O número de críticas e posicionamentos contrários ao exercício realizado pelos militares do Exército Brasileiro em conjunto com militares Das forças armadas dos Estados Unidos da América é enorme. Uma postagem feita no perfil da revista sociedade militar no Twitter comentando a operação alcançou mais de 7.7 milhões de visualizações e os comentários em tom de crítica ultrapassam a proporção de 95% das respostas.
A participação massiva no espaço da @socmilitar nas redes sociais indica que cidadãos brasileiros estão interessados em questões relacionadas à defesa nacional. Muitos que participam das discussões acreditam que os norte americanos não deveriam ser orientados no que diz respeito aos procedimentos de combate na Floresta amazônica.
Militares ouvidos pela Revista Sociedade Militar argumentam que o Exército poderia ter previsto a reação da sociedade, na medida em que ao longo dos últimos meses a força tem enfrentado uma verdadeira batalha nas redes sociais, com milhares de manifestações de insatisfação em todosos seus perfis, a ponto de ter mantido os perfis fechados por várias semanas. “ainda antes do início das manobras conjuntas o Exército poderia ter enviado comunicados à sociedade esclarecendo sobre a necessidade das operações, as vantagens para os brasileiros etc.”, diz um militar.
O Portal Arte da Guerra no Youtube publicou em seu espaço um vídeo comentando sobre o intenso envolvimento da sociedade na discussão apresentada pela Revista Sociedade Militar (abaixo). Robinson Farinazzo, editor do Portal, expressou uma visão importante, que o número de comentários negativos pode ser evidencia uma crise de imagem do Exército diante da sociedade.
Militares brasileiros e a OTAN
Em entrevista ao Diálogo Américas, revista online e impressa de interesse do secretário de Defesa dos Estados Unidos e Comando Sul das Forças Armadas Norte Americanas o general Luciano Guilherme Cabral Pinheiro mencionou que o militares brasileiros teveram até instruções de inglês como preparação para as operações conjuntas. O oficial deixou escapar ainda que os brasileiros tem interesse de compreender os métodos de trabalho das forças armadas ligadas à OTAN, bem omo se preparar pra operar com elas.
Leia a entrevista
O General de Exército Luciano Guilherme Cabral Pinheiro, do Exército Brasileiro, Comandante Militar do Norte, conversou com Diálogo sobre a importância do exercício para o Brasil.
Diálogo: Qual é o principal objetivo do Exercício Southern Vanguard 24?
General de Exército Luciano Guilherme Cabral Pinheiro, do Exército Brasileiro, comandante do Comando Militar do Norte: O principal objetivo do Exercício CORE 23/Southern Vanguard 24 é ampliar a interoperabilidade com o Exército dos Estados Unidos da América e forças compostas por países integrantes da OTAN.
Diálogo: Qual é a importância desse exercício militar bilateral entre o Brasil e os Estados Unidos?
Gen Ex Guilherme: Incrementa o relacionamento com o Exército dos Estados Unidos e assegura a capacitação do Exército Brasileiro para participar de operações internacionais, de acordo com os interesses nacionais e os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.
Diálogo: Como o Southern Vanguard aumenta os níveis de interoperabilidade?
Gen Ex Guilherme: O exercício incrementa a interoperabilidade ao promover o intercâmbio de experiências de treinamento e certificação para o combate com o Exército americano. Além disso, proporciona a compreensão dos diferentes padrões de trabalho utilizados pela OTAN.
Diálogo: Em dezembro de 2021, mais de 900 soldados do Exército Brasileiro e do Exército dos EUA realizaram seu primeiro Southern Vanguard. Quais foram as lições aprendidas?
Gen Ex Guilherme: As lições aprendidas são inúmeras, mas posso destacar o nivelamento das técnicas, táticas e procedimentos (TTP) em todos os escalões empregados no exercício (Brigada, Batalhão, Companhia e Pelotão), cooperando para o emprego combinado de tropas.
Diálogo: Qual é o valor agregado de participar do Southern Vanguard?
Gen Ex Guilherme: Participar de um exercício combinado com o Exército americano, um dos mais avançados do mundo, contribui na atualização da Doutrina Militar, aprimora a gestão da informação e aperfeiçoa o sistema Logístico e de Educação e Cultura, com reflexos para o processo de transformação do Exército Brasileiro.
Diálogo: O que há de novo no Southern Vanguard 24?
Gen Ex Guilherme: No Exercício CORE 23/Southern Vanguard 24, a maior novidade é o ambiente operacional, que se caracteriza por possuir grupos específicos que devem ser considerados, como exemplo, a presença predominante de grupos indígenas. Além disso, o ambiente operacional amazônico apresenta grandes vazios demográficos.
Na dimensão informacional, deve-se atentar para a precariedade na área de estrutura de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), que impõe dificuldade na transmissão, acesso e compartilhamento da informação, especialmente nas cidades do interior e comunidades ribeirinhas.
Em relação à dimensão física, o ambiente operacional amazônico se caracteriza por grandes áreas de selva inabitada, onde predomina a via de transporte fluvial com pequenas localidades ribeirinhas ao longo dos rios, a escassez de vias terrestres e grandes distâncias para o transporte aéreo.
Neste sentido, o sucesso nas operações em ambiente de selva exige decisões oportunas e eficazes, tomadas com base no julgamento preciso dos conhecimentos e das informações disponíveis.
Diálogo: Qual é a importância de o Brasil sediar o Southern Vanguard?
Gen Ex Guilherme: Para o país, a diplomacia militar é uma ferramenta crucial para a prevenção de conflitos e para a construção de uma comunidade internacional mais segura e estável. Neste contexto, sediar exercícios internacionais como o CORE 23/Southern Vanguard 24, demonstra sua capacidade de cooperação, o que fortalece a diplomacia militar do Brasil e a promoção da confiança mútua entre forças armadas de diferentes nações.
Diálogo: Como o Exército Brasileiro se preparou para esse exercício?
Gen Ex Guilherme: O ciclo geral de preparo do exercício compreende as fases de mobilização, com a definição do universo de seleção de pessoal, realização de testes físicos, de tiro e psicológico, além de exames médico-laboratoriais, entre outros. [Inclui também] preparo do pessoal, com instruções do idioma inglês, realização de exercícios táticos, capacitações individuais específicas, estabelecimento de ligações com a tropa enquadrante e início do planejamento operacional, de acordo com o quadro tático do exercício e preparo logístico, concentração de meios na Área de Operações, sustentação e reversão dos meios empregados na atividade.
Diálogo: Qual é a importância de ter militares do Brasil e dos EUA em exercícios de treinamento como o de terreno de selva?
Gen Ex Guilherme: Aprimora a capacidade do Exército Brasileiro e dos Estados Unidos da América em comporem arranjos internacionais de defesa, promovendo salutar intercâmbio de doutrina e outros procedimentos, o que traz necessariamente ganhos operacionais, logísticos e administrativos para ambas as partes.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar – Diálogo Américas ; Arte da Guerra ; Twitter