Nesta semana, a Ucrânia repeliu um ataque mecanizado do tamanho de um batalhão na sua frente oriental. Trata-se do primeiro ataque desta escala em cinco meses, o que certamente testou a resiliência das suas defesas. No entanto, especialistas levantaram preocupações que a Rússia esteja aumentando a intensidade de seus ataques à medida que se prepara para uma esperada grande ofensiva.
O ataque russo deste domingo incluiu três dúzias de tanques e uma dúzia de veículos de combate de infantaria. O combate aconteceu em Tonenke, uma aldeia perto de Avdiivka, cidade que a Rússia invadiu no dia 17 de fevereiro. De acordo com um militar ucraniano, ao menos um terço dos tanques e dois terços dos veículos de combate de infantaria foram destruídos.
“O início foi muito bom. Realizamos fogo combinado”, relatou um soldado russo das forças de assalto Storm-Z. “Nas abordagens subsequentes, que duraram até a hora do almoço, o fornecimento de fogo diminuiu para um escasso fogo de artilharia… e então começaram perdas significativas.”
No entanto, o soldado russo observou que o último grupo de veículos a entrar na luta não sofreu perdas, possivelmente indicando que as defesas locais ucranianas tinham se esgotado.
Ordem é não recuar
“Estamos tentando encontrar uma forma de não recuar”, disse o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskyy ao Washington Post, em entrevista publicada dois dias antes da batalha.
De acordo com Zelenskyy, “se não houver apoio dos EUA, significa que não temos defesa aérea, nem mísseis Patriot, nem bloqueadores para guerra eletrônica, nem munições de artilharia de 155 milímetros”.
Cerca de 60 bilhões de dólares em ajuda militar dos Estados Unidos estão paralisados devido a um bloqueio de um grupo legisladores leais ao ex-presidente Donald Trump, que espera regressar ao poder nas eleições de novembro.
A Europa, por sua vez, está tentando cobrir algumas das carências. Uma iniciativa checa buscou um milhão de projéteis de artilharia em todo o mundo, que começariam a ser entregues à Ucrânia este mês. Já a França prometeu sobretudo entregar centenas de veículos blindados.
De acordo com o comandante-em-chefe ucraniano, Oleksandr Syrskii, falando ao Ukrinform, Avdiivka não teria caído se as entregas de ajuda militar ocidental tivessem sido mais constantes. Syrskii disse que os soldados ucranianos estavam em menor número e com menos armas numa proporção de 6:1. No entanto, apesar disso, os russos estavam sofrendo perdas surpreendentes. De acordo com o comandante-em-chefe, 570 tanques, 1.430 veículos blindados e 1.680 sistemas de artilharia russos foram destruídos apenas nos últimos dois meses. A razão desse sucesso seria sobretudo mudanças nas táticas que otimizaram os recursos disponíveis.
Rússia avança lentamente
Embora as forças ucranianas tenham conseguido estabilizar em grande parte a linha da frente após a queda de Avdiivka, a Ucrânia não estava preparada para impedir outra grande ofensiva russa, disse Zelenskyy à emissora norte-americana CBS. De acordo com Zelenskyy, “às vezes, os parceiros ficam muito felizes por termos estabilizado a situação”. No entanto, o presidente ucraniano reforçou que precisa de ajuda o quanto antes.
Contudo, as forças russas continuaram a fazer avanços marginais. Apesar da derrota no domingo, os russos obtiveram ganhos a oeste de Tonenke, sendo inclusive fotografados nos assentamentos de Semenivka e Berdychi, ambos a noroeste de Avdiivka, na segunda e terça-feira.
O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, vangloriou-se numa teleconferência nesta terça-feira de que as forças russas ganharam 403 quilômetros quadrados desde o início do ano.