Depois dos quatro anos em que os militares dominaram a cena política brasileira, pouca coisa escapou ao olho crítico da imprensa. O que desde então tem quase sempre dominado as pautas jornalísticas é o salário pago aos profissionais das Forças Armadas.
Em geral, as matérias mostram ganhos relativos à passagem para reserva de um dado militar ou ajudas de custo relativas a mudanças de localidade, o que naturalmente engorda os contracheques.
Os dados financeiros são, conforme as fontes governamentais mencionadas, ganhos legais e que fazem parte da rotina orçamentária não só do Exército, mas também da Marinha e da Aeronáutica.
Citar números, principalmente relativos às finanças de uma determinada classe profissional, e não promover comparações, é subutilizar a informação coletada. Saber quanto ganha um general de Exército no Brasil, por exemplo, e não ter um parâmetro mínimo de comparação, apequena a pesquisa.
Tendo isso em mente, a equipe da Revista Sociedade Militar visitou os sites do Exército norte-americano, não por questões político-ideológicas, mas simplesmente por que os EUA estão no primeiro lugar no índice do site Global Fire Power com um orçamento de U$ 761.681.000.000 – número maior do que o triplo do segundo colocado, que é a China.
Aqui no Brasil, segundo o Relatório Setorial da Defesa para o Orçamento de 2023 , publicado na Agência Câmara de Notícias, a área de Defesa tem R$ 124,4 bilhões no Orçamento de 2023, o que, além de ser 40 vezes menor do que o dos EUA, destina 78,2% (quase R$ 100 bi) somente a despesas com pessoal.
GANHA MAIS, MAS GASTA MAIS
Fomos ao “número um” e procuramos saber quanto ganha o Comandante do Exército mais poderoso do mundo.
O General James McConville, Chefe do Estado-Maior do Exército dos Estados Unidos, cargo equivalente ao de Comandante do Exército por lá, tem 64 anos e é militar desde 1981. Lutou na guerra do Afeganistão e na guerra do Iraque, tendo assumido o atual cargo em 2019.
Descobrimos que o General McConville ganha por mês um salário de U$ 16,975 (cerca de R$ 83.345,55), podendo ter auxílios específicos variáveis durante o ano entre U$ 3.363,48 a U$ 207.062,28.
Tais auxílios podem ser de moradia, de alimentação, de uniformes, transferências, entre outros. Os números são de uma espécie de “portal da transparência” das Forças Armadas americanas.
Tomás Paiva recebe R$ 24.495,36 líquidos, que, acrescidos dos R$ 16.883,34 referentes à função comissionada CCX 011.8 de Comando da Força terrestre, catapultam o salário do “quatro estrelas” para R$ 41.378,00.
Portanto, o comandante do Exército americano, em números absolutos, ganha pouco mais do que o dobro do seu homólogo brasileiro.
Acontece que EUA e Brasil têm custos de vida diferentes. Seus orçamentos de defesa estão na razão de 1/40. O salário mínimo do americano é o quádruplo do brasileiro.
Segundo o Numbeo, maior banco de dados sobre custo de vida na internet, os EUA têm um custo de vida classificado como 72.4, enquanto o Brasil está em 34.7; já o índice de renda no Brasil é quatro vezes menor do que nos EUA (34.7/8.3), sendo que o valor de referência é a cidade de Nova Iorque (EUA) com 100 pontos.
SOLDADO VALORIZADO, EXÉRCITO FORTE. NOS EUA.
Aqui no Brasil, o salário do soldado é menor do que o do cabo, que é menor do que o do sargento, que é menor do que o do tenente, etc., até chegar ao general.
Isto seria razoável, se o soldado tivesse acesso via carreira ao oficialato, e depois ao generalato. Mas aqui no Brasil não é assim. Aqui, o soldado só ascende via concurso público de ampla concorrência.
Na prática, isso pode ser entendido de forma simples imaginando que os círculos de convivência (as categorias de praças e oficiais), como nas Forças Armadas brasileiras, continuam estanques na esfera da hierarquia funcional, mas se interpenetram na hierarquia salarial. A imagem abaixo dá uma ideia mais exata da diferença de valorização entre os militares de lá e os de cá.
Observamos que, apesar de o Suboficial Classe 1 (Warrant -1) ser hierarquicamente superior ao Sargento-Major-de-Exército, financeiramente ele é inferior.
O mesmo se repete com os oficiais na tabela abaixo:
O Suboficial (Warrant – 5) recebe mais do que o Coronel. Obviamente que estes números se referem ao pagamento básico, ao “piso” de cada “degrau” da hierarquia. Como dissemos acima, há também os adicionais variáveis ao longo do ano e ao longo da carreira.
Depois da reestruturação da carreira militar no Brasil, feita pelo governo anterior, esse tipo de “escabinato salarial”, isto é, a valorização financeira da experiência militar, foi extinta. Por aqui, o mero adicional de “tempo de serviço” era o que mais se aproximava do sistema americano, mas ele já não existe mais.
Texto de JB Reis