O blindado Cascavel tem o nome de uma cobra brasileira, como os outros carros blindados subsequentes brasileiros tem também. Trata-se de animais brasileiros de alta letalidade e por isso simbolizam a força e eficiência dos carros blindados nacionais. O modelo para estes veículos surgiu do contato dos pracinhas brasileiros da FEB (Força Expedicionária Brasileira) na Itália com os blindados americanos. A cobras como símbolos poderiam ser ainda uma alusão nostálgica ao lema dos pracinhas na Segunda Guerra Mundial: ´´A cobra vai fumar´´. Pra quem sabe a origem do lema, de fato a cobra fumou durante e depois da guerra na futura indústria bélica brasileira.
A origem
A história do desenvolvimento do EE-9 Cascavel remonta à Segunda Guerra Mundial. O Brasil enviou uma força expedicionária, conhecida como Cobras Fumegantes, para lutar na Itália ao lado dos Aliados. Durante a Campanha Italiana, as forças brasileiras estavam armadas com US M8 Greyhounds. O M8 Greyhound se tornou o veículo mais querido pelos soldados brasileiros e, após a 2ª Guerra Mundial, esse amor permaneceria incorporado ao Exército Brasileiro. A experiência positiva com o M8 durante a 2ª Guerra fez com que ele fosse o veículo de maior impacto para o desenvolvimento brasileiro de veículos blindados. Como resultado, a maioria dos veículos com rodas e o programa de veículos com rodas remontam às suas raízes ao M8 Greyhound durante a campanha italiana. Esse amor pelo M8 resultou no desenvolvimento do EE-9 Cascavel do Brasil cerca de 25 anos após a 2ª Guerra Mundial, um conceito fortemente melhorado e alterado do M8 Greyhound.
A ERA DOS BLINDADOS NACIONAIS
A década de 70 foi promissora para a indústria brasileira de defesa, especialmente representada pela empresa Engenheiros Especializados S.A (ENGESA), que produziu milhares de viaturas blindadas, mecanizadas e de transportes comercializados no Brasil e em vários países da América Latina, África e Oriente.
Com o envolvimento da Engesa na reforma dos caminhões do Exército com o sistema Total Traction e no desenvolvimento da suspensão Boomerang, ela foi contatada pelo Exército para ajudar no desenvolvimento dos veículos com rodas em conjunto com a equipe do Parque Regional de Motomecanização da 2a Região Militar (PqRMM/2). Desse desenvolvimento conjunto resultaram o EE-9 Cascavel e o EE-11 Urutu. A EE-9 Cascavel abriu caminho para que a Engesa se posicionasse como empresa líder da Indústria de Defesa Brasileira.
Em 1988, a ENGESA produzia 50% (cinquenta por cento) de todas as viaturas blindadas sobre rodas do mundo ocidental, tendo, então, exportado para mais de 20 países
Os grandes sucessos comerciais da ENGESA foram as viaturas blindadas sobre rodas Urutu e Cascavel, ainda hoje operando no Brasil.
Os engenheiros brasileiros desenvolveram o veículo que se tornaria o veículo blindado de combate de maior sucesso já desenvolvido pelo Brasil: o EE-9 Cascavel.
Engesa EE-9 Cascavel M2/M6/M7
História e Desenvolvimento.
Com a experiência na manutenção e atualizações do M8 Greyhound, surge o projeto do Carro de Reconhecimento Médio (CRM). O CRM passou a ser denominado como EE-9 Cascavel, sendo EE uma abreviatura de Engenheiros Especializados S/A, o número 9 a representação de sua tonelagem e Cascavel por ser o nome de uma cobra venenosa brasileira.
A Engenheiros Especializados S.A. (Engesa), então uma obscura empresa de engenharia civil, assumiu o projeto, e em novembro de 1970 um protótipo foi concluído. O novo EE-9 Cascavel entrou na fase de pré-produção entre os anos de 1972 e 1973. As linhas de montagem do Cascavel e do EE-11 Urutu foram abertas em 1974. Os cascos foram comprados pelo Exército Brasileiro, mas foi montado o mesmo canhão de 37 mm e a torre de seus antecessores Greyhounds.
Para competir com armamentos mais formidáveis disponíveis no mercado internacional, a Engesa também comercializou um Cascavel fortemente modificado com transmissão automática e o mesmo canhão 90 mm de baixa-pressão do Panhard AML. Este modelo, destinado à exportação, atraiu o interesse de países do Oriente Médio e vinte foram adquiridos imediatamente pelo Catar.
A venda do Cascavel ao Catar se provou um grande sucesso para a Engesa, e o primeiro sucesso do Brasil no comércio armamentista árabe. Abu Dhabi seguiu o exemplo com uma compra de duzentos Cascavéis em 1977. Iraque e Líbia escolheram o Cascavel ao invés do Panhard AML-90 ou do CEI-90 Sagaie, com os líbios negociando 400 milhões de dólares para a entrega de duzentos Cascaveis. Após a venda para a Líbia, a Engesa revelou um novo modelo de produção carregando um canhão Cockerill belga fabricado sob licença com o nome de CE-90 no Brasil.
O sucesso nacional e internacional do Cascavel se reflete na adoção pelo EB (com 311 unidades) e a exportação para 18 países. Ao todo foram produzidas 1.738 unidades dispostas em 4 versões modernizadas que estão ainda em uso em diversos países no mundo.
Emprego no Brasil
Os primeiros Engesa EE-9 Cascavel M1/M2 começaram a ser distribuídos aos Regimentos de Cavalaria Mecanizada e Esquadrões de Cavalaria Blindada no início do ano de 1971.
O Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil adquiriu também seis unidades em 1977 Modelo 2 Série 5 que foram incorporados a recém-criada Companhia de Carros de Combate (CiaCC), onde iniciaram o emprego operacional de imediato.
Empregados em um grande número de unidades blindadas do Exército Brasileiro, os EE-9 Cascavel seriam destinados a realizar missões além-mar, quando foram destacados a participar de contingentes brasileiros juntos a força de paz da ONU, como a ONUMOZ em Moçambique (1993 a fevereiro de 1994) e UNAVEM III em Angola (1995 a julho de 1997. Nestes dois momentos foram utilizados com sucesso em uma situação real de conflito.
O Cascavel compartilha muitos componentes do EE-11 Urutu, veículo blindado de transporte de pessoal da Engesa; ambos entraram em produção em 1974 e agora são operados por mais de 20 países na América do Sul, África e Oriente Médio. Os Direitos do projeto também foram vendidos para os Estados Unidos através da FMC Corporation. Cerca de 2.767 Cascaveis e Urutus foram fabricados antes da Engesa encerrar suas atividades em 1993.
No Exército Brasileiro, o Cascavel e o Urutu mobiliaram a nova cavalaria mecanizada criada na reorganização dos anos 1970. Todas as brigadas deveriam ter ao menos um esquadrão de cavalaria mecanizada para reconhecimento e segurança, e surgiram regimentos inteiros de cavalaria mecanizada formando, juntamente com a cavalaria blindada, suas próprias brigadas de cavalaria mecanizada. A cavalaria mecanizada é leve e pode operar de forma descentralizada em grandes distâncias, mas depende para isso das estradas, pois é montada em veículos sobre rodas. Ela não tem tanta blindagem e poder de fogo quanto os carros de combate da cavalaria blindada. Cascavéis e Urutus operavam em conjunto nos pelotões de cavalaria mecanizada, complementando um ao outro. Suas semelhanças mecânicas facilitavam a manutenção e logística. Cada pelotão tem dois Cascavéis. 30 organizações militares do Exército operavam o Cascavel em 2021.
Emprego no exterior
As Forças Armadas da Líbia usaram seus Cascavéis com êxito contra tanques egípcios (provavelmente T-54/55 ou T-62) durante a Guerra Líbia–Egito em 1977. Os Cascavéis líbios também entraram em ação no Chade, onde engajaram veículos AML-90 da Legião Estrangeira francesa e fuzileiros navais franceses. Um Cascavel líbio foi capturado pelos franceses na Faixa de Aouzou e está exposto no Museu de Blindados de Saumur, na França. Um número desconhecido destes Cascavéis foi depois doado para a Frente Polisário e Togo, enquanto outros permaneceram em serviço até a Guerra Civil Líbia de 2011. Cascavéis ainda estavam em serviço e entraram em combate durante a Batalha de Sirte em 2016 contra o Estado Islâmico. O Governo de União Nacional de Transição (GUNT) do Chade recebeu cinco Cascavéis da Líbia em 1986. Durante o Conflito entre Chade e Líbia, 79 Cascavéis líbios foram apreendidos ou recuperados na Faixa de Aouzou pelo exército chadiano, que continuam a mantê-los guardados em depósito.
De igual modo, esse incrível blindado Cascavel atuou em muitos conflitos no Oriente Médio nas guerras do Iraque com Irã, Iraque com Kwuait e EUA , Zimbábue, Guerra civil em Moçambique, no Congo, no combate ao narcoterrorismo na Colômbia, ou seja, na América Latina, Oriente Médio e África.
O EE-9 Cascavel foi acolhido por muitos exércitos devido ao seu projeto simplificado e a utilização de componentes já onipresentes na indústria civil. Seu baixo custo quando comparado a outros veículos blindados ocidentais o torna uma compra atrativa, particularmente para nações em desenvolvimento. No auge da Guerra Fria, a natureza estritamente comercial das vendas da Engesa, desprovida de qualquer restrição política de fornecedores, também foi uma alternativa aceitável às armas tanto da OTAN quanto do Pacto de Varsóvia.
Descrição
Todos os EE-9 Cascavéis têm uma disposição semelhante — o motorista fica sentado à frente do veículo à esquerda, as torres ficam normalmente acima do centro, com o motor e a transmissão na parte de trás. O Cascavel Mk II tem uma torre manual, mas todas as variantes posteriores têm giro elétrico. O Cascavel Mk III é equipado com um canhão Engesa CE-90, que é o Cockerill Mk.3 belga licenciado de 90mm, que atira munições Alto Explosivas (High Explosive, HE), Alto Explosiva Anti-Carro (High Explosive Anti-Tank, HEAT) ou Alto Explosiva com Cabeça Esmagável (High Explosive Squash Head, HESH). Uma metralhadora coaxial de 7,62mm também é montada à esquerda do canhão. O CE-90 tem uma elevação de +15° e uma depressão de -9°. Ele não é estabilizado e possui um rudimentar sistema de controle ótico de fogo, que foi atualizado com um telêmetro laser no Brasil. Os últimos Cascavéis produzidos foram equipados com pneus run-flat e uma central reguladora de pressão dos pneus, acessível pelo compartimento do motorista.
Um veículo quadrado, em forma de barco, o EE-9 Cascavel tem um glacis frontal íngreme que se inclina para cima e para trás em direção ao teto horizontal do casco, com recessos para os faróis e uma placa espessa sobre o assento do motorista. Os lados do casco são quase verticais, mas também inclinados para dentro em direção ao teto. Há uma torre baixa e bem arredondada na seção dianteira do casco com um cano longo e cônico e um freio de boca defletor triplo.
O Cascavel teve algumas variantes que alteraram ou modernizaram alguns equipamentos e acessórios como os Cascavéis MK I, II, III, VI, V e o EE-9U Cascavel MX-8.
Atuais operadores e quantidade de unidades
Bolívia: 24, Brasil: 600 (409 operacionais), Burquina Fasso, Burma: 15, Colômbia: 120, Chipre: 126, República Democrática do Congo: 19, Equador: 28, Gabão: 14, Gana, Irã: 150 (35 operacionais), Iraque: 364 (35 operacionais), Líbia: 500 (70 operacionais), Nigéria: 75, Paraguai: 28, Catar: 20, Saara Ocidental, Suriname: 7, Tunísia: 24, Togo, Uruguai: 15 e Zimbabwe: 90 (>10 operacionais e 77 na reserva).
22 países com mais de mil carros operacionais ainda.
Ex-operadores
EE-9 Cascavel do Exército Brasileiro
Tipo: Carro blindado
Local de origem: Brasil
História operacional
Em serviço: 1974–presente
Guerras:
Guerra do Saara Ocidental
Guerra Líbia-Egito
Conflito entre Chade e Líbia
Guerra Irã-Iraque
Guerra do Golfo
Segunda Guerra do Congo
Guerra do Iraque
Conflitos armados em Myanmar
Guerra Civil Líbia
Histórico de produção
Criador: Engesa
Data de criação: 1970
Fabricante: Engesa
Custo unitário: USD $500,000 (novo)
Período de produção: 1974–1993
Quantidade produzida: 1.715
Especificações
Peso: 12 t
Comprimento: 6,29 m (20 ft 8 in)
Largura: 2,59 m (8 ft 6 in)
Altura: 2,60 m (8 ft 6 in)
Tripulação: 3 (comandante, motorista, artilheiro)
Motor: Detroit Diesel 6V-53N 5,2 ml (0,00 020 in) de 6 cilindros refrigerado a água
212 cv (158 kW) a 2,800 rpm
Suspensão: Tração 6×6 Boomerang
Capacidade de combustível: 360 litros
Alcance operacional (veículo): 750 km
Velocidade: 100 km/h
Fontes:
https://web.archive.org/web/20170401055202/http://www.ecsbdefesa.com.br/defesa/fts/IRAQUE2008.pdf
Bastos, Carlos Stephani (21 de Março de 2008). «Iraque 2008 – Blindados EE-9 Cascavel retornam à ativa»
Rosencrans, Aaron (21 de Fevereiro de 2008). «U.S. hands over 35 Cascavels to Iraqi Army» [EUA cede 35 Cascaveis ao Exército Iraquiano] (em inglês). Washington: Defense Imagery.
Bastos, Carlos Stephani (Junho de 2006). «Uma realidade brasileira – As exportações dos veículos militares Engesa» 10ª ed. Revista DaCultura.
Godoy, Robert (1986). «Brazilian hybrid Cascavel for Iraq». Strategic Digest.
Rocha, Major Cezar Marques da (Abril de 1966). «O Carro de Combate Nacional». Exército Brasileiro. A Defesa Nacional. 52 (Nº 606): 119-122.
«El blindado Engesa EE-9 Mk.III “Cascavél” del Ejército Colombiano».