O governo da Guiana, sob pressão do Brasil e de países caribenhos, concordou em participar de negociações bilaterais com a Venezuela sobre a situação de Essequibo.
A disputa centenária entre as duas nações sul-americanas reacendeu-se recentemente com a descoberta de grandes quantidades de petróleo na Guiana. O governo de Nicolás Maduro, através de um referendo na semana passada, reivindicou a soberania sobre o território de Essequibo, que representa dois terços do país vizinho. Além disso, a região fica próxima de grandes depósitos de petróleo offshore.
Mesmo com tropas se concentrando em ambos os lados da fronteira, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, disse no domingo que seu país fará uma reunião na próxima quinta-feira para discutir onde as linhas de fronteira entre as duas nações devem ficar definitivamente.
No entanto, qualquer acordo provavelmente enfrentará dificuldades, com tensões crescentes em ambos os lados.
“Deixei bem claro que na questão da controvérsia fronteiriça, a posição da Guiana não é negociável”, disse Ali numa transmissão nacional.
A fronteira atual foi delimitada por uma comissão internacional em 1899, que a Guiana argumenta ser legal e vinculativa. No entanto, a Venezuela afirma categoricamente ser uma conspiração para roubo de terras, já que árbitros da Grã-Bretanha, Rússia e Estados Unidos decidiram onde ficaria a fronteira. Entre outras reivindicações, as autoridades venezuelanas afirmam que os americanos e os europeus conspiraram para privar o seu país do território.
O governo de Maduro disse no último sábado que concordou com negociações para preservar a sua “aspiração de manter a América Latina e o Caribe como uma zona de paz, sem interferência de atores externos”.
A Venezuela tem pressionado por conversações bilaterais diretas usando uma cláusula do antigo acordo. Ao mesmo tempo, a Guiana afirma que o caso deveria ir para o Tribunal Internacional de Justiça das Nações Unidas, que decidirá a questão.
“Em relação à nossa fronteira, não há absolutamente nenhum compromisso. O assunto está perante a CIJ e é lá que será resolvido”, disse o líder da Guiana. “Esperamos que o bom senso prevaleça e que o compromisso com a paz, a estabilidade e a ameaça de ruptura cessem.”, concluiu.
Ralph Gonsalves, primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, país caribenho, presidirá a reunião. O Brasil, por sua vez, atuará como observador.
Disputa por petróleo no cerne da questão
Em 2015, grandes depósitos de petróleo foram descobertos pela primeira vez ao largo da costa de Essequibo por um consórcio liderado sobretudo pela ExxonMobil. O fato despertou o interesse da Venezuela, cujo compromisso em prosseguir a reivindicação territorial, até então, não era tão incisivo.
As operações petrolíferas geram cerca de um bilhão de dólares por ano para a Guiana, um país até então considerado pobre. Por conta da exploração do petróleo, seus quase 800.000 habitantes viram a sua economia expandir-se surpreendentemente em quase 60% no primeiro semestre deste ano.
Enquanto a indústria petrolífera da Guiana continua a crescer, a da Venezuela despencou. A Venezuela tem as maiores reservas de petróleo do mundo, mas a sua indústria petrolífera se prejudicou nos últimos anos devido a má gestão. Além disso, sanções econômicas impostas à petrolífera estatal após a reeleição de Maduro em 2018 também contribuem para a ineficácia da indústria de petróleo da Venezuela.