Embora o MARK I britânico tenha sido considerado o pioneiro dos blindados, o FT-17 francês ganhou maior reconhecimento por sua modernidade e eficácia. Este tanque tornou-se um modelo para futuros carros de combate em todo o mundo após a 1ª Guerra Mundial. Até hoje, os blindados em todos os países seguem essencialmente seu revolucionário design, adaptando e aprimorando as tecnologias em constante evolução.
Os veículos blindados desempenharam um papel crucial na 1ª Guerra Mundial, contribuindo significativamente para a vitória dos Aliados contra a Alemanha, apesar de seu uso tardio no conflito. Sua presença e poder de fogo sem precedentes nas trincheiras foram determinantes para o desfecho da guerra.
Projetados e fabricados por Louis Renault da empresa francesa Renault, os FT-17 representaram um avanço significativo na guerra moderna. Com um design compacto e uma torre giratória, eles foram empregados tanto em operações de treinamento quanto em combates reais.
O Renault FT, frequentemente chamado de FT-17, foi o primeiro tanque de produção a apresentar uma torre com armamento completamente giratório, marcando um avanço tecnológico significativo para a época. Seu layout, com compartimento da tripulação na frente, compartimento do motor na parte traseira e armamento principal em uma torre giratória, estabeleceu um padrão que ainda é seguido nos tanques modernos.
Louis Renault iniciou os estudos sobre o veículo após uma visita do Coronel JBE Estienne em dezembro de 1915, que lhe apresentou o projeto. Após algumas hesitações iniciais, Renault concordou em desenvolver o tanque, com o engenheiro Charles-Edmond Serre liderando o projeto. O novo veículo, inicialmente chamado de “char mitrailleuse” (carro com metralhadora), foi rapidamente adotado pelo General Joffre, comandante do exército francês na 2ª Guerra Mundial, com 1.000 unidades encomendadas em novembro de 1916.
O Renault FT foi elogiado durante testes realizados em abril de 1917, persuadindo mesmo os céticos oficiais a apoiarem sua produção em massa. Dos 1.150 tanques encomendados, 650 foram equipados com o novo canhão Puteaux de 37mm e 500 com a metralhadora Hotchkiss de 8mm. As repercussões da Ofensiva Nivelle, quando o Subsecretário Thomas estava fora do país, não afetaram o programa de produção do Renault FT.
O Renault FT, desenvolvido no final da Primeira Guerra Mundial, desempenhou um papel crucial como veículo de assalto, abrindo caminho para as trincheiras inimigas e fornecendo apoio à infantaria. Com um peso de apenas 6,5 toneladas e uma tripulação de dois membros (um comandante-atirador e um motorista), esse carro de combate inovador se destacou pelo seu design com torre giratória, posição das lagartas e motor. Abaixo, um vídeo dos do príodo da 1ª Guerra Mundial, demonstrando suas incríveis capacidades. Para os aficionados, vale a pena dar uma espiada:
https://www.youtube.com/watch?v=5GBsNmEztEs
Além disso, o Renault FT tinha um consumo de combustível bem menor em comparação com outros blindados da época, tornando-o o único transportável por caminhão, o que lhe conferia uma vantagem estratégica em termos de mobilidade. Fabricado em duas versões principais, os modelos “canon” e “mitrailleuse”, equipados com um canhão Puteaux de 37mm e metralhadoras de 7,92mm, respectivamente, o Renault FT atendia a uma variedade de necessidades táticas, desde a destruição de alvos fortificados até a supressão da infantaria inimiga.
A França produziu mais de 3.000 unidades do Renault FT, a maioria delas em 1918. Após o fim da Primeira Guerra Mundial, muitos desses tanques foram exportados para outros países em grande número. Além disso, foram produzidas cópias e variantes derivadas em países como Estados Unidos, Itália, União Soviética e outros, demonstrando a influência e a importância desse desse novo blindado na doutrina militar mundial da época.
https://www.youtube.com/watch?v=GdPb5PCpivE
Projetado e fabricado ao final daquele conflito para “abrir caminho” em direção às trincheiras inimigas, dando cobertura a progressão da infantaria.
A exemplo de outros tanques da I Guerra, era fabricado em 2 versões: os modelos “canon“, com o canhão Puteaux 37mm, que eram utilizados para destruir alvos duros como ninhos de metralhadoras e casamatas, enquanto os modelos “mitrailleuse“, equipados com metralhadoras (de 7.92 milímetros), suprimiam a infantaria inimiga.
Esse blindado valente operou de 1918 a 1945, mas, incrivelmente, ele foi usado na guerra da invasão soviética no Afeganistão de 1979 a 1989 que acabou desencadeando eventos que fizeram a então União Soviética desmoronar.
Emprego
Embora os FT-17 tenham rapidamente se tornado obsoletos com o avanço da tecnologia de tanques, sua introdução estabeleceu um precedente importante para o desenvolvimento das capacidades blindadas do Exército Brasileiro. Mesmo já estando obsoletos na 2ª Guerra Mundial, foram ainda empregados por vários países.
O Brasil incorporou os tanques Renault FT-17 em 1919, logo após o término da Primeira Guerra Mundial, comprando 12 desses blindados da França. Chegaram ao Brasil em 1920 e começaram a operar em 1921, sendo o primeiro FT-17, denominado ´´Guararapes´´ e que completou 100 anos em 2021 e ainda roda, acredite.
Estacionado no pátio do Centro de Adestramento Sul, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, ele recebe manutenção cuidadosa, ao ponto de ligar e rodar, se for preciso. O vídeo abaixo mostra o Renault FT-17 rodando, no alto das comemorações dos seus cem anos de idade. Homenagem ao velho guerreiro de aço:
https://www.youtube.com/watch?v=5Hf0seJg-GQ
Essa aquisição marcou um ponto de viragem nas capacidades militares do país, introduzindo a tecnologia de veículos blindados em suas forças armadas pela primeira vez.
O Renault FT foi comprado pelo Brasil por insistência do futuro Marechal José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, quando este observou a sua utilização em combate na Frente Ocidental na fase final da guerra, em 1918, quando era membro da Missão Aché. José Pessoa era então um tenente comandando o 4º pelotão de dragões – composto de tirailleurs (atiradores) argelinos (apelidados “turcos”) – e observou a ação vitoriosa dos carros franceses operando de forma combinada em batalha. O próprio José Pessoa foi condecorado com a Croix de Guerre 1914-1918 com palma de bronze e a Croix de la Valeur Militaire com estrela de bronze, foi promovido a capitão por bravura e estagiou na escola de blindados franceses em Versalhes.
Ele foi pessoalmente noticiado no jornal Gazeta de Notícias de 5 de novembro de 1918 sobre suas condecorações..
O paraibano Pessoa era sobrinho de Epitácio Pessoa (então presidente da República) e irmão de João Pessoa (que daria nome à capital da Paraíba). Com a entrada do Brasil na Primeira Guerra Mundial, Pessoa foi enviado à França, como oficial da cavalaria. Lá, ele liderou um pelotão do Exército francês e foi condecorado por bravura. Terminado o conflito, ele serviu num regimento de carros de combate em Versailles, onde aprendeu a utilizar o Renault FT-17. Convenceu os superiores a adotarem esse como o primeiro blindado do Exército Brasileiro — algo que não deve ter sido difícil, já que seu tio era o presidente da República.
Pessoa escreveu obras fundamentais sobre a história dos tanques e também foi idealizador e patrono da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende. Em 1953, virou marechal, um dos raros nas Forças Armadas.
Com certeza, o Marechal José Pessoa foi um homem de grande vulto em nossa história.
A família Albuquerque Cavalcanti é de origem quatrocentona na história do Brasil, sendo eles descendentes do famoso ´´Adão Pernambucano´´, Jerônimo de Albuquerque, que iniciaram uma grande prole no nordeste brasileiro com a família do nobre italiano Filippo Cavalcanti. Esses Albuquerque no século XVI eram originários de uma família de judeus espanhois. Uma grande parte do povo nordestino descende desse tronco e a família Cavalcanti é a maior família do Brasil que descende de apenas um Cavalcanti, o italiano Filippo, que chegou em Pernambuco por volta de 1560.
Após uma peregrinação por depósitos franceses, o Capitão José Pessoa conseguiu a compra de 12 carros de assalto Renault FT novos de fábrica em maio de 1919. Estes carros chegaram ao Brasil no início de 1920, e foram depositados no 1º Regimento de Infantaria, no Rio de Janeiro, sendo finalmente liberados ao Capitão José Pessoa apenas em 28 de setembro de 1921, para que este formasse a Companhia de Carros de Assalto conforme o Boletim 223 de 1º de outubro de 1921. Os veículos foram entregues em condição lastimável, como registrado pelo próprio Capitão José Pessoa na publicação “Atestado de Nascimento da Arma Blindada Brasileira”:
“[…] Parece inacreditável – e eu mesmo não o creria si o não tivesse verificado pessoalmente, que o material cuja acquisição nos custou uma soma vultosa – e isso precisamente num momento de aperturas financeiras, como o que atravessamos – estivesse nas condições em que com bastante pesar meu e de todos que me acompanharam, o fui encontrar. De facto nem um só dos carros apresentava indícios de ter sido convenientemente lubrificado depois da sua chegada ao Brasil. Encontrei mesmo, muitos delles, orgãos essenciaes, peças de importancia vital para o seu funcionamento, completamente seccas, ameaçadas de inutilização pela ferrugem, resultado do tempo e da incompetencia ou descuido das mãos a que foram confiados. Outro tanto observei no armamento. Era tal o estado, por exemplo, em que se encontrava uma das metralhadoras, que, mao grado os cuidados que lhe temos dispensados, ainda não a podemos libertar completamente da acção da ferrugem. Aliás, não foi sómente a falta de lubrificação o mao que encontrei nos nossos carros. Além de maltratados, a maior parte delles apresentava avarias graves.”
As avarias
Depois disso, o próprio capitão José Pessoa passa a enumerar uma enorme lista dos defeitos e avarias encontrados nos carros de combate, além de ter se dado conta de sumiço ou furto de peças e sobressalentes.
Os tanques brasileiros eram 6 com torre Girod fundida, armados com canhões Puteaux 37mm , 5 com torres octogonais Berliet, armados com metralhadoras Hotchkiss M 1914 (8mm na França; 7mm no Brasil) e 1 tanque Comando TSF.
No final de 1921 foi criada a Companhia de Carros de Assalto, unidade militar encarregada de operar os Carros de Assalto, como eram chamados os carros de combate no Brasil, naquela época. Os tanques desembarcados no Brasil pintados de marrom escuro.
Em 1925, a Companhia de Carros de Assalto transforma-se em Companhia de Carros de Combate e em 1932, esta companhia foi extinta, sendo os tanques atribuídos ao Batalhão Escola de Infantaria.
Os remanescentes
O blindado Renault FT17 brasileiro foi na verdade vítima de descrédito, desinteresse e repúdio por parte dos oficiais do exército brasileiro, mesmo sabendo de todo seu desempenho e sucesso mundo afora e mesmo tendo ele atuado em vários conflitos e missões no Brasil. O pessimismo e a desconfiança, principalmente por parte de oficiais mais antigos, era notório. Talvez, apegados que estavam a cavalaria tradicional com suas ferraduras.
Não obstante, o Renault FT-17 brasileiro é muito homenageado em museus, apresentações e citações em textos da história e doutrina dos blindados brasileiros.
O Brasil também foi pioneiro em aquisição de blindados na América do Sul. Não a toa, ele está eternizado no brasão do 1º Regimento de Carros de Combate de Santa Maria no Rio Grande do Sul
Renault FT-17
Tipo: Tanque de guerra Leve
Local de origem: França
História operacional
Em serviço: 1918 a 1945+
Utilizadores:
22 países:
Afeganistão Afeganistão
Alemanha Nazista
Bélgica
Brasil
Confederação do Canadá
Espanha
Estados Unidos
Estónia
Finlândia
França
Império Alemão
Irã
Japão
Lituânia
Países Baixos
Polónia
Reino da Iugoslávia
Roménia
Rússia República Russa
Suíça
Turquia
União Soviética
Guerras:
Primeira Guerra Mundial
Guerra Civil Russa
Revolução de 1924
Revolução Constitucionalista
Guerra Civil Chinesa
Guerra do Rife
Guerra Civil Espanhola
Segunda Guerra Mundial
Invasão Soviética do Afeganistão
Histórico de produção:
Criador: Renault Société Anonyme – Delaunay Belleville
Data de criação: 1915-1916
Fabricante: Renault
Quantidade
produzida: 3.694
Variantes:
Char canon
Char mitrailleuse
FT 75 BS
Char TSF
FT modifié 31
Six Ton
Tanque Modelo 1917
Russkiy Reno
Especificações:
Peso: 6,5 t (14 300 lb)
Comprimento: 5 m (16 ft)
Largura: 1,74 m (5,7 ft)
Altura: 2,14 m (7,0 ft)
Tripulação: 2 (comandante-atirador, motorista)
Blindagem do veículo: 22 mm (0,87 in)
Armamento
primário: Canhão de 37 mm (1,5 in) ou metralhadora de 7,62 mm (0,30 in)
Motor: Renault 4 cilíndros gasolina
39 hp (29 100 W)
Peso/potência: 6 hp/ton
Transmissão: deslizante
Suspensão: molas verticais
Passagem de
vau: 0,7 m (2,30 ft)[1]
Obstáculo vertical: 2 m (6,56 ft)[1]
Fosso: 1,8 m (5,91 ft)[1]
Alcance
operacional: (veículo) 65 km (40,4 mi)
Velocidade: 15 km/h (9,32 mph)
Fontes: