O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, declarou estar “profundamente preocupado” com a situação no Haiti. Isso porque, nos últimos dias, o súbito aumento na violência já deslocou dezenas de milhares de pessoas de suas casas e paralisou efetivamente a capital, Porto Príncipe.
O porta-voz de Guterres, Stephane Dujarric, disse a repórteres nesta segunda-feira que a cidade enfrenta uma “situação de segurança em rápida deterioração”.
De acordo com Dujarric, “os bandos armados intensificaram os seus ataques a infra-estruturas críticas durante o fim de semana, incluindo delegacias de polícia e duas penitenciárias”.
O Haiti tem sido atormentado pela violência generalizada de gangues há mais de dois anos, desde o assassinato do presidente Jovenel Moise em julho de 2021. Posteriormente, as diversas tentativas de traçar uma transição política pacífica para o Haiti falharam. Assim, grupos armados de várias facções passaram a lutar para preencher o vazio de poder.
Invasão de presídios
A situação deteriorou-se ainda mais no sábado, quando homens armados invadiram a principal penitenciária de Porto Príncipe. Posteriormente, os invasores atacaram outra prisão próxima, libertando milhares de presos numa operação que deixou várias pessoas mortas.
O governo haitiano declarou estado de emergência na noite de domingo e impôs um toque de recolher noturno de três dias para tentar restaurar a ordem.
No entanto, alguns dos líderes de gangues mais poderosos do Haiti – incluindo Jimmy “Barbecue” Cherizier, que lidera a poderosa aliança de gangues G9 – dizem que o seu objetivo é derrubar o atual presidente.
“[O presidente] Henry não fez nenhum anúncio público nem foi visto desde sexta-feira, quando estava em Nairóbi”, escreveu Renata Segura, vice-diretora para a América Latina e o Caribe do International Crisis Group, um think tank sem fins lucrativos, em um post no redes sociais na tarde de segunda-feira.
“Com uma compreensão já muito tênue do poder, o silêncio de Henry diz muito.”, concluiu Segura.
Alguns líderes da sociedade civil haitiana manifestaram preocupações em torno da perspectiva de intervenção internacional. Os líderes argumentam que a história demonstrou que forças estrangeiras trazem “mais problemas do que soluções” ao país. Contudo, a força policial nacional do Haiti está subfinanciada e mal equipada para responder aos criminosos, que a ONU estima que controlam agora cerca de 80% da capital. Muitos residentes de Porto Príncipe estão desesperados pelo fim da violência, com alguns recorrendo sobretudo à fazer “justiça com as próprias mãos”.