Um artigo de Yascha Mounk na “Persuasion”, com o título “As raízes profundas do silêncio ensurdecedor da esquerda sobre o Hamas”, aborda a reação de muitas facções da esquerda em todo o mundo diante dos ataques terroristas do Hamas, que resultaram na morte cruel e seqüestro de muitos civis israelenses.
Mounk questionou o silêncio e até mesmo a celebração desses atos por parte de grupos que normalmente condenam tragédias e injustiças. Ele explora as razões ideológicas profundas por trás dessa postura, criticando o que ele chama de “síntese da identidade”, que vê o mundo através de categorias de identidade e impõe uma visão simplista.
Mounk argumenta que essa visão ignora a complexidade dos conflitos globais e pode levar a uma cegueira seletiva, onde a violência é justificada ou ignorada dependendo de quem são os perpetradores e as vítimas, conforme definido por essas categorias de identidade. Ele critica a tendência de alguns na esquerda de apoiar organizações como o Hamas, ignorando suas intenções assumidamente genocidas e políticas autoritárias, simplesmente porque são vistos como oprimidos em luta contra opressores.
“Mesmo quando o primeiro ministro da Inglaterra disse palavras bem claras sobre o Hamas, por exemplo, a BBC recusou-se firmemente a chamar os combatentes do Hamas que mataram mais de 1200 pessoas pelo nome legitimamente reservado para aqueles que deliberadamente miram em civis inocentes para fins políticos: terroristas. Entretanto, muitas escolas e universidades, organizações sem fins lucrativos e empresas que, ao longo dos últimos anos, se dedicaram ao negócio de condenar e comemorar todos os tipos de tragédias, tanto pequenas como grandes, ficaram estranhamente silenciosas…”
O autor em seu texto apela para um retorno ao universalismo moral, onde a humanidade compartilhada é reconhecida e a morte de inocentes é lamentada, independentemente de sua identidade. Ele defende uma esquerda que fale poderosamente contra a injustiça sem cair na tentação de glorificar o sofrimento de um lado e desumanizar o outro.
“Tudo isto levanta uma questão simples: como poderia uma parcela tão notável do lado esquerdo estar com terroristas que anunciam abertamente as suas intenções genocidas? Porque é que as principais instituições se mostraram tão relutantes em denunciar tudo isso? … O que, para eles, torna as vítimas destes ataques tão menos dignas de solidariedade do que as de muitas outras atrocidades que condenaram veementemente?”
A preocupação central do artigo está no tratamento desigual dos direitos dos oprimidos e dos opressores. Independente da sua idade, da sua classe social e da sua orientação sexual, se você foi estigmatizado como pertencendo à classe dos opressores você não tem direito a nada, sem mesmo à vida. O texto é muito relevante e deixa claro como as ideologias podem distorcer a percepção da justiça e da moralidade em contextos políticos e sociais complexos.
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Robson Augusto – Sociólogo, militar R1 – Revista Sociedade Militar / https://www.persuasion.community/p/yascha-the-deep-roots-of-the-lefts