Sobre governo militar, golpe militar e influência dos militares na política. Há histórias interessantes sobre isso que são desconhecidas de grande parte da sociedade.
Muito se tem escrito e falado sobre o Presidente Getúlio Vargas e muito foi publicado sobre ele, mas o que menos se destacou de sua biografia é que ele foi um militar graduado e chegou à posição de 2º Sargento no Exército.
O Brasil República iniciou sua história com seus dois primeiros presidentes sendo marechais, o marechal Hermes da Fonseca em 1910 e depois, 1964 a 1984, tivemos vinte anos de governo militar com cinco generais presidentes e por último tivemos agora um ex-capitão ocupando o cargo máximo da nação.
Todos esses presidentes foram do corpo de oficiais do Exército Brasileiro e nenhum da Marinha ou Aeronáutica.
Getúlio, porém é o único que foi praça graduado e se tornou o mais famoso presidente da história do Brasil, o que governou por mais tempo: 19 anos. Revolucionou a história do Brasil elaborando leis que beneficiaram o povo a quem deu vários direitos civis e trabalhistas. Por isso, ficou carinhosamente conhecido como ´´pai dos pobres´´.
Teve suas controvérsias também, mas foi, incontestavelmente o mais carismático líder brasileiro que governou o país nos períodos mais turbulentos do século XX, desde o combate ao monopólio oligárquico da política brasileira nas revoluções dos anos de 1930 até o envio de tropas brasileiras para a Itália na Segunda Grande Guerra Mundial.
Getúlio Dornelles Vargas nasceu na cidade de São Borja, Rio Grande do Sul, no dia 19 de abril de 1883. Foi criado em uma família de tradição na política local, era filho de Cândida Dornelles Vargas e do proprietário de fazenda de gado Manoel do Nascimento Vargas. Iniciou seus estudos em sua cidade natal, mas depois da revolução federalista (1893-1894) seu pai, chefe castilhista, levou-o para estudar em Ouro Preto, Minas Gerais.
Durante sua juventude, Vargas optou por seguir a carreira militar, quando tinha apenas 16 anos de idade. Em 1898 ingressou no 6º. Batalhão de Infantaria de São Borja e um ano depois foi promovido a sargento. Em seguida ingressou no 25.º Batalhão de Infantaria de Porto Alegre.
Aos 18 anos, no entanto, ainda na Escola Preparatória e de Tática de Rio Pardo (1900-1902), foi desligado com outros 19 alunos por ter se solidarizado com alguns colegas que haviam sido expulsos por um incidente disciplinar. Foi desligado da corporação, mas retornou ao Exército em 1903, quando uma crise entre Brasil e Bolívia despontou.
Foi com a patente de sargento que Getúlio apresentou-se voluntariamente ao comandante e partiu para Corumbá, no estado do Mato Grosso na Coluna Expedicionária do Sul, mas não chegou a entrar em combate, pois a questão foi resolvida pela diplomacia do Barão do Rio Branco.
Foi transferido para Porto Alegre, a fim de terminar o serviço militar como 2º Sargento, onde conheceu os cadetes da Escola Militar de Porto Alegre, Eurico Gaspar Dutra, que seria presidente do Brasil entre 1946 e 1951, depois do mandato do próprio Getúlio e Pedro Aurélio de Góis Monteiro que foi Ministro da Guerra de Getúlio. Ambos se tornariam ministros de Getúlio.
Sua passagem pelo Exército Brasileiro e a origem militar (seu pai lutou na guerra do Paraguai) seriam decisivos na formação de sua compreensão dos problemas das forças armadas, e no seu empenho em modernizá-las, reequipá-las, mantê-las disciplinadas e afastá-las da política, quando chegou à presidência da república.
Afinal, em dezembro, após dar baixa do Exército, entrou para a Faculdade de Direito de Porto Alegre, onde se graduou em 1907.
Vargas, o pai, de cabo de esquadra a general de brigada
Manoel do Nascimento Vargas, pai de Getúlio, nasceu em 25 de Novembro de 1844 em Passo Fundo, na província do Rio Grande do Sul. Era um dos 14 filhos de Evaristo José Vargas, participante da Revolução Farroupilha como soldado voluntário da República Riograndense, natural de Encruzilhada, e sua esposa Luísa Maria Teresa Vargas, de Rio Pardo.
Em 1865, com a convocação militar geral no início da Guerra do Paraguai, Vargas partiu de Passo Fundo para alistar-se no Exército Imperial, na graduação de cabo, juntando-se ao 28º Corpo Provisório de Cavalaria da Guarda Nacional, sediado em São Borja.
Poucos meses depois, durante uma missão de reconhecimento, testemunhou a pilhagem de estâncias após invasão da São Borja pelo exército paraguaio, e em 25 de junho de 1865 teve seu batismo de fogo na Batalha do Butuí. Vargas participou de um total de 21 combates, incluindo a Batalha de Tuiuti, a maior da guerra, e a batalha final em Cerro Corá.
Tendo iniciado o conflito como cabo e encerrado como tenente-coronel, recebeu reconhecimento como herói de guerra.
Após a guerra, Manuel Vargas deixou o exército e estabeleceu-se como estancieiro em São Borja, onde se casou em 1872 com Cândida Dornelles, oriunda de uma família proeminente da região. Tiveram cinco filhos: Viriato, Protásio, Getúlio, Espártaco e Benjamim.
Por volta de 1884, Vargas já liderava o clube republicano de São Borja e a campanha abolicionista na cidade.
Com a proclamação da República em 1889, Manuel Vargas tornou-se o líder do Partido Republicano Riograndense (PRR) em São Borja. Em 1893 teve início no Rio Grande do Sul a Revolução Federalista, uma guerra civil contra Júlio de Castilhos, governador do estado. Como partidário de Júlio de Castilhos, Vargas retornou ao exército para participar da supressão da revolta.
Foi ferido na Batalha de Passo Fundo em julho de 1894 e chegou a enfrentar tropas rebeldes comandadas por seu próprio cunhado, Dinarte Dornelles, o que criaria dentro da família uma histórica contradição entre “chimangos” (republicanos) e “maragatos” (federalistas). Durante a revolução foi promovido à coronel pelo então presidente marechal Floriano Peixoto, e por fim à general de brigada pelo sucessor Prudente de Moraes.
Vargas adquiriu notoriedade militar e política com a vitória do PRR sobre os federalistas. Em 1907 foi nomeado intendente municipal (equivalente ao atual prefeito) de São Borja pelo governador Borges de Medeiros, cargo que ocupou até 1911.
Diríamos hoje que o jeitão de sargentão de Getúlio Vargas não era à toa, pois foi filho de um cabo que chegou a general e neto de um soldado que lutou na Revolução Farroupilha.