A análise da estratégia de política externa adotada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apelidada por críticos como “diplomacia da corda esticada”, na visão de alguns especialistas revela uma abordagem ambiciosa e arriscada nas relações internacionais do Brasil.
O enfoque aparentemente utilizado pelo presidente é procurar tensionar as relações com potências globais, como os Estados Unidos e a Europa, com o objetivo de arrancar concessões em favor das nações mais pobres. Entretanto, conforme apontado pelo jornalista Giuliano Gandalini, que em artigo publicado no Brazil Journal, cita análises de especialistas como Matias Spektor, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), a estratégia pode ser perigosa, carrega riscos significativos, principalmente de isolar o Brasil no cenário global e prejudicar relações diplomáticas e econômicas.
O cerne da crítica de Spektor à política externa de Lula, muito influenciada por Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores, reside na percepção de que tal abordagem se baseia em uma leitura equivocada do funcionamento do sistema internacional. Amorim e Lula parecem apostar na ideia de que apenas através da pressão e do tensionamento é possível obter vantagens significativas para os países em desenvolvimento nas negociações com as nações mais ricas. Par aos especialistas essa visão desconsidera a complexidade das relações internacionais e o risco de retaliações e isolamento, que podem prejudicar muito os interesses do Brasil.
A estratégia de “esticar a corda” tem sido evidenciada em diversas ocasiões, como nas recentes declarações controversas de Lula que colocam em xeque a postura do Brasil como mediador democrático. Ao criticar abertamente países e blocos com os quais o Brasil historicamente buscou manter relações construtivas, Lula arrisca as parcerias estratégicas que podem ser cruciais para o avanço de interesses comuns em fóruns internacionais. Exemplos de declarações incluem o apoio a regimes autoritários, críticas à política externa de aliados tradicionais e posicionamentos que contrariam consensos internacionais, como a solução de dois estados para o conflito Israel-Palestina.
A aposta nos BRICS como mecanismo de pressão sobre as nações mais ricas também, segundo o texto de Gandalini, é questionável, dada a percepção crescente de que o bloco representaria mais os interesses da China em sua disputa de poder com os Estados Unidos do que de fato seria uma plataforma genuína de cooperação Sul-Sul. Essa percepção, aliada à resistência da China e da Rússia a reformas no Conselho de Segurança da ONU — uma das grandes demandas históricas do Brasil —, ilustra os desafios e limitações da estratégia adotada por Lula.
Na estratégia de Amorim, os BRICS devem ser o bloco de pressão sobre os países ricos. Mas, segundo Spektor, o mundo vê os BRICS cada dia mais como “um projeto chinês para disputar poder com os EUA, não para fazer pontes com os ricos, que é a agenda do Lula … “Um ponto pouco notado, diz o professor, é que o Governo Biden já disse explicitamente que apoia uma reforma do Conselho de Segurança da ONU, um pleito histórico de Lula-Amorim. “Quem breca a reforma hoje? A China, que, supostamente, é a nossa principal aliada.”
Segundo o texto, outro ponto de tensão se refere à capacidade do Brasil de se posicionar como um líder democrático no cenário global. As ações e declarações de Lula, que em algumas ocasiões parecem apoiar regimes autoritários ou minimizar questões de direitos humanos, comprometem essa imagem e podem dificultar a formação de coalizões internacionais com base em valores democráticos compartilhados.
O artigo sugere que a diplomacia da corda esticada, ao invés de fortalecer a posição do Brasil como um ator global capaz de negociar concessões significativas em favor do Sul Global, pode na verdade limitar sua influência e capacidade de articulação. A busca por um equilíbrio que permita ao Brasil defender seus interesses sem comprometer relações estratégicas essenciais é crucial. Isso exigiria uma abordagem mais matizada e estratégica, que reconheça os limites do tensionamento e a importância de construir pontes, mesmo em um contexto internacional polarizado.
Robson Augusto, Militar R1, sociólogo, jornalista – Revista Sociedade Militar – Com base em texto publicado no Brazil Journal — https://braziljournal.com/que-diabos-lula-esta-fazendo-o-brasil-e-a-diplomacia-da-corda-esticada/?utm_campaign=later-linkinbio-braziljournal&utm_content=later-41309111&utm_medium=social&utm_source=linkin.bio