Em redes fechadas de militares das Forças Armadas entre o dia 6 e 7 de janeiro circularam várias mensagens tentando convencer os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica a não comparecer ao ato em alusão ao 8 de janeiro de 2023. Uma das mensagens, segundo apurado pela Revista Sociedade Militar, atribuída a um general, relembra que o status de ministro foi retirado no passado dos comandantes das Forças Armadas – “tirou dos Comandantes o chapéu de membros do governo” – e diz que assim os oficiais generais estariam desobrigados da participação no evento, que seria “‘forçação de barra’ para fortalecer o governo a partir de uma idiotice estimulada irresponsavelmente pelo ex-presidente Bolsonaro.”
Entretanto, os generais não deram ouvidos ao aconselhamento e compareceram ao evento, se assentando ao lado do Ministro da Defesa, no canto direito do auditório, em um local discreto, pouco exposto às câmeras dos jornalistas.
” A presença do Ministro da Defesa, que por lei exerce a direção política das FA, será suficiente. Ele representa o elo entre as Forças e o governo. A justificativa para o não comparecimento dos Comandantes deve ser apresentada ao PR pelo próprio Ministro da Defesa, mostrando que o evento tem conotação política, não sendo, portanto, conveniente a presença dos Chefes Militares.”
Mensagem que enviei ao Cmt EB👇 Caro Comandante e amigo
Não sendo possível encontrá-lo pessoalmente, tomo a liberdade para levar à sua ponderação as observações a seguir, todas relacionadas à sua participação no evento programado para o próximo dia 8 de janeiro.
Comandante, o Exército é apolítico e a criação do MD tirou dos Comandantes o chapéu de membros do governo, abrindo espaço para manobrar nesta área apenas corporativa e profissionalmente.
O ato a ser realizado na próxima segunda-feira é POLÍTICO e tem por objetivo retratar o 08 de janeiro de 2023 como uma tentativa de golpe (o que sempre estará maquiavelicamente associado ao EB) e como ato terrorista, duas coisas que nunca estiveram no escopo do possivel em atos desta natureza. Trata-se de uma “forçação de barra” para fortalecer o governo a partir de uma idiotice estimulada irresponsavelmente pelo ex-presidente Bolsonaro.
Sendo um Ato Político com esses propósitos, a presença dos Cmt Forças será como um endosso à posição e à interpretação facciosa dos fatos.
A presença do Ministro da Defesa, que por lei exerce a direção política das FA, será suficiente. Ele representa o elo entre as Forças e o governo.
A justificativa para o não comparecimento dos Comandantes deve ser apresentada ao PR pelo próprio Ministro da Defesa, mostrando que o evento tem conotação política, não sendo, portanto, conveniente a presença dos Chefes Militares.
A presença dos Cmt permitirá também fazer ligação do evento com a CPMI que indiciou alguns antigos Chefes em seu controverso Relatório, agravando a divisão da reserva com possível repercussão sobre a coesão interna das Forças.
O desastre de 8/01 foi um desatino de fanáticos que NADA tem a ver com o EB, cuja única participação foi a de tentar impedí-lo com os meios, na minha opinião, propositadamente insuficientes que foram mobilizados pelo próprio governo por intermédio do GSI.
O EB não compactua com a versão de golpe e sempre se posicionou contrário a essa narrativa. A presença dos Cmt no evento será interpretada como um “mea culpa” e como uma mudança de posicionamento, reforçando a narrativa de TRAIÇÃO DOS COMANDANTES, da qual você é o alvo principal!
O Exército ainda está coeso. Os da reserva estão divididos. Os medíocres já tomaram a estulta atitude de denegrir a imagem e a confiança do povo na Força. Temo que a sua participação neste evento contamine a parte ainda sã da reserva, aí incluídos antigos e prestigiados Chefes.
O Ministro precisa ser alertado para o fato de que a presença dos Comandantes tira as instituições da posição isenta que as fortalece diante dos públicos interno e externo.
A participação dos Comandantes será interpretada como ADESÃO a um ato político que não vai trazer qualquer benefício para as Forças, pelo contrário.
A proteção da imagem das Forças e dos Comandantes é responsabilidade do Ministro. Não é você quem tem que dizer ou pedir para não comparecer a um ato político, é o Min Def – O POLÍTICO – quem tem que desaconselhar o Presidente sobre o comparecimento dos Chefes Militares ou, se for o caso, de dizer-se equivocado, caso tenha partido dele a sugestão de incluí-los no evento.
O custo benefício é negativo para todos, inclusive para o Governo.
Caro amigo, o Exército não participou do 8/01 e não precisa participar deste ato. É perfeitamente possível conversar com o Min Def, declinar do convite em nome da manutenção da coesão das Forças e fazê-lo ver que só há desvantagens na inclusão dos Comandantes nesta “comemoração”!
Caro Comandante, estes “pontos a ponderar”, que lhe apresento com lealdade e franqueza, já lhe devem ter sido apresentados por seus assessores, juntamente com outros inalcansáveis por mim, todavia, independente de qualquer coisa, ao levá-los à sua reflexão, cumpro ordens da minha consciência, certo de que o faço em consideração ao Exército, aos laços de camaradagem que nos unem como Soldados e à admiração que naturalmente nutro por você e sua família.
Forte e confiante abraço. Que Deus o ilumine e proteja!
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar