território brasileiro – podem ter contribuído para o aumento do interesse por questões relacionadas à defesa nacional.
Íntegra da Análise de Sentimentos feita com o uso de inteligência artificial
Para realizar uma análise de sentimentos dos comentários postados por usuários do Twitter (X), a Revista Sociedade Militar considerou o tom e o conteúdo de cada um. Com base nos comentários fornecidos, identificamos alguns sentimentos e percepções predominantes em relação ao Exército Brasileiro e aos treinamentos ministrados para militares dos Estados Unidos:
- Desconfiança e Ceticismo: Muitos comentários expressam desconfiança em relação às intenções dos Estados Unidos e preocupação com a possibilidade de o treinamento ser uma forma de os EUA aprenderem a operar em território brasileiro, o que poderia ser prejudicial para o Brasil em um contexto de conflito.
- Crítica e Desaprovação: Há uma forte tendência de crítica ao Exército Brasileiro por permitir esse tipo de treinamento. Muitos veem isso como uma ação antinacionalista ou uma demonstração de fraqueza e submissão aos interesses norte-americanos.
- Ironia e Sarcasmo: Alguns comentários usam ironia e sarcasmo para expressar descontentamento, como referências a atividades triviais (pintar meio-fio, capinar) para descrever as ações do Exército.
- Preocupação com a Soberania Nacional: Existe uma preocupação evidente com a soberania nacional e a segurança do território brasileiro, especialmente em relação à Amazônia e aos recursos naturais.
- Descrença na Confiabilidade do Exército: Muitos comentários refletem uma falta de confiança no Exército Brasileiro, questionando sua competência e intenções.
- Referências Históricas Negativas: Alguns comentários trazem à tona eventos históricos, como a ditadura militar, para criticar a atual cooperação com os militares dos EUA.
- Palavras e Adjetivos Utilizados: Termos como “absurdo”, “vergonhoso”, “entreguismo”, “vira-latas”, e “incompetente” são frequentemente usados para adjetivar os militares brasileiros e a situação.
Em resumo, a análise dos comentários sugere que há um sentimento predominante de desaprovação e desconfiança em relação ao Exército Brasileiro e aos treinamentos ministrados para os militares dos EUA. A sociedade, conforme refletido nesses comentários, parece questionar a confiabilidade do Exército e expressa preocupações sobre as implicações desses treinamentos para a soberania e segurança nacional do Brasil.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar